Os moradores dos bairros Carlito Pamplona, Pirambu e adjacências estão em alerta diante da deflagração de um conflito entre facções criminosas na região. Ontem, serviços públicos e privados foram suspensos após criminosos atearem fogo em três carros nas avenidas Leste-Oeste e Dr. Theberge. Um carro ainda foi alvo de disparos na rua Engenheiro João Nogueira, já no bairro Álvaro Weyne.
Os episódios vieram a se somar a diversas ocorrências de tiroteios relatadas por moradores, sobretudo, no entorno da comunidade Santa Rosa e no residencial Dom Helder Câmara, no Carlito Pamplona. Três assassinatos foram registrados no bairro do sábado, 5, até essa quarta-feira, 9. O confronto começou após membros da facção criminosa Comando Vermelho (CV) decidirem deixar o grupo e passar a integrar a facção Massa Carcerária, tendo sido "decretados" de morte pelos antigos aliados.
Na manhã de ontem, os ataques começaram por volta das 9 horas. Na Leste-Oeste, um dos crimes foi registrado por câmeras de vigilância. As imagens mostram dois criminosos chegando em uma moto, ordenando que a motorista e um passageiro desçam do carro, para em seguida atear fogo no veículo com um galão de um líquido inflamável. Em outra ação, um adolescente suspeito de praticar os atos acabou se queimando.
Com isso, um clima de medo se instaurou na região. Diversos comércios e até um banco fecharam as portas.
A medida de precaução também foi compartilhada por unidades de saúde e de ensino. Nas escolas Tertuliano Cambraia e Hilberto Silva, as famílias não levaram os estudantes. Em nota, a Secretaria Municipal da Educação (SME) informou que guardas municipais foram enviadas até as unidades para reforçar o policiamento. A pasta também afirmou que está sendo oferecido suporte do Serviço de Psicologia Escolar. O POVO apurou que as aulas foram suspensas na escola Martins de Aguiar, no bairro Ellery.
Nas unidades de saúde, consultas e procedimentos foram suspensos após os funcionários serem liberados pelas coordenações. O POVO esteve, durante a tarde, no posto de saúde dr. Zenirton Pereira, na Barra do Ceará, e constatou que a unidade estava fechada. O Centro de Educação Infantil Vila do Mar, ao lado, entretanto, estava aberto, apesar de muitos pais não terem levado seus filhos.
O transporte também foi afetado. Dez linhas de ônibus tiveram o itinerário afetado. Motoristas por aplicativo também evitaram a região.
"A orientação é que os motoristas de aplicativos evitem toda a área", afirmou o presidente da Associação de Motoristas de Aplicativo, Rafael Keylon, à Rádio O POVO/CBN. Uma moradora do Pirambu relatou ter demorado 1h20min para conseguir que um motorista aceitasse a sua corrida. Foram 19 pedidos. Até mesmo missas foram suspensas, como no caso da paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Carlito Pamplona. No Cristo Redentor, a celebração ocorreu com portões fechados.
Houve quem não conseguisse ir ao emprego. Uma moradora da região, de identidade preservada, afirmou que estava há dois dias sem trabalhar.
"Tenho dois netos em creche e não sei se liberaram, mas mandei buscar", afirmou ela. "As minhas filhas estudam pela manhã e não foram para a aula, pois é o caminho que tá acontecendo a guerra. (Com informações de Jéssika Sisnando, Cláudio Ribeiro, Luciano Cesário, Sara Oliveira, Amanda Araújo, Mirla Nobre, Gabriel Damasceno/Especial para O POVO e Gabriela Monteiro/Especial para O POVO).
Ataques não serão tolerados e serão respondidos à altura, diz Elmano
O governador Elmano de Freitas (PT) disse ontem, 10, acompanhar "atentamente" de Brasília (DF), onde participa de reuniões, os desdobramentos do conflito entre facções criminosas no Grande Pirambu. Em publicação nas redes sociais, Elmano afirmou que "quaisquer ataques criminosos não serão tolerados e serão respondidos à altura".
“Conversei com o secretário da Segurança Pública, Samuel Elânio, e determinei reforço imediato e uma operação rigorosa na área, para que seja efetuada a prisão dos responsáveis pelos atos. Cerca de 170 policiais, entre militares e civis, atuam na região”, disse.
O prefeito José Sarto (PDT) também se manifestou sobre o conflito. Também pelas redes sociais, ele disse ter determinado que o secretário da Segurança Cidadã de Fortaleza, coronel Eduardo Holanda, “acompanhe as ocorrências”. Ele frisou que a Guarda Municipal reforçou o efetivo em equipamentos públicos na região, incluindo escolas, postos de saúde, Unidades de Pronto Atendimento (Upas) e prédios administrativos.
“Estamos adotando todo o protocolo para resguardar a segurança dos usuários de nossos serviços e também dos nossos trabalhadores e trabalhadoras", escreveu Sarto. "Disponibilizamos ainda o nosso efetivo para a Secretaria Estadual da Segurança Pública e Defesa Social em caso de necessidade. É muito grave que a população fique refém da ação de criminosos, impedida de ir e vir em virtude desse lamentável cenário de insegurança”.