A população com 65 anos ou mais aumentou 42% no Ceará entre 2010 e 2022. De acordo com os dados do Censo Demográfico, o Estado registrava 642.736 pessoas nessa faixa etária na pesquisa de 2010 e, após 12 anos, o Estado soma 912.559 idosos. Nesta sexta-feira, 27, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga informações sobre a idade e o sexo da população conforme o recenseamento de 2022.
Além do aumento no número de idosos, os dados do Censo mostram que o Ceará tem menos pessoas de até 14 anos do que em 2010. A faixa etária, que tinha 2.188.543 pessoas, apresentou uma diminuição de 17%, registrando 1.802.435 crianças e adolescentes em 2022.
De acordo com o IBGE, as duas faixas etárias são utilizadas para calcular o índice de envelhecimento da população. Esse índice é composto pela proporção do número de idosos a cada 100 crianças e adolescentes até 14 anos. Quanto maior o número do indicador, mais envelhecida está a população.
Em 2010, o índice de envelhecimento do Ceará era de 29,3. Já em 2022, esse indicador chegou a 50,6 idosos a cada 100 crianças. O Estado segue a tendência do País, que também tem índice de envelhecimento crescente.
Ao todo, os idosos representam 10,4% da população geral do Ceará. Enquanto isso, os mais jovens são 20,5% dos residentes do Estado. Com cada Censo desde 1980, é possível ver que a proporção de idosos aumenta, enquanto a de jovens diminui.
Entre as cidades cearenses com maior índice de envelhecimento estão São João do Jaguaribe (127,5), Cedro (83,25) e Quixelô (82,34). Já as de menor índice são Eusébio (25,57), Itaitinga (27,04) e Jijoca de Jericoacoara (27,28).
A socióloga, doutoranda em Sociologia e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), que pesquisa envelhecimento, Yara Vitorino, analisa que é necessário ter um olhar prioritário para a questão.
“Acredito que políticas públicas efetivas focadas na saúde, assistência e qualidade de vida pensando a pessoa idosa como um sujeito plural que possam atender esses idosos a partir de suas subjetividades sejam o caminho para uma sociedade que se preocupa com seus mais velhos. Esses números podem impactar na criação de políticas para os municípios, oferecendo um olhar cuidadoso sobre essas pessoas idosas”, comenta a especialista.
Yara analisa o outro lado desse cenário. Há menos jovens, e o cenário pode ser explicado em diversos fatores. "Um dado importante é que as pessoas que mais morrem por questões que envolvam a violência que assola nosso país são pessoas jovens, também são os jovens que ocupam em sua maioria o sistema prisional brasileiro. Ou seja, a queda da fecundidade e da taxa de mortalidade bem como o aumento da expectativa média de vida explicam o envelhecimento populacional", aponta.
De acordo com a diretora do Conselho Regional de Psicologia (CRP), Andreia Ferreira Lima, a sociedade ainda lida com um estereótipo de que os idosos são vistos como incapazes e, diante do cenário, é preciso pensar estratégias de inclusão. A psicóloga analisa que é preciso garantir que as políticas de autonomia e independência sejam transformadas em operacionalização e materializadas no dia a dia.
“Temos que ter uma estrutura física adequada de atendimento às pessoas idosas, funcionalidade para o público. A gente precisa mudar a nossa relação com as pessoas idosas. Precisamos mudar a política de viabilização do idoso. Ela precisa ser vista enquanto sujeito social acessando todos os espaços”, comenta.
A presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB-CE), Patrícia Viana, reforça que os direitos dos idosos precisam ser garantidos. A advogada pontua a garantia da cidadania, participação na sociedade, dignidade, bem-estar e direito à vida.
De acordo com Patrícia, foi criado o Estatuto da Pessoa Idosa a partir da Lei nº 10.741, de 10 de Outubro de 2003, que assegura, de forma permanente, esses direitos como uma das políticas públicas de atenção ao público. “É um instrumento que foi criado para garantir as medidas de proteção, de atendimento, acesso à Justiça e proteção judiciária”, comenta. No documento, são assegurados, por exemplo, atendimento preferencial em redes públicas e privadas.
