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Fitorremediação: plantas aquáticas podem reduzir poluição nos corpos d'água
Reportagem

Fitorremediação: plantas aquáticas podem reduzir poluição nos corpos d'água

|Sustentabilidade|Técnica é aplicada em parques da cidade, como Rachel de Queiroz e Cidade das Crianças, para melhorar a qualidade da água
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Tipo Notícia
 O uso da fitorremediação com plantas para reduzir a poluição da águas, no Parque das Crianças. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo). (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS O uso da fitorremediação com plantas para reduzir a poluição da águas, no Parque das Crianças. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo).

Apesar de serem indicadores de excesso de nutrientes, as plantas aquáticas, como aguapés e alfaces d'água, podem também ser utilizadas para a recuperação desses ambientes eutrofizados, uma vez que são capazes de absorver esses poluentes. A este método, dá-se o nome fitorremediação.

"A fitorremediação vem sendo usada em situações em que plantas específicas têm a capacidade de retirar poluentes do meio. Isso acontece, inclusive, para metais pesados, que são substâncias bastante tóxicas. Algumas plantas são resistentes ao metal pesado, retiram ele do solo contaminado, por exemplo, e armazenam isso no próprio corpo de planta," explica o professor do curso de Ciências Ambientais do Instituto de Ciências do Mar (Labomar/UFC), Marcelo Freire Moro.

A técnica é também utilizada em ambientes aquáticos. Um exemplo citado pelo professor foi um projeto desenvolvido em Sobral, em que maciços vegetais de plantas aquáticas foram colocados na passagem de um riacho e, com isso, passaram a filtrar parte dos poluentes.

Ele coloca que a eficácia da fitorremediação depende tanto do tipo de poluente quanto da planta utilizada. "No geral, plantas que fazem a retirada e acumulação do poluente vão reduzir a quantidade de poluição no meio porque parte da poluição foi absorvida pela planta, mas depois é preciso também fazer o manejo desse sistema, por exemplo, retirando parte das plantas que acumularam poluentes e colocando novas plantas para crescerem no local," alerta.

Marcelo diz que o ideal seria que essa biomassa passasse por compostagem e fosse usada como adubo, o que muitas vezes acaba não acontecendo. Ao invés disso, grande parte dessa biomassa acaba sendo destinada a lixões e aterros sanitários.

Em Fortaleza, a fitorremediação é utilizada em locais como a Cidade da Criança e o Parque Rachel de Queiroz. Conhecida como uma "solução baseada na natureza", a técnica é capaz de limpar completamente a água que passa pelo processo de filtragem antes de devolvê-la ao corpo hídrico.

A Cidade da Criança é um dos raros lugares no Centro de Fortaleza onde se tem a visão de aves aquáticas, alguns mergulhões, socós e um garça — animais que anteriormente não tinham onde se abrigar e procriar, como conta o superintendente da Autarquia de Urbanismo e Paisagismo de Fortaleza (Urbfor), Ronaldo Nogueira, enquanto caminha pelo espaço. O lago artificial centralizado no parque é palco para o crescimento de aguapés, flores de lótus, alface d'água, pacaviras e taboas.

As plantas crescem rapidamente, ele informa. Desde que foram colocadas no local com o intuito de promover a fitorremediação, há cerca de um ano, cresceram tanto que a quantidade retirada pela manutenção do parque para controlar a sua proliferação ultrapassa em dez vezes o que inicialmente foi colocado no local e hoje é controlado por barreiras de contenção.

As plantas que ali foram colocadas buscam espelhar o que é naturalmente encontrado nos corpos d'água da cidade. É o caso das taboas que, diz o superintendente, foram localizadas em torno da BR-116. "O maior professor disso é a natureza, aquilo que a gente está encontrando no ambiente natural", explica sobre a escolha das plantas aquáticas para o local.

Além de fazerem a fitorremediação da água que é escoada na região e tem destino ao Rio Pajeú, essas plantas também servem para feitio do ninho dos peixes.

"Esses peixes encontraram agora como fazer ninho, como alimentar principalmente os alevinos (peixes jovens), que é natural, dos pequenos filamentos das raízes novas que vão saindo do aguapé, e onde eles se protegem também", afirma o superintendente.

Também pela água que chega ao lago do parque pelas bocas, é possível encontrar resíduos sólidos como plásticos e caixas. "Um grande problema aqui é a própria população ou o que vem nos esgotos que são os plásticos, as caixas. Isso é constante. Basta uma pequena chuva, na hora que começa a entrar água por aquelas bocas, isso aqui fica totalmente branco de sacos e sacolas," relata Nogueira. 

O superintendente explica que, após o período de chuvas, quando o nível da água no lago artificial tiver uma diminuição, uma das medidas que devem ser tomadas ainda é a injeção de água não contaminada no local. Ele também pretende realizar análises físico-químicas e bacteriológicas da água, com o objetivo de estabelecer comparativos e subsidiar, a partir destas informações, o trabalho de órgãos de fiscalização.

"A população precisa incorporar isso, precisa conhecer, não ver uma planta como um vilão, chamar de mato. O vilão é o plástico. O vilão é o que pode estar na água que faz mal à gente como substâncias químicas, impurezas, substâncias orgânicas e esgotos clandestinos" opina Nogueira.

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