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Novo Ensino Médio: Estudantes e professores avaliam 1º ano do modelo no Ceará
Reportagem

Novo Ensino Médio: Estudantes e professores avaliam 1º ano do modelo no Ceará

| EDUCAÇÃO | Mestres se queixam de redução da carga horária de disciplinas da base comum. Alunos criticam falta de planejamento para implementação do NEM
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Matérias eletivas. Formação geral básica e itinerários formativos. No lugar de cinco aulas por dia, as turmas passam a assistir a seis aulas diárias. Esses são alguns elementos que passaram a fazer parte do cotidiano da comunidade escolar diante do Novo Ensino Médio (NEM).

"Não há um professor na minha sala dos professores que esteja gostando. Todo mundo se sente desgastado, em um ritmo de trabalho meio frenético", relata Herbert Saboia, que leciona História na rede estadual.

O professor nota que a insuficiência de tempo para planejar as aulas. "Antes, eu preparava duas ou três aulas por semana; agora, além dessas aulas, eu planejo as aulas das disciplinas eletivas, o que soma mais três ou quatro planejamentos", enumera.

"O fim das disciplinas específicas também representa o fim dos livros didáticos. Sou profissional da Educação há 20 anos e a cada ano fui encontrando um livro didático melhor. Agora não tem mais o livro de História, tem o livro de Ciências Humanas, que é como a internet: superficial, apresentando algumas matemáticas sem nunca aprofundar", opina.

Saboia pondera que "um ponto positivo aqui no Ceará é que o Governo tem sido cuidadoso na implementação". O modelo vem sendo implantado desde 2022. No primeiro ano, as mudanças foram apenas para a 1ª série do turno diurno. Neste ano, se amplia para a 1ª série noturna e a ambos os turnos da 2ª série.

Rafael Cândido, professor de Matemática e Cultura Digital na rede estadual e de Matemática na particular, percebe que "ainda é tudo muito novo". "A gente ainda está tentando aprender a ensinar de acordo com o Novo Ensino Médio. Esse processo não é fácil. Exige tempo e disposição. É complicado a gente quebrar aquela rotina de anos de planejamento feito", conta.

"Não podemos negar que muitos alunos preferem uma aula de Robótica do que apenas Física, por exemplo. Essa é a parte legal. Teatro, línguas, aulas de violão, capoeira, dança são algumas das atividades que os alunos adoram", diz. "Porém, isso também influencia na carga horária das disciplinas da chamada base comum. Eles podem ver algo relacionado na parte diversificada, mas essa parte não é obrigatória e isso pode ser um problema."

Ao comparar a implantação do NEM entre as redes pública e particular, Cândido percebe que as dificuldades da primeira são carências de material didático, de formação para professores e de estrutura para comportar e auxiliar os professores em sala de aula. "Existem escolas, por exemplo, que trabalham a disciplina de Cultura Digital sem um laboratório de informática adequado. Isso vai na contramão de toda a ementa da disciplina", conta.

Já nas escolas particulares, entende ele, o NEM "está acontecendo de forma mais lenta e processual, pois elas já têm uma carga horária bem mais pesada que as públicas regulares". Em Fortaleza, os colégios particulares geralmente contam com seis aulas pela manhã, além de algumas às tardes e momentos aos sábados.

Para Jorge Herbert Soares de Lira, coordenador do Centro de Excelência em Políticas Educacionais (CEnPE) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e cientista-chefe na Secretaria da Educação do Ceará (Seduc), é necessário discutir a Educação em debates menos ideologizados.

"Dados históricos mostram que o acréscimo de aprendizagem ao longo do ensino médio é residual, ou seja, o perfil de aprendizagem não muda significativamente, é um momento muito residual. É preciso ter atratividade, ter percursos significativos", afirma.

O pesquisador entende que existe a necessidade de uma reforma, que deve ser pensada "com muito cuidado, porque há muito voluntarismo na discussão". "Por exemplo, vamos construir itinerários A, B, C, D, mas sem refletirmos antes quais são as metas de aprendizagem? Quais habilidades que esse jovem deve dominar dentro dos seus interesses e objetivos?", questiona, afirmando que falta a amarra de objetivos pactuados socialmente.

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