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Ataque em escola de Sobral: como prevenir o bullying em sala de aula
Reportagem

Ataque em escola de Sobral: como prevenir o bullying em sala de aula

Psicóloga e doutora em Educação, Ticiana Santiago explica como prevenir e combater essas práticas de intimidação sistemática no ambiente escolar
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Instituições de ensino têm de estar atentas aos sinais de bullying e oferecer escuta especializada (Foto: Freepik)
Foto: Freepik Instituições de ensino têm de estar atentas aos sinais de bullying e oferecer escuta especializada

Três adolescentes foram baleados na manhã desta quarta-feira, 5, em ataque a escola de Sobral, a 234,8 km de Fortaleza. As vítimas foram levadas ao hospital, uma delas em estado grave. Em depoimento, o suspeito de ato infracional análogo à tentativa de homicídio, um jovem de 15 anos, afirmou que premeditou a ação porque era vítima de bullying.

O bullying é caracterizado por ações verbais, morais, virtuais, sexuais, sociais, psicológicas, físicas e materiais com objetivo de depreciar ou constranger alguém. É uma prática comum e nociva vista recorrentemente em ambientes escolares.

De acordo com a psicóloga e doutora em Educação Ticiana Santiago esse trabalho deve ser feito de forma sistêmica e envolver todos que compõem a realidade da comunidade escolar. “Para esse público tem que ser pensadas metodologias participativas, debates, ações psicoeducativas, jogos gincanas, filmes, músicas, não só em torno de conteúdo, de uma instrução sobre isso, de informações, mas de vivências, experiências, dinâmicas e saberes interdisciplinares diante desse contexto”, indica.

Para isso, é necessário que esta estratégia aconteça de forma orgânica e esteja contida no projeto político-pedagógico da escola. Isso não deve acontecer somente em momentos pontuais, ou por iniciativa de um professor, mas ser parte da realidade cotidiana da escola.

Ticiana explica também que, durante o período da adolescência, os alunos precisam de leis, limites, interdições e regras das convivência social.

No entanto, para a profissional, por mais que a lei brasileira descreva a escola como um lugar referenciado de desenvolvimento humano e proteção social, esse assunto ainda não é abordado de maneira ideal nas escolas.

Ela pontua que há poucos profissionais de psicologia, psicopedagogia e serviço social nas escolas. Além disso, os professores, mesmo que bem intencionados, em geral têm pouca preparação para identificar casos de comprometimento da saúde mental e fazer o encaminhamento necessário em tempo hábil.

No ambiente escolar, é necessário identificar esses marcadores e oferecer recursos para que essa dor, violência, revolta e conflito possam ser trabalhados. “Quando isso não é ouvido, não é trabalhado, é como se você reverberasse e ampliasse essa dor”, coloca ela.

Assim, a orientação é buscar entender por que esses jovens estão apresentando esses comportamentos e evitar a personificação dos atos nos indivíduos que os cometem.

Para combater a violência no ambiente escolar, é preciso entender que essas ações fazem parte de um contexto social. “A nossa sociedade está tendo dificuldade de lidar com seu repertório socioemocional”, relata Ticiana.

Para Ticiana, jovens que têm redes de apoio e de escuta têm mais facilidade em ressignificar a experiência do bullying e pensar em formas de não internalizar essa dor.

No entanto, o jovem que não encontra esses mecanismos de apoio pode “se transformar potencialmente de vítima a abusador". "Não é em todos os casos, mas tem uma propensão maior de reverberar esse ciclo de violência perversa”, descreve ela.

Diante de casos em que essa violência se concretiza, ela ressalta a importância de a instituição estar atenta a esses marcadores e oferecer escuta especializada, inclusive para os adolescentes que acompanharam e que presenciaram esses acontecimentos, para que eles não desenvolvam síndrome do pânico e outros transtornos de ansiedade.

“É importantíssimo que sejam oferecidos trabalhos tanto para quem cometeu o bullying como para quem sofreu o bullying e para a comunidade escolar como um todo de forma preventiva, para que isso não inspire outros adolescentes”, argumenta a psicóloga. (Colaborou Davi Lima / Especial para O POVO)

Ataque em escolas - Casos recentes no Brasil

Salvador (BA), 2002 - Estudante de 17 anos matou uma colega e feriu outra a tiros

Taiúva (SP), 2003 - Estudante de 18 anos disparou 15 tiros contra cerca de 50 estudantes. A única morte foi do atirador, que se suicidou

Realengo (RJ), 2011 - Maior massacre em escolas brasileiras até então, a tragédia em Realengo deixou 12 adolescentes mortos, além do atirador, um ex-aluno de 23 anos

São Caetano do Sul (SP), 2011 - Um estudante de 10 anos atirou na professora e se matou em seguida

João Pessoa (PB), 2012 - Dois jovens invadiram o pátio da escola, atiraram em três garotas, atingindo duas. Motivo do crime teria sido ciúme

Suzano (SP), 2019 - Um adulto e um adolescente invadiram escola oito pessoas e deixaram 11 feridos. Um dos atiradores acabou matando o comparsa e depois cometeu suicídio.

Goiânia (GO), 2017 - Um adolescente de 14 anos matou a tiros dois colegas e feriu outros quatro. Motivo seria bullying

Medianeira (PR), 2018 - Um estudante de 15 anos baleou dois colegas na escola. Bullying foi citado como motivo.

Saudades (SC), 2021 - O ataque em Saudades deixou cinco pessoas mortas, quando um rapaz de 18 anos invadiu uma creche do município com um facão. Duas funcionárias e três bebês foram assassinados

(Com Agência Estado)

 

 

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