Iniciar um negócio pode ser desafiador no Brasil. Tanto que a taxa de mortalidade de novos negócios chega a 37% para o Microempreendedor Individual (MEI), segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) com dados de 2021. Mas, imagine iniciar um negócio e ter como parceiro alguns dos maiores empreendedores do mercado.
Essa é a alternativa oferecida no setor de franquias. O trunfo dos franqueadores é ofertar ao mercado a oportunidade de replicar uma fórmula empreendedora que está dando certo, oferecendo auxílio na gestão e operação.
Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), esse setor da economia faturou em seus mais diversos segmentos R$ 211 bilhões, num crescimento de 14,3% em 2022 em relação ao ano anterior. Já o número de novas unidades - ou seja, de empreendedores que apostaram neste mercado - expandiu 7,8%, totalizando mais de 184 mil operações.
No Ceará não é diferente. No ano passado, os empreendedores que investiram no setor de franquias faturaram R$ 4,4 bilhões, num avanço anual de 11,1%. Ao todo, 3.925 novas unidades foram abertas no Estado (+12,7%).
Para 2023, a expectativa do setor é continuar crescendo, aproveitando o impulso da popularização do modelo de negócios. Por isso, mais unidades de franquias devem continuar aparecendo nas ruas e shoppings.
Exemplo desse movimento próspero do segmento de franquias é a história de Rafaela Freire, 37. Sem histórico empreendedor, iniciou junto dos irmãos um investimento em uma unidade de franquia da Cacau Show, em 2009.
De lá para cá, conseguiram evoluir no negócio em família: junto de um dos irmãos cuida diretamente do dia a dia da operação, uma irmã trata da área financeira, além de outro irmão, que mora no Rio de Janeiro e é o sócio-investidor. Ainda assim, ela destaca que, quando chega o período de alta na movimentação das lojas, como na Páscoa, todos ajudam na operação.
Da falta de experiência na abertura da primeira unidade, os irmãos podem ser considerados caso de sucesso, com crescimento de 10% no faturamento desde a pandemia e se preparando para abrir a sétima unidade, no Terrazo Shopping, que tem previsão de inauguração até o fim de maio, em Eusébio (Região Metropolitana de Fortaleza).
Rafaela conta que os planos continuam ambiciosos. "O pós-pandemia tem sido muito positivo. Como temos um posicionamento de marca e preço, com bom custo-benefício, estamos em crescimento. Temos, sim, interesse em boas oportunidades para novas unidades".
Esse movimento de evolução do número de unidades é generalizado no mercado, destaca o gerente de Expansão e Novos Negócios da Cacau Show, Arlan Roque. Neste cenário, a rede de chocolates finos cresceu 33% em 2022 e tomou a liderança do mercado de franquias em número de unidades. São mais de 3,7 mil lojas.
"Alcançar a primeira posição do ranking não era uma meta, mas acabou acontecendo a partir do crescimento dos últimos dois anos. Foi o melhor biênio da história da Cacau Show", destaca.
Os planos de expansão da marca seguem em curso com a meta de 600 novas unidades e o Nordeste é visto como mina de ouro. Na Região, a marca tem participação de mercado acima da média nacional. Mas o Ceará é visto como desafio por ter uma participação menor. Arlan diz que o Estado deve ser um alvo neste processo de expansão.
Atualmente, são 85 unidades da Cacau Show no Ceará, sendo que 41 delas foram abertas entre 2021 e 2022. Atualmente, 43 unidades estão em processo de implantação no Nordeste, sendo 10 somente no Ceará.
"Ainda há espaço para que cheguemos nos próximos anos a 117 unidades somente no Ceará", diz o gerente, conforme o planejamento estratégico da marca. Atualmente, o custo para aderir à franquia da Cacau Show varia entre R$ 64,9 mil e R$ 250 mil, com quatro tipos de lojas.
