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A busca por uma oportunidade
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A busca por uma oportunidade

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ÍRIS Victoria Becker, jovem aprendiz administrativo (Foto: Assessoria TIM)
Foto: Assessoria TIM ÍRIS Victoria Becker, jovem aprendiz administrativo

Em um mercado de trabalho marcado pela discriminação, Íris Victoria Becker levou quatro anos de busca até conseguir uma oportunidade de trabalho formal no setor administrativo da TIM, em Recife, por meio de um dos programas de diversidade e inclusão da empresa.

Com formação técnica em logística e design, a jovem pernambucana conta que mesmo a realização de estágio durante a formação foi dificultada pelas barreiras sociais em relação à comunidade trans.

"Eu sempre trabalhei, mas eram sempre subempregos, um cargo que ninguém mais queria, um serviço que mais ninguém aceitava. E sempre com um salário menor do que deveria ser pago, não chegava nem a um salário mínimo", relata.

Com um riso marcado por lembranças, Íris brinca ao se definir como uma "faz tudo" e comenta dos casos de violência que sofria enquanto buscava emprego.

"Já teve caso de eu chegar em uma seleção e me falarem que a vaga já estava preenchida, mas eu ouvir eles chamando outras pessoas para seleção logo depois", relata.

O sentimento de exaustão aumentava à medida que a busca seguia sem resultados e desencorajava qualquer tipo de denúncia. A jovem conta que em uma das situações viu o momento em que a recrutadora de uma empresa jogou o currículo de outras candidatas trans no lixo assim que elas haviam entregue.

"Eu já estava tão desesperada e sem tempo que nem pensei em denunciar ou tentar buscar justiça de alguma forma. É um processo lento e que poderia não ter resultado algum. Sei que deixar de lado não é o certo, mas a gente já fica tão cansada de lidar com isso todo dia que eu só segui a busca por uma oportunidade", destaca.

Além da formação técnica, Íris acumula experiência como vendedora, com atendimento ao público e até com carga e descarga de mercadorias. "Eu já fiz de tudo, até trabalhei carregando peso em lojas, estoque, sempre na luta pela sobrevivência. A gente não tem um amparo específico, mesmo na defensoria pública, as pessoas nos olham e dizem que isso não vai dar em nada. Ter um emprego é o mínimo do mínimo, nós só queremos trabalhar, ter nossa dignidade."

Íris comenta ainda que a oportunidade de trabalho representa muito mais do que a independência financeira para pessoas trans e para travestis. "Pode literalmente ser questão de vida ou morte, evita tantos problemas, muitas de nós são expulsas de casa e precisam recorrer a prostituição para tentar ter onde morar ou o que comer", acrescenta.

Atualmente Íris cursa Administração na Ampli, com apoio da TIM, e ganhou ainda uma bolsa integral para cursar direito na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Com intercâmbio de 6 meses no Canadá pelo projeto Ganhe o Mundo, promovido pelo Governo do Estado de Pernambuco, no currículo, Íris sonha em amparar à comunidade trans com sua atuação profissional.

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