Em um estado pobre como o Ceará, que representa apenas 2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, as políticas de desenvolvimento regionais são bem-vindas.
Neste quesito, destaca-se o microcrédito para pequenos negócios, que incluem os produtores rurais, e que faz a diferença na qualidade de vida da população.
Um dos indutores deste crescimento é por meio do Banco do Nordeste (BNB) que, somente neste ano, prevê a liberação de R$ 4,46 bilhões no programa de Microfinança Rural, Agroamigo, para a Região e norte dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
Apenas para o Ceará, a quantia destinada para o mesmo programa é de R$ 556 milhões.
Para se ter ideia do crescimento esperado, em 2022, o valor contratado foi de exatos R$ 467.161.745,51, o que já representava aumento de 28,41% considerando igual período do ano anterior, com R$ 363.790.190,70.
O histórico mostra que o aporte se acumula, de 2017 até 2022, em redondos R$ 1.957.098.965,51. Sendo que a maior quantia foi aportada no ano passado.
Mais que números, a ideia central do Agroamigo é melhorar o perfil social e econômico dos agricultores enquadrados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) das regiões onde o banco atua.
Para Marcos José da Silva Icety, gerente do escritório Regional do Agroamigo no Ceará, que cuida de 60% da jurisdição no Estado do Agroamigo, a perspectiva é positiva em relação às metas do ano.
"Temos uma expectativa muito boa para o ano de 2023. Claro que é um ano desafiador devido aos aumentos de metas e da própria mudança de governo. A gente sabe que é um governo muito voltado para essa visão do microcrédito rural. Tanto o Federal como o Estadual, tem muito essa pegada de agricultura familiar e vemos isso como uma oportunidade."Marcos José da Silva Icety, gerente do escritório Regional do Agroamigo no Ceará
A visão dele de melhora vem também depois de uma dura pandemia, quando o valor contratado sofreu uma queda, mas retomou com bons patamares de contratação em 2022.
É por isso que, segundo o gerente do Banco do Nordeste, a estimativa para o aumento desse ano é na casa dos 10%.
Dentre as modalidades disponíveis no programa, o Agroamigo Crescer é o voltado para agricultores enquadrados no grupo B do Pronaf, com renda bruta anual até R$ 23 mil, e que tenham o Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF) válida.
Já o Agroamigo Mais é para agricultores enquadrados no Grupo Variável do Pronaf, com faturamento anual máximo limitado a renda ou a receita bruta anual estabelecida para a microempresa.
Na cartela de possibilidades, há ainda o programa que incentiva a contratação de energia solar, gerando maior competitividade no campo com o Agroamigo Sol, bem como financiamento de itens para melhoria da conectividade no meio rural com o Agroamigo Net.
Neste contexto de múltiplos incentivos desponta o polo do Vale do Jaguaribe com trabalho forte no Estado para a cultura da pecuária de leite, puxada pela Betânia.
“Temos visto algumas outras culturas chegando lá como a fruticultura que vem muito forte. Além da chegada também da criação de camarão em cativeiro”, detalha o gerente.
Outro polo que tem se destacado de maneira positiva é o do Cariri. A pecuária tanto leiteira como de corte chamam a atenção na região, com ênfase para os suínos.
“Lá tem muitas atividades, pois a agricultura familiar compreende multiatividades. É um sistema interligado, às vezes, num mesmo espaço ele cria galinha caipira e num mesmo sistema tem criação de tilápias e produz um pouco de cada coisa”, conta.
Um terceiro exemplo que segue com bons resultados fica no Norte do Estado, principalmente na Serra da Ibiapaba, com horticultura muito forte, destacando-se pimenta e batata doce.
Entre as novidades para este ano, Icety conta que estão sendo desenvolvidos pilotos para avançar no limite de créditos. “Ainda não consigo estimar o teto, mas estamos pilotando para implantar isso no segundo semestre”.
