Em novembro de 2019, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixava a prisão em Curitiba. Em liberdade após 580 dias preso, o ex-presidente prometia ali "percorrer o Brasil", dizendo ter "vontade de provar que este país pode ser muito melhor". Pouco mais de três anos depois, Lula subiu ontem a rampa do Planalto pela 3ª vez em vinte anos, abrindo novo ciclo com promessa de responsabilizar erros de Jair Bolsonaro (PL), mas negando "revanchismo".
"Fiz questão de dizer ao longo de toda a campanha: o Brasil tem jeito. E volto a dizer com toda convicção, mesmo diante do quadro de destruição revelado pelo Gabinete de Transição: o Brasil tem jeito. Depende de nós, de todos nós", disse o novo presidente do Brasil logo após a posse, reforçando a promessa de anos atrás em Curitiba.
Batizada de "Festival do Futuro", a cerimônia de posse reuniu artistas e dezenas de milhares de pessoas em Brasília, contrariando ameaças de conflitos com bolsonaristas que protestam desde outubro contra o resultado das urnas. A própria chegada de Lula ao ato rejeitou o clima de tensão, com o presidente desfilando em automóvel aberto - o tradicional Rolls-Royce cerimonial - em vez do veículo blindado sugerido pela equipe de segurança.
"Sob os ventos da redemocratização, dizíamos: ditadura nunca mais! Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: democracia para sempre!", disse Lula para a multidão em Brasília. "Para confirmar estas palavras, teremos de reconstruir em bases sólidas a democracia em nosso País. A democracia será defendida pelo povo na medida em que garantir a todos e a todas os direitos inscritos na Constituição", emendou.
Após a posse, Lula conduziu primeiro ato como presidente em exercício, assinando a nomeação de 37 ministros - incluindo a refundação de pastas como os Ministérios da Cultura e das Mulheres, além de uma série de novos órgãos. "Não é admissível que negros e pardos continuem sendo a maioria pobre e oprimida. Criamos o Ministério da Promoção da Igualdade Racial para ampliar a política de cotas, além de retomar as políticas voltadas para o povo negro e pardo na saúde, educação e cultura", destacou.
Lula também assinou medidas provisórias revogando uma série de medidas de Jair Bolsonaro, incluindo decretos que ampliaram o acesso a armas para a população. "Estamos revogando os criminosos decretos de ampliação do acesso a armas e munições, que tanta insegurança e tanto mal causaram às famílias brasileiras. O Brasil não quer mais armas; quer paz e segurança para seu povo", afirmou.
O presidente também fez uma série de duras críticas à gestão do antecessor, destacando diagnóstico "estarrecedor" da equipe de transição. "Esvaziaram os recursos da Saúde. Desmontaram a Educação, a Cultura, Ciência e Tecnologia. Destruíram a proteção ao Meio Ambiente. Não deixaram recursos para a merenda escolar, a vacinação, a segurança".
Neste sentido, Lula destacou sobretudo a volta de índices da fome e da miséria no País, além do grande número de mortos durante a pandemia de Covid-19. "Este paradoxo só se explica pela atitude criminosa de um governo negacionista e insensível à vida. As responsabilidades por este genocídio hão de ser apuradas e não devem ficar impunes. O que nos cabe, no momento, é prestar solidariedade aos familiares de quase 700 mil vítimas".
Apesar das críticas, o presidente destacou não possuir "ânimo de revanche" contra Bolsonaro e seu governo. "Quero me dirigir também aos que optaram por outros candidatos. Vou governar para os 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para quem votou em mim", disse, mas destacou: "Vamos garantir o primado da lei. Quem errou responderá por seus erros".