A vítima mais jovem de uma intervenção policial no Estado, desde 2013, é José Isaque Santiago da Silva, de 6 anos. A criança foi morta na comunidade do Urubu, no Bom Jardim, em Fortaleza, na tarde de 25 de abril de 2018. O caso ocorreu após PMs receberem a informação de que uma mulher, conhecida por guardar armas para membros de facção, estava escondida em uma casa.
No local, os policiais se depararam com Francisca Antônia Neco Santiago, que, conforme os PMs, segurou José Isaque, seu sobrinho, quando viu os policiais e passou a atirar contra eles. Houve revide e a criança foi baleada, tendo vindo a óbito em um hospital. Na ação, uma mulher de 55 anos também foi atingida.
Conhecida como "Chica", Francisca Antônia chegou a ser denunciada pelo homicídio de José Isaque, já que teria assumido o risco de causar-lhe a morte, e pela tentativa de assassinato dos PMs. Entretanto, foi absolvida em 2019.
Em depoimento, ela confessou ter atirando contra policiais, mas apenas o teria feito por confundí-los com membros de facção rival, já que os PMs entraram na casa encapuzados, sem se identificar e após terem agredido a companheira dela.
Além disso, ela negou que tenha feito o sobrinho de escudo, o que foi corroborado por testemunhas. Diante dessas circunstâncias, "era legítimo" pensar que os policiais poderiam ser membros de uma facção criminosa rival, assinalou na decisão de absolvição o juiz Antonio Carlos Pinheiro Klein Filho.
Assim, o juiz determinou a apuração apenas do crime de posse irregular de arma de fogo em desfavor de Francisca Antônia. Além disso, ele determinou o envio de cópia dos autos à Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) para apuração da conduta dos policiais envolvidos na ocorrência. Até hoje esse inquérito segue em andamento.
Na seara administrativa, porém, o policial militar que efetuou o disparo foi absolvido.
Por outro lado, a mãe de José Isaque obteve na Justiça direito de indenização por danos morais.
Além de José Isaque, dois menores de 14 anos foram mortos por intervenção policial no Ceará desde 2013. Com 12 anos, Kauã Viana Sales, é a segunda vítima mais jovem. Ele foi morto após o pai ter tentado furar, de carro, um bloqueio policial em Caucaia, em setembro de 2020. O caso segue em fase de inquérito policial.
A outra criança vítima de intervenção policial é Mizael Fernandes da Silva Lima, de 13 anos, morto em 1º de julho de 2020, em Chorozinho. O PM Enemias Barros da Silva é réu pelo crime e aguarda julgamento.