Ela analisa que o Estatuto, implantado há 20 anos, possa ter mais investimentos na saúde e repensar questões sociais acerca da população, além de cobrar as ações do poder público.
Como forma de combater a desumanização do envelhecimento, Patrícia Viana aponta que a principal ferramenta é a educação para conscientização sobre o assunto. "A gente precisa falar e divulgar mais. Precisamos trabalhar na intergenericidade Consiste na fusão de gêneros diferentes para cumprir um determinado propósito comunicativo. nas escolas de base e nas universidades educando um país que vai cada vez mais se tornar um país de pessoas idosas", pontua.
Em nota ao O POVO, nesta sexta-feira, 27, a Secretaria dos Direitos Humanos do Ceará (Sedih) informou que, visando fortalecer as políticas de atenção às pessoas idosas no Estado, a pasta está implementando um Centro de Referência em Envelhecimento Ativo e Saudável em Fortaleza.
De acordo com a Sedih, a proposta é que o Centro funcione como um local de combate à violação de direitos, bem como para que as pessoas idosas permaneçam durante o dia, com atendimento especializado e direcionado a essa população. O objetivo é que esse projeto seja também regionalizado, chegando aos cearenses do interior do Estado. Ainda não há data definida para implantação desse serviço na Capital e demais regiões do Estado. (Colaborou Mirla Nobre)
Censo mostra que envelhecimento da população brasileira é recorde
A população brasileira está envelhecendo cada vez mais rapidamente. Nova etapa dos resultados do Censo 2022 divulgada nesta sexta-feira, 27, revela que o porcentual de pessoas com 65 anos ou mais no País chegou a 10,9% da população - uma alta recorde de 57,4% frente aos números de 2010, quando os idosos representavam 7,4% do total.
Os novos números, recortados por idade e sexo, mostram também que a idade mediana da população (a idade que separa a metade mais jovem da população da mais velha) aumentou seis anos desde 2010, chegando a 35 anos em 2022. O índice de envelhecimento também aumentou: são 55 idosos para cada grupo de 100 crianças. Em 2010, este índice era 30.
Por outro lado, o total de crianças, de 0 a 14 anos, recuou entre 2010 e 2022, de 24,1% da população para 19,8%, uma queda de 12,6%. Em 1980, para se ter uma ideia, os mais jovens eram 38,2% e os mais idosos apenas 4%. Ou seja, a pirâmide demográfica brasileira se parece cada vez menos com uma pirâmide e vai adquirindo um formato mais similar ao de uma ânfora, indicando que a grande maioria da população, atualmente, é de meia idade.
Este fato evidencia a tendência do início do fim do bônus demográfico (quando a proporção de jovens, a população economicamente ativa, é maior do que a de idosos e crianças, elevando as chances de ganhos no PIB). Esse movimento começou há cerca de 50 anos e começa a perder seus efeitos a partir de 2030 ou mesmo antes, quando a maior parcela da população já será de idosos, aumentando a pressão sobre os gastos de saúde e previdência social.
"Esse meio da nossa pirâmide, mais inchado, é o bônus demográfico, um grupo etário enorme com possibilidade de produção", explicou a demógrafa Izabel Guimarães Marri, gerente de população do IBGE. "A medida que essas pessoas envelhecem, que esse grupo vai se tornando idoso, não vem um novo grupo tão grande assim para substituí-lo uma vez que a base da pirâmide já é mais estreita. Ou seja, teremos um grupo menor tendo que produzir muito mais para sustentar uma parcela maior de idosos "
As regiões Norte e Nordeste são as mais jovens do País: 25% e 21% da população, respectivamente têm até 14 anos. As regiões mais velhas são Sudeste e Sul, com porcentuais de idosos de 12%. A idade mediana também reflete essa situação; ela é de apenas 26 anos em Roraima e chega a 38 no Rio Grande do Sul.
