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Facções seguem sendo as principais fomentadoras de homicídios em Fortaleza
Reportagem

Facções seguem sendo as principais fomentadoras de homicídios em Fortaleza

| Guerra sem fim | Organizações criminosas aparecem em 56,91% das denúncias na Capital
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Tipo Notícia

Dentro das 246 denúncias referentes a homicídios registrados em Fortaleza analisadas pelo O POVO, um agente catalisador para os crimes em específico salta aos olhos: as facções criminosas. Tais grupos são citados em 140 denúncias (56,91% do total), em suas várias formas de atuar.

No levantamento, a facção criminosa Comando Vermelho (CV) foi a que mais apareceu dentre os homicídios que tiveram denúncia ofertada. Foram 76 assassinatos atribuídos ao grupo de origem carioca, o que representa 54,7% do total. Em seguida, vem a facção Guardiões do Estado (GDE), citada em 32 casos e a facção Massa Carcerária, que foi citada em 26.

 O POVO classificou os crimes praticados por facções em três categorias. A rivalidade entre as grupos foi a mais frequente, aparecendo 61 vezes (23,2%). São casos em que o crime é atribuído ao fato de executores e vítimas pertencerem a facções inimigas, como foi no caso da Chacina do Lagamar — que deixou quatro mortos na comunidade do bairro São João do Tauape em 18 de fevereiro de 2022.

Conforme a investigação, as vítimas, anteriormente, eram aliadas aos executores, uma vez que todos integravam a facção GDE. Entretanto, alguns homens que exerceriam cargos de chefia no grupo criminoso decidiram integrar a facção carioca Terceiro Comando Puro (TCP), o que foi considerado uma traição pela GDE. Isso teria motivado a chacina, já que, conforme denúncia, os mortos eram subordinados aos chefes que romperam com a GDE.

Já na categoria "ataque de facção" (23 casos, 8,6% do total) se encaixam casos em que, por exemplo, integrantes de um grupo adentram territórios onde atuam inimigos e passam a disparar como se qualquer um que lá estivesse também fosse rival. Foi o que aconteceu no caso que vitimou Abraão Lucca da Silva Costa, bebê de apenas 9 meses de idade, no bairro Pici. Integrantes do CV deram uma "batida" em um território com criminosos da GDE e, ao encontrarem dois deles que estavam ao lado de outras pessoas, começaram a disparar, atingindo Abraão Lucca.

A terceira motivação que incide atuação desses grupos é "Descumprimento de determinação de facção", quando os "códigos de condutas" das organizações teriam sido infringidos. Pode ser uma delação à Polícia, praticar crimes como roubo ou estupro onde as facções atuam, andar em "território inimigo", paquerar mulheres comprometidas com facionados, etc.

Os motivos são tão variados quanto arbitrários. No caso de Antônio Gracileudo Tavares, morto em 2 de abril no bairro Pici, a vítima se recusou a sair de sua casa após ser expulso por membros da GDE. "Fuleu (como a vítima era conhecida) residia na casa de herança da mãe, e sempre dizia na rua que só entregava a casa quando morto", disse uma testemunha.

Já no caso de Rogério Felipe Pacheco, assassinado em 10 de abril no Guajeru, o "descumprimento" foi a um toque de recolher imposto pelo CV. Como havia um confronto entre a facção e sua dissidência, a Massa, ninguém poderia andar na rua pela madrugada, como fez a vítima e uma mulher que o acompanhava — ela também foi baleada mas sobreviveu.

Latrocínio (22 casos, 8,2% do total), motivos banais (18 casos, 6,7% do total) e feminicídio e vingança (ambos com 10 casos, 3,7% do total) foram as motivações mais citadas nas denúncias feitas pelo MPCE. Em 21 de abril último, O POVO contou as histórias dos casos de feminicídios registrados em Fortaleza em 2022 na reportagem Calendário do feminicídio.

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