Nas escolas cearenses, a gravidez na adolescência é trabalhada num contexto social macro, onde programas destacam as potencialidades do jovem e o impacto na prevenção das violências. Em 2022, nas escolas de ensino médio estaduais, houve o registro de 1.913 adolescentes gestantes. De acordo com o estudo do Ipece, no ano anterior, 601 meninas entre 15 e 19 anos estavam na segunda ou até terceira gestações.
É por isso que a chefe da Divisão Médica da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), Zenilda Vieira Bruno, está com os olhos voltados principalmente para reincidência da gravidez na adolescência. "É importante oferecer métodos (contraceptivos) de longa duração. A camisinha é ótima para prevenir doenças, mas para gravidez, o índice de falha é altíssimo. Quando a gente pergunta, elas dizem que o coito interrompido é o mais usado. Mas isso é arriscadíssimo, porque é uma habilidade complicada para quem está começando a vida sexual", explica.
A médica, que há mais de 30 anos trabalha com adolescentes, afirma categoricamente que, principalmente para as adolescentes que estão grávidas pela segunda vez, a oferta de métodos anticoncepcionais deveria ser prioridade. "O DIU de cobre, ofertado pelo SUS, já tem estudos que mostram que é excelente. Quem nunca engravidou pode usar, adolescente pode usar, o risco de infecção é muito pequeno", orienta a médica.
Zenilda destaca ainda outros métodos, como o implante que é colocado no braço. "Pode ser colocado até antes do início da atividade sexual. É caro, mas já há vários trabalhos mostrando que é mais barato gastar em Larc (sigla em inglês para Long-acting reversible contraceptives, que em um tradução livre significa Métodos Contraceptivos Reversíveis de Longa Duração) do que ter uma gravidez na adolescência", pondera.
A Meac está trabalhando junto ao Governo do Estado para que haja o fornecimento de Larc de forma mais ampla. "A pílula, que tem de tomar todo dia, é complicada para adolescente. Muitas não podem tomar porque precisam esconder dos pais. A camisinha, muitas têm vergonha de como serão julgadas", detalha Zenilda. Com durações de três, cinco e dez anos, os Larcs possibilitam ainda o acompanhamento das adolescentes pelo sistema de saúde que oferece o método.
Pesquisadora e integrante do Fórum Permanente Direitos da Criança e do Adolescente Monitoramento de Políticas Públicas (Fórum DCA), Lídia Rodrigues destaca que é direito dos adolescentes aprender a lidar com as questões do próprio corpo. "Eles estão vivendo aquela situação, independente da sociedade achar que eles podem ou não. Se eles não estão conseguindo proteger essa vivência, se não conseguem fazer com que essa vivência se torne um processo que não comprometa o futuro, eles estão sendo violados", argumentou.