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Paisagem de novela
Reportagem

Paisagem de novela

Custo nas alturas
Edição Impressa
Tipo Notícia

A novela Tropicaliente (1994) se passava em Fortaleza e contava com as paisagens do litoral como pano de fundo. Parte da produção da trama, cabe destacar, foi financiada pelo governo cearense, na gestão de Ciro Gomes (1991-1994), que investiu US$ 700 mil no custeio de despesas com infraestrutura para as gravações com o intuito de atrair turistas a partir da veiculação das imagens.

O resultado não podia ser outro. Na época, o setor hoteleiro registrou lotação e o "boom" turístico foi 30% superior aos anos anteriores. Para a filmagem de cenas no Mucuripe, o Farol recebeu pintura e foi reinaugurado.

"Hoje nos colocam contra nós, porque para restaurar o Farol precisa o povo sair, essa é a desculpa. Então, se for reformar o Museu da Imagem e do Som, precisa a Aldeota inteira sair também? Ou é só o pobre que tem que sair?", questiona Diêgo di Paula.

Um pouco adiante, em outra ponta, mais história: "Decretaram um fim às casas do Titanzinho, foram várias levas de intervenções. A primeira foi nos anos 70, que tirou todo mundo da Praia Mansa e jogou dentro do Titanzinho. Em 94 queriam tirar do Titanzinho, para onde? Ninguém sabia; houve a luta e ninguém foi removido", relaciona.

As remoções, ressalta o guia, levam antigos moradores para lugares cada vez mais distantes do Mucuripe, o que passa a representar custos a mais para famílias que, em sua maioria, viviam da pesca.

"Custos que vão além do tempo e dinheiro gastos com deslocamento, também envolvem a perda das relações de vizinhança e de vínculo com o território."

Quem permanece se vê obrigado a encarar uma realidade contrastante: com a valorização expressiva de imóveis nessa área, a moradia se torna cada vez mais inacessível para a população de baixa renda.

Para se ter uma ideia, em junho, o Mucuripe foi o bairro de aluguel mais caro em Fortaleza. O valor do metro quadrado para locação de imóvel residencial nessa região custa R$ 41: ou seja, para residir em um apartamento de 70m² é necessário desembolsar, mensalmente, cerca de R$ 2.870. Antes, a posição era ocupada pelo Meireles.

Enquanto isso, regiões periféricas e de menor valorização ficam desprovidas de investimentos e recursos. Na opinião do especialista, esse avanço também se reflete em um uso da habitação com caráter cada vez mais segregador, que se revela em novas formas de assentamentos humanos.

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