Com apenas um ano e meio de vida, a Sereno Cacau nasceu em Tianguá, região da Serra da Ibiapaba.
A fábrica, 100% cearense, é uma empresa de pequeno porte e a primeira “Bean To Bar”. Ou seja, que compra e usa grãos de cacau de "origem ética" para fazer chocolate integral de qualidade, resultando na barra adquirida pelo consumidor.
Em suma, o termo se refere a uma cadeia produtiva curta e cujo acompanhamento da empresa é realizado em todo o processo do chocolate. Além disso, há uma relação diferente com os produtores, pagando-se um valor mais alto para quem está envolvido no plantio e na colheita.
Idealizada pelo empresário cearense Bruno Freitas, a produção utiliza lotes rastreáveis de cacau do Sul da Bahia.
A fabricação atual chega a 800 quilos de chocolate por mês, distribuídos por todo o País, além de negociação em andamento com clientes do Canadá e dos Estados Unidos.
Ele revela que foi a possibilidade de crédito com o Banco do Nordeste (BNB) que tornou a instalação do processo fabril possível.
“Temos uma relação de parceria com o banco para sempre buscarmos novos créditos para nossos produtos e melhorias de tecnologia da fábrica. Até agora, os que foram concedidos estão sendo fundamentais no gerenciamento de desenvolvimento de produtos.”
Para os próximos passos da marca, o empresário destaca que mais linhas de crédito serão necessárias. Ele comenta que, atualmente, o trabalho está voltado para a abertura da loja modelo, em Tianguá, e mais cinco estabelecimentos em outros locais até o fim deste ano.
Além disso, a marca, no ano passado, licenciou produtos dos times do Clássico-Rei (Fortaleza e Ceará) e do Cruzeiro, de Minas Gerais. “Agora, nossa expectativa é ampliar este número para sete clubes do Sudeste, ainda este ano”, diz.
A região da Ibiapaba, onde está localizada a Sereno Cacau, possui três agências do BNB, em Tianguá, São Benedito e Viçosa do Ceará.
O gerente da agência de Tianguá, Porfírio Almeida, destaca que, para este ano, a meta de volume de crédito, somando as linhas em geral, o Crediamigo e Agroamigo, é em torno de R$ 80 milhões.
Somente em 2022, segundo ele, o Crediamigo realizou mais de três mil operações, com um valor de R$ 27,2 milhões. Já o Agroamigo atendeu 1,8 mil clientes, com um valor de R$ 11,7 milhões.
O gerente também comenta que a prioridade dos recursos destinados do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) - cerca de R$ 34 bilhões - é o crédito para o micro, mini e pequeno empreendedor.
“Se houver, em algum momento, uma demanda muito grande de pedidos de crédito, é para este público que não podemos deixar faltar. O banco pode deixar de emprestar para o grande, mas para eles (pequenos empreendedores) não. Para os grandes, o BNB possui e busca outras fontes de recursos, quando necessário", finaliza.
Icapuí tem atraído há anos pequenos produtores rurais que sustentam suas famílias com a agricultura familiar solo ou em parceria com grandes empresas locais, como hoje a multinacional Agrícola Famosa.
Instalada na região, em 1995, a empresa está entre as gigantes de exportação de frutas do mundo e é a maior produtora de melão do Brasil, empregando quase 8 mil pessoas diretamente.
Atualmente, exporta melões e melancias para Inglaterra, Holanda e Espanha, maior parte, e também para os Estados Unidos, Oriente Médio e Canadá.
O sócio-fundador da Agrícola Famosa, Luiz Roberto Barcelos, recorda que o desenvolvimento regional de Icapuí é muito positivo.
"Depois que a Famosa chegou a Icapuí, transformou aquela região, gerando emprego, trazendo renda, circulando mais dinheiro nos municípios onde atua. O comércio tem suas atividades aquecidas, assim como o setor de serviços e profissionais como médicos, advogados, dentistas."Luiz Roberto Barcelos, sócio-fundador da Agrícola Famosa
Isso acontece porque a empresa ajuda os pequenos produtores locais. Muitos deles, durante o período de seca, não têm suas áreas irrigadas e vão trabalhar na Famosa para adquirir conhecimento na parte de adubação, irrigação, controle de manejo.
