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Escândalos de pedofilia desafiam a Igreja
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Escândalos de pedofilia desafiam a Igreja

| Religião | Investigação solicitada pelo próprio clero em Portugal revela o alcance de abusos sexuais cometidos por integrantes da Igreja ao longo de décadas. Casos se somam a outras descobertas ao redor do mundo e pressionam o atual papa, como fizeram com o antecessor
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Igreja: escândalos de pefofilia (Foto: CARLUS CAMPOS)
Foto: CARLUS CAMPOS Igreja: escândalos de pefofilia

Na última semana, uma investigação independente realizada a pedido da própria Igreja Católica expôs a dimensão de um dos maiores escândalos de pedofilia já constatados com a chancela da instituição religiosa. Pelo menos 4.815 crianças e adolescentes foram abusadas sexualmente por membros do clero católico de Portugal de 1950 até os dias atuais.

A verificação percorreu décadas e vasculhou aspectos obscuros da cúpula da religião em Portugal, situação ainda mais delicada por se tratar de um país de mais antiga e arraigada tradição católica no mundo — com influência determinante para a formação da sociedade e da fé no Brasil.

Centenas de vítimas foram ouvidas nas investigações. "Os testemunhos nos permitem chegar a uma rede de vítimas muito mais ampla, calculada em um número mínimo de 4.815", afirmou o coordenador da comissão de especialistas, o psiquiatra infantil Pedro Strecht, em entrevista coletiva em Lisboa.

"Agora é difícil que tudo fique na mesma quando se trata de violência sexual contra menores em Portugal e a consciência do seu impacto traumático", disse à imprensa.

Grandes escândalos de pedofilia na Igreja Católica(Foto: Luciana Pimenta)
Foto: Luciana Pimenta Grandes escândalos de pedofilia na Igreja Católica

Em outubro de 2021, uma equipe de seis especialistas, liderada por Strecht, anunciou que havia registrado 424 testemunhos legítimos de supostas vítimas, mas advertiu que o número total era "muito maior".

Os membros da comissão de especialistas expuseram durante duas horas, de forma crua e detalhada, os ensinamentos dos 512 testemunhos validados, mas também das investigações nos arquivos da igreja e de suas entrevistas com seus altos funcionários da hierarquia.

Apesar da dimensão do escândalo revelado, a maioria dos casos denunciados já prescreveu. Dos mais de 500 depoimentos, 25 foram encaminhados ao Ministério Público, que abriu investigações.

"O informe revela uma realidade dura e trágica. Esperamos que marque um novo começo", afirmou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), o bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas.

"Pedimos perdão a todas as vítimas", acrescentou, referindo-se a uma "ferida aberta que nos (...) envergonha", após assistir à apresentação do informe.

Diante dos milhares de casos de abusos revelados em todo o mundo e das acusações de acobertamento, o papa Francisco prometeu em 2019 erradicar o abuso sexual de menores por parte do clero dentro da Igreja.

Vários países publicaram nos últimos anos relatórios sobre casos de pedofilia na Igreja, incluindo França, Irlanda, Alemanha, Austrália e Holanda.

Na América Latina, continente de forte presença católica, há centenas de casos investigados em Chile, Colômbia, Argentina e México. Não há trabalhos de aprofundamento
no Brasil.

Um dos 25 depoimentos encaminhados para investigação do Ministério Público em Portugal é o de Alexandra, o segundo nome de uma mulher de 43 anos que prefere permanecer no anonimato e que foi estuprada por um padre quando se preparava para a vida de freira aos 17 anos.

"É muito difícil falar sobre o tema em Portugal", um país no qual 80% da população se define como católica, explica Alexandra, que é mãe, formada em Ciência da Computação e trabalha como ajudante de cozinha.

"Eu guardava este segredo há muitos anos, mas sentia que era cada vez mais difícil administrar sozinha", declarou em entrevista. Ela chegou a denunciar o agressor às autoridades eclesiásticas, mas se sentiu "ignorada".

Três anos depois, os especialistas da comissão independente se ofereceram para ouvir o depoimento e proporcionar apoio psicológico.

Em abril do ano passado, o cardeal-patriarca de Lisboa e principal líder da Igreja Católica portuguesa, Manuel Clemente, declarou-se disposto a "reconhecer os erros do passado" e a "pedir perdão" às vítimas.

O jesuíta Hans Zollner, membro da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, lamentou que "a magnitude dos números e dos testemunhos" não seja algo novo e que ecoe outros relatos ouvidos em todos os "cantos do mundo".

Mas o trabalho da comissão independente é também "sinal de que a Igreja é capaz de enfrentar esta profunda ferida", acrescentou o diretor do Instituto de Antropologia para a prevenção de abusos após a apresentação do informe.

O papa Francisco viajará a Portugal em agosto para a Jornada Mundial da Juventude e existe a possibilidade de um encontro com algumas vítimas.

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