Os dados levantados pelo IMDS mostram que as condições de vida forçam a permanência no CadÚnico, e são agravadas para um perfil específico: as mulheres negras chefes de família. Valdizia Moreira, de 52 anos, vive de perto essa realidade todos os dias. Mãe de três jovens, dois deles com deficiência, ela sobrevive como catadora de latinhas e é beneficiária dos programas do governo desde 2003, época em que foi criado o Bolsa Família.
Abandonada pelo ex-marido, Valdizia ainda conta com a ajuda da comunidade em que vive, no bairro Lagamar, para manter aluguel, água, luz e alimentação, já que ela e a filha do meio, de 21 anos, conseguem somente "bicos" para complementar a renda. Responsável por cuidar de um filho autista e outro esquizofrênico com problemas no coração, ela desabafa: "O pai deles me deixou porque disse que eu só tinha filho problemático. Tentei aposentar os meninos, não consigo trabalhar com dois filhos especiais e não tem com quem deixar eles, ninguém tem paciência, mas tá difícil conseguir. A gente vê as notícias na televisão, vê como o governo tá, não quer mais aposentar nem os idosos que contribuíram. Já falaram muito que eu tive filho especial só pra aposentar, sendo que eu nunca nem consegui".
Valdizia chegou a trabalhar como manicure, mas perdeu a clientela para os salões que abriram na região. Dos R$400 que recebe pelo Auxílio Brasil, R$380 vão para o aluguel da casa onde mora. O que sobra é somado com a venda de latinhas, a ajuda que recebe da igreja, o dinheiro que a filha ganha com faxinas e as doações do projeto "Ser Ponte", que garante renda básica a famílias chefiadas por mulheres em Fortaleza.
"É muito apertado. É gás, é medicação, tem que se virar nos 30 pra botar comida no prato dos filhos. As pessoas perto de mim acaba julgando, mas quem não passa por isso vai sempre falar. Quando a gente bota filho no mundo a gente quer o melhor pra ele", relata.