Assim, acabam assimilando essas tecnologias das grandes empresas e levam, de certa forma, para sua produção local.
Sobre o incentivo para o desenvolvimento local, outro ponto que impulsiona é a presença de bancos nacionais como Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, que liberam créditos na região para os agricultores.
Mas quem tem foco na economia regional, apoiando e estimulando o setor produtivo e o empreendedorismo local é o Banco do Nordeste, que atua em Icapuí e adjacências por meio da Agência de Aracati (distante 50 km do município).
O olhar em especial vai para os micros e pequenos empreendedores, por meio do microcrédito urbano, rural e agricultura familiar.
Neste contexto, o gerente da agência local do BNB, José Marcelo Almeida Santos, detalha que os clientes do segmento de microcrédito da região, na sua maioria, desenvolvem pequenos negócios voltados ao setores de serviço, comércio, turismo, artesanato, cajucultura, pesca artesanal, agroindústria, beneficiamento de castanha e atividades agrícolas e pecuárias.
Para se ter ideia, no ano passado, foi aplicado na Região, pelo o BNB, o montante de R$ 78,47 milhões, sendo os empreendedores de pequeno porte, microcrédito urbano e rural os maiores beneficiados.
Com aporte da ordem de R$ 53,47 milhões, por meio do Crediamigo e Agroamigo, o destaque foi para o município de Icapuí que teve o montante aplicado de R$ 17,8 milhões.
Para 2023, há previsão de injeção na região de R$ 102,6 milhões, nas atividades que integram o setor produtivo, dos municípios de Aracati, Fortim, Icapuí e Itaiçaba.
Entre as linhas de crédito estão disponíveis quantias de investimento em empresas e produtores rurais de médio e grande porte, financiando desde a implantação, ampliação, reforma, aquisição de máquinas, equipamentos, capital de giro associado ou custeio.
“Ou seja, financiamento voltado para todo setor produtivo e empreendimentos que possam contribuir na geração de emprego/renda e crescimento/desenvolvimento da economia regional, atendendo à regulamentação da fonte de financiamento Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE)”, explica Santos.
Apicultura, ovinocultura, pesca, fruticultura, energia solar, entre outras. As oportunidades para acessar o microcrédito são vastas e vão além do acesso pelos bancos.
O fato é que este tipo de financiamento é considerado por Marco Aurélio Cesar de Vasconcelos, coordenador executivo do Fundo Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar (Fedaf) da Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA), um poderoso fomento à agricultura familiar.
"Sem acesso a financiamento, os trabalhadores rurais não têm como dar vazão às suas capacidades produtivas. Nesse sentido, por meio da Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA), o Governo do Estado criou em 2008 o Fundo Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar (Fedaf)."Marco Aurélio Cesar de Vasconcelos, coordenador executivo do Fundo Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar (Fedaf) da Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA)
E é por meio de uma política de editais que o fundo dá suporte ao setor, potencializando esses pequenos empreendimentos de natureza familiar, por meio de crédito rural, envolvendo recursos subvencionados para quem tem Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP, hoje CAF).
Somente no último edital, lançado em 2022, foram disponibilizados empréstimos no valor médio de R$ 30 mil para 150 agricultores, totalizando R$ 4,5 milhões.
Em todo seu período de existência, para se ter ideia, o Fedaf já financiou mais de R$ 20 milhões em empréstimos, onde o agricultor tem carência para começar a pagar e rebate no pagamento do valor total caso honre as parcelas até o vencimento.
"É uma política pública digna de nota que merece todo apoio e reconhecimento por parte da sociedade cearense, em especial aos que vivem nas zonas rurais”, afirma Vasconcelos.