Fernando Ribeiro, diretor da ABF Nordeste, destaca que a retomada do fluxo de clientes no varejo presencial faz com que trimestre após trimestre os resultados melhores, atraindo mais empreendedores aos negócios pelas vantagens competitivas desse tipo de investimento, especialmente pela maior segurança de solidificação do negócio.
"O Nordeste é uma praça muito promissora. As marcas do franchising brasileiro em seus diversos segmentos olham para a Região com muita atenção, pois é extremamente consumidor e aderente às marcas franqueadores", pontua.
Ele ainda destaca a abertura dos empreendedores aos negócios. "O empresário nordestino gosta muito do segmento e as marcas já chegam fortes, com muita história, bem formatadas, com padrões e processos e os empresários veem isso positivamente".
O processo de pesquisa para escolha de qual marca e tipo de franquia faz sentido, é básico para qualquer empreendedor interessado neste negócio. De acordo com o analista da Unidade de Competitividade do Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae-CE), Rogério Morais, há algumas estratégias importantes.
Ele explica que as leis do franchising obrigam que as franquias emitam um documento que dê detalhes sobre regras e ofertas, também sobre a movimentação de novos franqueados e fechamento de negócios.
Outro ponto destacado por Rogério é estar atento ao processo de seleção dos candidatos a franqueados, que analisa a aptidão do empreendedor ao negócio, além da análise de recursos para adquirir a franquia.
"Esse é um ponto interessante ao franqueador, que vai receber royalties, como também para o franqueado, que deve se manter. A ideia é que o empreendedor consiga não só se manter, mas tenha condições de ampliar seus negócios, comprar outra franquia ou unidade da rede", explica.
Rogério enfatiza que o Sebrae-CE tem expertise para dar apoio a empreendedores que têm interesse no setor. Assim como empreendedores que possuem pequenos negócios e acreditam que esse modelo possa ser replicado e virar franquia.
Atualmente, o Sebrae-CE mantém consultoria subsidiada com marcas que procuraram a instituição para formatar um modelo de negócios para franquear pequenos negócios.
"Esse é um tipo de investimento em um modelo de negócios já testado e é reproduzido, o que torna as franquias mais longevas do que outros empreendimentos", pontua.
Mas alerta: Não basta escolher qualquer franquia e iniciar de qualquer jeito esperando sucesso garantido.
"É preciso que a escolha seja bem feita, levando em consideração alguns critérios, como o que a franqueadora exige de dedicação ao trabalho (dias e horários de funcionamento), o que é comercializado ou oferecido de serviço (se encaixa com o que gosto?), qual o tempo de retorno do investimento (que dá a noção real da lucratividade) e também avaliar onde está sendo instalada a franquia", exemplifica.
O segmento de franquias de Casa e Construção apresentou forte expansão no Ceará em 2022. Segundo dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF), houve avanço de 34,9% no faturamento anual, quase três vezes acima da média nacional. Por isso, o processo de expansão da Rede iGUi está fortemente ligado ao Estado.
Maior fabricante de piscinas e comercializadora de piscinas de poliéster reforçado com fibra de vidro do mundo (PRFV), o grupo é verticalizado e, além de iGUi na venda de piscinas, tem outras três marcas: Unlimited, Splash (modelo de licenciamento para aquisição de piscinas por consumidores das classes C e D) e Tratabem (franquia de serviços de limpeza, assistência técnica, manutenção e venda de produtos).
Atualmente, a empresa possui sete unidades de franqueados no Estado (em Fortaleza e Juazeiro do Norte) e a meta é chegar a 40 unidades, destaca a diretora de expansão da Tratabem - empresa de serviços para piscinas da Rede iGUi, Lilian Marques.
Ela enfatiza que o Nordeste é quem tem uma das maiores demandas por serviços. A Rede iGUi abriu recentemente uma fábrica no Ceará, o que aproxima ainda mais as empresas da rede no mercado local.
A franquia Tratabem requer investimento de R$ 68 mil, enquanto uma loja-conceito da iGUi varia entre R$ 300 mil e R$ 2 milhões.
