Discutir a saúde mental da população negra é um tema importante e relevante para a compreensão dos desafios enfrentados pela comunidade. O racismo pode estar relacionado a um dos principais problemas da saúde das pessoas negras. As vítimas desse crime, assim como de injúria racial, podem desenvolver efeitos prejudiciais, como o aumento de estresse, ansiedade, baixa autoestima, entre outros.
Segundo a vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), a psicóloga Ivani Oliveira, se qualquer outra pessoa fosse colocada nas condições que as pessoas negras são colocadas dentro da sociedade, elas estariam em sofrimento psíquico.
"As situações de humilhação constante ou de violência institucional e estrutural acontecendo de forma recorrente fragilizam a saúde mental deixando com que algumas pessoas fiquem mais suscetíveis a alguns tipos de adoecimento, como tristeza profunda e suscetíveis a uso de substâncias", comenta.
Outros efeitos que podem ser provocados são a sensação de estado de alerta, situações de irritabilidade ou até sintomas no corpo, quando, por exemplo, retornam ou estão em locais que lembram os episódios em que já sofreram a violência alguma vez.
A psicóloga destaca que entre os sintomas gerados estão a taquicardia, suor na nas mãos, uma sensação de de inadequação ou efeitos que atrapalhem a respiração, alteração de sono das vítimas do crime. Além disso, a especialista destaca os efeitos nas questões sociais e institucionais, ou seja, quando uma pessoa negra se coloca disponível ao mercado de trabalho, ela enfrenta barreiras cotidianas que são mais difíceis de serem transpostas e superadas do que as pessoas brancas.
A psicóloga cearense e mestranda em Psicologia Social pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Thamilla Oliveira atende majoritariamente pessoas negras. Ela afirma que um dos impactos do crime de racismo na população é a sensação de estresse e a criação de um estado de alerta das vítimas no cotidiano.
"Isso se dá porque, após os casos, elas ficam tentando se preparar, prevenir ou antecipar possíveis violências que possam vir a sofrer na tentativa de se proteger", explica.
Outros efeitos do crime na população negra é o sentimento constante de desvalorização e insegurança, que contribuem para sentimentos também de tristeza, desesperança e preocupação. "Como o racismo é enraizado, é constante a sensação de não ser aceito. Isso pode levar a um desenvolvimento da depressão, ansiedade e exclusão social", informa.
A psicóloga orienta que para lidar com os impactos do racismo e evitar problemas na saúde mental é necessário que as vítimas não entrem em um movimento de negação de ser quem são. "As pessoas precisam se encontrar nas suas qualidades e nos seus valores". pontua. Além disso, Thamilla destaca que é importante que as pessoas tenham um reconhecimento da sua identidade. Ela acrescenta que a busca por atendimentos psicológicos também auxilia nesse processo.
A vice-presidente do CFP, Ivani Oliveira, ressalta a importância de pensar tanto na identidade pessoal como na coletiva. "Elas precisam ser valorizadas, elas precisam de uma valorização positiva para que a gente tenha um aumento da confiança e da autoestima e do reconhecimento do nosso potencial", aponta. No entanto, o processo vai além de medidas pessoas, mas afeta toda a sociedade.
"O que vai gerar um processo de valorização positiva da nossa identidade pessoal e coletiva são ações da sociedade. Nós precisamos garantir que a gente tenha ações afirmativas em relação à população negra. Que a gente consiga sim entrar no ensino superior, na pós-graduação, nos tornarmos médicos, referências para a sociedade. Essa mudança social que também vai incentivar a saúde mental", destaca.