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Larittrix: ao desbravar o universo, ela abre espaço para meninas na Ciência
Reportagem

Larittrix: ao desbravar o universo, ela abre espaço para meninas na Ciência

Natural de Pires Ferreira, interior do Ceará, Maria Larissa Pereira atua em uma área onde homens ainda predominam. Ao existir, ela vira referência para outras garotas
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Apaixonada por astronomia, a cearense Maria Larissa Pereira Paiva, ou Larittrix - como gosta de ser chamada - participou em junho deste ano do projeto Caça aos Asteroides da NASA. Foi nesse projeto que a jovem, de 16 anos, encontrou um asteroide nunca antes detectado. Residente de Pires Ferreira, município localizado na microrregião de Ipu, Larissa é uma jovem que desde a infância teve curiosidade a respeito do espaço sideral. Quando criança, ela costumava admirar o céu de Pires Ferreira. (Foto: ARQUIVO PESSOAL)
Foto: ARQUIVO PESSOAL Apaixonada por astronomia, a cearense Maria Larissa Pereira Paiva, ou Larittrix - como gosta de ser chamada - participou em junho deste ano do projeto Caça aos Asteroides da NASA. Foi nesse projeto que a jovem, de 16 anos, encontrou um asteroide nunca antes detectado. Residente de Pires Ferreira, município localizado na microrregião de Ipu, Larissa é uma jovem que desde a infância teve curiosidade a respeito do espaço sideral. Quando criança, ela costumava admirar o céu de Pires Ferreira.

Ela tem constelação no nome e voz firme de quem sabe que desbrava um espaço onde, décadas atrás, não lhe seria permitido estar. Maria Larissa Pereira, a "Larittrix", com 17 anos acumula medalhas e é reconhecida nacionalmente no campo da astronomia. Natural de Pires Ferreira, a 297km de Fortaleza, a jovem atua em uma área onde homens ainda predominam — um desafio que a impulsiona para a missão de abrir caminho para outras meninas.

Foi no sertão, quando criança, que Larissa começou a se apaixonar pelo céu. Tomada pela curiosidade, a cearense mirava as estrelas e pedia para que a avó explicasse sobre as "Três Marias". Impulsionada pela matriarca e pela própria inquietação, a pequena foi crescendo e descobrindo que saber de "apenas uma constelação" não a satisfazia. O coração pedia mais.

Os muros de Pires Ferreira, no entanto, não comportavam toda a curiosidade de Larittrix. Demorou alguns anos para que Larissa conseguisse ter acesso à internet, pesquisando assim sobre outras constelações e mergulhando de vez em todo esse universo.

"Depois soube que existiam vários números envolvidos, não eram só simples estrelas. Eu me transformei em uma adolescente animada e inteligente, sempre disposta a estudar um pouco mais de Ciência e apaixonada por Astronomia e por Divulgação Científica", conta a jovem.

Filha de professor da rede pública e de dona de casa, a cearense chegou a vender picolé para arrecadar dinheiro e comprar um notebook para estudar. Desde então, Larissa se tornou multimedalhista em olimpíadas científicas, já encontrou um asteroide nunca antes detectado, por meio de um projeto da Nasa— de onde tem mais de 50 certificados de cursos —, e virou classificadora de galáxias para o Observatório do Japão. 

A curta caminhada lhe rendeu o apelido de "Larittrix", junção de Larissa e Bellatrix — estrela da Constelação de Órion, favorita da astrônoma precoce. 

"Eu já sofri uma certa discriminação por ser do interior/zona rural, por ser adolescente/jovem, mas principalmente por ser mulher. Já tive que provar que realmente entendia um assunto várias vezes, quando para meus colegas homens bastava dizer 'eu sei disso'. Para a gente (mulheres), infelizmente, ainda é um desafio permanecer na Ciência", desabafa.

Feminista em construção, Larissa tira sua força da dificuldade e honra as mulheres que lhe abriram caminho. Ela criou, por exemplo, o projeto "Sem Parar nas Galáxias", que cria oportunidades para meninas de baixa renda se tornarem cientistas cidadãs e fazerem pesquisas internacionais em Astronomia.

"(Eu) Me sinto honrada e com poder de fazer a diferença, mostrar que 'ei! olha pra mim! se eu consegui, vocês também conseguem! Nós somos capazes, meninas''', dispara.

Assim como o município de Pires Ferreira foi pequeno para ela um dia, agora é no Brasil que lhe falta espaço. Larissa se prepara para fazer uma graduação nos Estados Unidos. A partida para novas fronteiras não deve, contudo, fazer com que ela deixe de apoiar e incentivar outras garotas na área.

Impulsionada por uma mulher na infância e tendo como inspiração várias outras, a jovem sabe da importância de ser uma referência e garante que vai seguir lutando para abrir caminhos para as meninas na Ciência. Sobre enfrentar os novos desafios, ela revela uma fórmula: "É o amor que me mantém".

Maria Larissa se destaca no campo da Astronomia
Maria Larissa se destaca no campo da Astronomia (Foto: Arquivo pessoal)


 

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