"Pelos nossos estudos internos, nossa expectativa é crescer 30% nacionalmente. Neste ano estamos com expectativas nada conservadoras até pela venda expressiva de vendas de piscinas que tivemos", pontua.
A partir desse movimento positivo de vendas de piscinas, acredita-se que agora a demanda se desloque para os serviços relacionados à manutenção. "A expansão real que esperamos e estamos investindo para alcançar essas 40 lojas no Estado".
Após mais de 40 anos de mercado, o projeto de expansão de Isaias Bernardes de Oliveira, presidente da Chiquinho Sorvetes, para a marca é ambicioso e envolve diretamente o Nordeste. Com 72 unidades em operação atualmente, quer chegar às 200 unidades nos próximos anos. Ao O POVO, enfatiza que quer atrair novos parceiros expondo a solidez da marca aliado ao retorno de capital e rentabilidade.
O POVO - Nos últimos anos, o setor de franquias tem se desenvolvido bastante. Como tem sido a estratégia de expansão da Chiquinho Sorvetes neste cenário positivo?
Isaias - Hoje, nosso departamento de expansão está em plena ampliação. As vendas de franquias ocorrem de maneira orgânica, de forma que o interessado em investir no setor de franchising entra em contato com nossa equipe e já possui interesse pela marca. Isso acontece devido ao histórico e expertise que a CHQ construiu ao longo de sua existência. São mais de 40 anos entregando um produto de qualidade ao cliente e conquistando fãs que defendem a marca, fazendo nossos produtos se tornarem cada vez mais populares.
OP - Quais os planos de expansão da marca para os próximos anos? Como está o olhar para o Nordeste e o Ceará?
Isaias - Atualmente, a Chiquinho conta com mais de 700 unidades em operação pelo País, sendo 72 delas no Nordeste – cinco operações estão no Ceará (Fortaleza, Juazeiro do Norte e Sobral). A meta da rede é alcançar as 200 unidades na Região nos próximos anos. A ideia é continuar levando a nossa proposta de negócio e evidenciar a Chiquinho como uma das empresas mais sólidas no mercado de alimentação/sorvetes, com retorno de capital e rentabilidade garantida, além da presença expressiva em todos os estados brasileiros.
OP - A economia passa por um momento turbulento no Brasil, com diversos setores ainda em dificuldade desde a pandemia. Qual o diferencial do modelo de franquias para tal crescimento?
Isaias - O modelo de franquias garante a replicação de um tipo de operação, com fácil manejo do franqueado que acabou de adquirir seu negócio. Existe um treinamento para habilitar sua equipe nesse novo empreendimento e os processos já são conhecidos pelos profissionais da franqueadora, que darão total suporte ao franqueado. Além disso, a maior vantagem é começar o investimento com uma marca consolidada e com percepção positiva dos clientes, facilitando a entrada e ampliando as expectativas de faturamento.
Dei Valor: Os detalhes que você precisa saber sobre franquias
O Dei Valor, programa de educação financeira e dicas sobre finanças e negócios do O POVO, traz o ranking das franquias de maior sucesso no mundo e no Brasil e dá detalhes sobre o dia a dia das franquias
Os tipos de franquias existentes no mercado
Franquia unitária: Cessão de direito de abertura de uma unidade, com exclusividade de atuação em local determinado pelo franqueador, como uma loja ou quiosque em um determinado shopping center, por exemplo. O mesmo franqueado pode adquirir outras franquias unitárias, dependendo de sua capacidade financeira, desempenho alcançado e plano de expansão.
Master franquia: Modelo muito utilizado nos planos de internacionalização de franquias e em países de grandes dimensões geográficas, como o Brasil. O master franqueado (ou subfranqueador) assina um contrato que lhe dá o direito de implantar ou terceirizar outras unidades franqueadas em uma determinada região. Neste caso, os contratos serão assinados pelo master franqueado, e ele receberá parte do valor da taxa de franquia e dos royalties cobrados dos franqueados, responsabilizando-se pelo treinamento e suporte a eles.