Em junho deste ano, o IBGE divulgou os primeiros números do Censo. Em 2022, o País contava 203 milhões de habitantes e registrava também o menor crescimento populacional em 150 anos. De 2010 a 2022, a taxa média de crescimento anual da população foi de 0,52%, a primeira abaixo de 1% e a menor registrada desde o primeiro levantamento populacional feito no País, em 1872.
A queda acentuada da taxa de fecundidade é a principal explicação para o envelhecimento populacional. Uma outra explicação seria a migração de brasileiros em idade reprodutiva para o exterior.
Até a década de 1940, o País registrava altas taxas de fecundidade e mortalidade, mas os frequentes avanços da Medicina permitiram o aumento da expectativa de vida. Com a redução dos níveis de mortalidade e a manutenção dos altos índices de fecundidade, o ritmo do crescimento populacional aumentou.
"Apresentou seu maior pico na década de 1950, com taxa média de crescimento anual de 2,99%. No começo dos anos 1960, inicia-se lentamente o declínio dos níveis de fecundidade e, a partir dos anos 1970, já é possível verificar a redução do crescimento populacional", informa o relatório do Censo.
Para se ter uma ideia, em 1960, o número médio de filhos por mulher era de 6,28. A taxa de fecundidade vem caindo consistentemente, alcançando, em 2010, 1,9. A taxa de fecundidade do Censo 2022 ainda não foi divulgada, mas estimativas do próprio IBGE indicam que, este ano, ela chegaria a 1,7.
"Em 1940, quando a população era de 41 milhões de pessoas, o desenho era o da pirâmide clássica, com a população mais jovem bem maior", afirmou Izabel Guimarães Marri.
"Essa estrutura se mantém até o final da década de 80, quando começa a cair significativamente o número médio de filhos por mulher. A pirâmide, então, começou a ficar cada vez mais estreita. Agora temos uma estrutura populacional já não tão jovem e em franco envelhecimento."
A queda da fecundidade é fortemente relacionada a fatores econômicos e de gênero. Numa sociedade rural menos desenvolvida, o custo de um filho é baixo e os benefícios de ter muitos filhos são altos (porque eles podem trabalhar no campo e amparar os idosos). Já numa sociedade urbana, industrial, o custo dos filhos é bem mais alto. As pessoas acabam optando por ter menos filhos e dar a eles mais qualidade de vida.
A questão de gênero ganha cada vez mais peso nessa equação, segundo especialistas. Cada vez mais mulheres optam por se dedicar à carreira e adiam a gravidez e têm menos filhos. Muitas escolhem não ter filhos. A escassez de serviços gratuitos de apoio à maternidade, como creches, também contribui para a decisão.(Agência Estado)
124 cidades do Ceará têm mais mulheres que homens, diz Censo 2022
Dos 184 municípios do Ceará, 124 têm mais mulheres do que homens. O dado é do Censo Demográfico de 2022, divulgado nessa sexta-feira, 27. A maior prevalência de mulheres também é registrada no Brasil, que tem 104,5 milhões de mulheres e 98,5 milhões de homens, ou seja, 6 milhões a mais de pessoas do sexo feminino.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula essa diferença por meio da razão de sexo, que consiste na proporção da quantidade de homens a cada 100 mulheres. No Ceará, há 93,8 homens a cada 100 mulheres. Durante o recenseamento, foi questionado o sexo atribuído ao nascer, desconsiderando a informação de identidade de gênero.
A maior proporção de mulheres fica mais evidente na faixa etária a partir dos 25 anos. Na infância e juventude, os homens são maioria no Ceará. A tendência se repete nos dados do Brasil e em todas as regiões. Segundo o IBGE, essa incidência menor de pessoas do sexo masculino a partir da vida adulta ocorre devido às mortes por causas externas, como violência urbana e acidentes.
