O Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE) apagou 4.118 incêndios em vegetação no Ceará, entre os meses de janeiro e setembro deste ano. Em outubro, até às 6 horas desta sexta-feira, 6, foram 297 registros do tipo. Nos primeiro nove meses de 2023, a soma de incêndios em vegetação no Ceará é 71% maior do que no mesmo período do ano anterior. Setembro foi o mês com maior número de incêndios do tipo em cinco anos, com 1.757 casos.
Em 2022, foram 2.404 de janeiro a setembro. O número não contabiliza outros tipos de incêndios como de monturo (aglomerado de lixo), de veículos, em residências, em edificações comerciais e em indústrias.
Conforme o capitão Francisco Eduardo Fideles Dutra, do CBMCE, algumas razões para o aumento são os efeitos das mudanças climáticas e a presença do El Niño, fenômeno meteorológico relacionado à seca no Ceará.
Conforme a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a previsão é que o período entre 2023 e 2027 seja o mais quente já registrado na Terra, sob o efeito combinado do El Niño e das mudanças climáticas, que fazem a temperatura do planeta subir.
"Além disso, no primeiro semestre choveu muito. Isso fez com que a vegetação crescesse mais, o que gera maior carga de incêndio", relaciona o capitão Dutra. Ou seja, o mato está mais alto, alimentando mais os incêndios, deixando-os ainda maiores.
No ano passado, o CBMCE controlou 5.214 incêndios em vegetações. O número total de casos de 2022 é menor do que os anos de 2021, 2020 e 2019, quando a corporação atendeu, respectivamente, 6.751, 7.125 e 6.097 casos do tipo.
Existem diferentes gradações de cada um desses incêndios. Um dos maiores, considerado de grandes proporções, atinge uma área de vegetação de Icó, na região Sul do Ceará, localizado há 361,3 km de Fortaleza, há nove dias. Segundo dados do Painel do Fogo, do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), uma área de 7.932,6 hectares já foi atingida — um campo de futebol tem pouco mais de 1 hectare.
O incêndio teve início no dia 28 de setembro e, a partir do dia 2 de outubro, bombeiros militares especialistas em combate a incêndios florestais iniciaram as ações de controle do incêndio, segundo o CBMCE.
O capitão Sócrates Honório, que atua no combate ao fogo, listou alguns dos fatores que dificultam a extinção total. Um deles é o relevo da região, que apresenta grande variação, com altitudes entre 310 e 470 metros. Isso dificulta o acesso ao local por viaturas e exige o deslocamento a pé firme.
Outra dificuldade está sendo a característica climática da região. As rajadas de vento chegam a 45km/h, a temperatura a 38°C e a umidade relativa do ar fica em torno de 20%. "Nessa condição, a vegetação perde muita umidade e a velocidade de propagação das chamas é alta, fazendo com que o impacto ambiental seja maior", avalia.
Segundo atualização diária da operação, o maior registro foi do dia 30 de setembro, vindo a cair no dia 6 de outubro após intensa intervenção dos bombeiros florestais.
A orientação para a população é de não causar fogo, seja em limpeza de propriedades, para remoção de lixo ou renovação de pastagens, pois as chances de perda do controle do fogo que podem ocasionar o incêndio florestal aumentam devidos as condições meteorológicas.
Denúncia de foco de incêndio
Se avistar qualquer foco de incêndio em vegetação, mesmo que aparentemente pequeno, entre em contato imediatamente com o Corpo de Bombeiros por meio do número de emergência 193. A corporação frisa que o acionamento rápido pode evitar que o fogo se alastre e cause danos maiores. A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, sete dias por semana.
Trabalho articulado busca diminuir efeitos dos pontos de calor e incêndios
Uma articulação entre diversas instituições públicas tem sido feita para diminuir os impactos dos pontos de calor e dos incêndios registrados no Ceará. A Defesa Civil do Ceará diz que um trabalho compartilhado possibilita a diminuição dos efeitos destas ocorrências para o meio ambiente e para as pessoas.
O coordenador da Defesa Civil do Ceará, tenente-coronel Haroldo Gondim, aponta que há uma combinação de fatores que está agravando os riscos de incêndio e faz um alerta para que a população mude de cultura em relação às queimadas, por conta das novas condições climáticas.
“Nas proximidades das cidades, a grande maioria dos incêndios são causados por pessoas que queimam lixo, querem limpar terrenos botando fogo. Nas áreas rurais, acontecem as chamadas ‘brocas’, para preparar a terra para plantio ou replantio. Nos dois casos, o fogo acaba perdendo o controle e se transformando em incêndios. Lembramos que todas as queimadas são ilegais”, afirma o coordenador.
O coordenador da instituição afirma que a junção de muitos dias sem precipitação, umidade relativa do ar baixa, temperaturas altas e ventos acima de 30Km/h, são condições ideais para a ocorrência de incêndios e demandam maior atenção.
“Como bombeiro militar, não me recordo de temperaturas tão elevadas, de forma constante, no Ceará. Realmente está sendo muito significativa essa onda de calor. Estamos esperando dezembro, para consolidarmos os dados, mas este El Niño já se encaminha para ser considerado um evento extremo”, afirma.
A Defesa Civil do Ceará tem atuado junto à Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), o Corpo de Bombeiros Militar (CBM), a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) e as Defesas Civis Municipais para tentar prevenir os efeitos dos pontos de calor.
“É um trabalho em conjunto. Trabalhamos articulando as melhores formas para esses órgãos agirem, quando observamos condições climáticas propícias para o agravamento de desastres. Atualmente, três grandes incêndios, nas cidades de Icó, Várzea Alegre e Ipaporanga, estão acontecendo no Ceará e contando com toda essa articulação para serem debelados e causarem o mínimo possível de impacto”, afirma.
Gondim pontua que há uma previsão da Funceme de que as temperaturas fiquem mais amenas, em grande parte do Ceará a partir do dia 7 de outubro. As regiões Centro-Oeste e Sul, no entanto, devem manter as altas temperaturas.
“Quando a temperatura baixa, os incêndios tendem a diminuir. Como há essa previsão para o Ceará, e nos baseamos por esses dados, já ficamos com os olhares mais voltados para essas regiões que ainda vão permanecer com temperaturas elevadas, para tentarmos antever o que pode acontecer e focarmos melhor nossos esforços”, explica.
A região Sul tem uma incidência alta de incêndios e registrou a maior temperatura média mensal, no último mês de setembro, na cidade de Barro. A média ficou em 38° no período.