Franquia de desenvolvimento de área (DA): Cessão de direito para exploração de uma região específica, onde o franqueado abrirá mais de uma unidade em um determinado espaço de tempo. Será firmado um contrato de franquia para cada unidade que ele abrir. O desenvolvedor de área também poderá vender unidades em sua região, recebendo parte do valor cobrado a título de taxa de franquia e royalties. Todos os contratos serão firmados com o franqueador.
Store in store: A franquia store in store, também chamada de business in, permite que o empresário instale uma unidade dentro do estabelecimento de um terceiro. Nestes casos, a ideia é comercializar produtos complementares aos que já são vendidos na loja. Por exemplo, uma loja de roupas que fica dentro de um hotel: tanto a loja quanto o hotel oferecem comodidade ao cliente, que poderá fazer suas compras onde está hospedado.
Franquia de conversão: A modalidade de franquia de conversão pode ser usada por empreendedores que já tenham algum negócio operando, mas que desejam transformá-lo em uma franquia, para elevar a sua competitividade. O principal benefício será poder contar com vantagens incluindo: padronização dos produtos ou serviços; escalabilidade da operação; poder da marca; e capacitação
Franquia combinada: Uma franquia combinada permite que o proprietário da empresa utilize um só ponto comercial para o estabelecimento de marcas distintas. Vale ressaltar, porém, que as condições para que esse tipo de franquia seja permitida ficam a cargo de cada um dos franqueadores.
Franquia social: A franquia social não tem como objetivo a busca da lucratividade. Ela é usada para distribuir serviços sociais sem fins lucrativos, sendo uma maneira de utilizar as técnicas e os procedimentos de franchising para o crescimento e a replicação de um projeto social. O foco será a sustentabilidade e o crescimento do projeto em questão.
Microfranquias: Exige investimento de até três vezes o PIB anual per capita, segundo a referência da Associação Brasileira de Franchising (ABF), que, em valores de hoje, seria até 105 mil reais. Elas têm baixo custo operacional, operação simplificada, atividades que podem ser realizadas pelo próprio franqueado, e muitas vezes, não exigem um ponto comercial. Isso porque, geralmente, o franqueado pode operar a microfranquia de sua própria residência ou deslocar-se até o endereço do cliente para atendê-lo, nestes casos, ela é chamada de home-based.
Devido ao seu baixo custo, o retorno do capital aplicado ocorre mais rapidamente do que em franquias mais caras, mas o faturamento tende a ser compatível com o investimento feito.
O que observar:
Na compra de uma microfranquia, é importante observar se há exigência de um volume de compras mensais de produtos do franqueador e cobrança de taxas ou cumprimento de qualquer exigência se um determinado limite de faturamento for alcançado. Essas informações precisam estar discriminadas na Circular de Oferta de Franquia (COF), de modo que essas condições não comprometam a sustentabilidade do negócio.
Legislação
As microfranquias também são regidas pela Lei 13.966/19 - Lei de Franquias. Todas as taxas a serem pagas precisam estar previstas em contrato e redigidas de forma clara na COF, para que o candidato a franqueado possa analisá-las antes do pagamento de qualquer valor.
Esse tipo de franquia pode significar uma boa oportunidade, especialmente para empreendedores iniciantes, sem experiência, com poucos recursos para investir e que desejam contar com o reconhecimento da marca e o apoio oferecido pelas franquias. Mas, como toda franquia, antes de efetuar a compra, é imprescindível que o candidato a franqueado analise alguns pontos: se o seu perfil enquadra-se nesse modelo, cuja operação requer a participação direta do franqueado no dia a dia da empresa, as condições da franquia quanto ao reconhecimento da marca, sua experiência de mercado, o suporte oferecido à rede, a satisfação dos franqueados e a viabilidade econômico-financeira do negócio.
FONTE: Associação Brasileira de Franchising (ABF)