O município de Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza, tem a maior proporção de homens em relação a mulheres do Ceará. São 127,11 pessoas do sexo masculino a cada 100 do feminino. Essa disparidade ocorre devido a presença de 10 unidades prisionais na cidade.
As cidades do Brasil que tem a maior razão de sexo são aquelas com penitenciárias. Balbinos, no interior de São Paulo, tem 443,44 homens a cada 100 mulheres. No entanto, a população carcerária de homens é de 2.340. O número de detentos chega a ser maior do que o restante dos residentes do município.
Os novos números do Censo revelam também que o Brasil está cada vez mais feminino. Em 2022, 51,5% da população brasileira (104.548.325) eram mulheres, ante 48,5% (98 532.431) de homens — cerca de 6 milhões de mulheres a mais. Segundo os demógrafos, as chamadas causas externas, como acidentes graves e violência urbana, que vitimam muito mais homens do que mulheres, explicam essa diferença.
A razão de sexo, o número de homens para cada cem mulheres, passou de 96, em 2010, para 94,2 em 2022. O Sudeste tem a menor proporção de homens, com uma razão de sexo de 92,9 em 2022. Por outro lado, a maior razão de sexo está na Região Norte, 99,7. Foi o primeiro censo que mostrou um número de mulheres maior que o de homens nesta região.
A razão de sexo por grupos etários mostra a maior proporção de homens desde o nascimento até os 24 anos. A partir do grupo etário que começa aos 25 anos, a população feminina ultrapassa a masculina.
"Nascem mais meninos, mas morrem também mais meninos, principalmente entre os adultos jovens. A gente tem, no Brasil, uma sobremortalidade masculina muito grande, muito maior do que a da população feminina", afirmou a demógrafa Izabel Guimarães Marri, gerente de população do IBGE.
"As causas da morte dessa população jovem adulta masculina estão relacionadas a causas não naturais, que são as causas violentas e os acidente, que acometem muito mais a população masculina dos 20 aos 40 anos de idade do que a feminina", disse ela.
De forma geral, em todo o mundo, a expectativa de vida das mulheres é sempre maior do que a dos homens. Isso é atribuído ao fato de as mulheres se cuidarem mais, se alimentarem melhor e frequentarem mais os médicos. Na faixa etária acima dos 65 anos é muito comum o número de mulheres ser mais elevado. (Com Agência Estado)
São João do Jaguaribe e Cedro são municípios com maiores taxas de idosos
Tanto no cenário local quanto no nacional, está sendo observado o envelhecimento das populações. Conforme o Censo Demográfico de 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nessa sexta-feira, 27, São João do Jaguaribe (127,5), Cedro (83,25) e Quixelô (82,34) são as cidades com maior índice de envelhecimento.
As duas primeiras também têm maior porcentagem da população com 65 anos ou mais, com 18,5% e 15,3% respectivamente. João Batista Diniz, prefeito de Cedro, afirma que a gestão tem "diversas ações para proporcionar uma melhor qualidade de vida da melhor idade".
Ele cita as academias ao ar livre nas praças "que são muito importantes para a manutenção e a melhora da saúde". Outra ação são os mutirões de cirurgias de cataratas. "Os atendimentos da saúde com foco na prevenção. Nós temos equipes que fazem esse trabalho domiciliar, com as unidades básicas de saúde com equipes que fazem o atendimento nas residências", acrescenta.
Segundo o prefeito, muitos idosos estão voltando ao município para morar na zona urbana ou rural. Esse foi o caso de Marcos Antônio dos Santos Cortez, 70, aposentado e pecuarista. Ele saiu da cidade natal e foi para Fortaleza aos 18 anos.
Depois de algumas décadas ele retornou à cidade que "sempre gostou". Atualmente, ele mora na zona rural, a três quilômetros da cidade. Marcos Antônio vai para a sede todos os dias. "Faço exercícios nos aparelhos da praça todos os dias. Há tranquilidade. Até hoje, não tive problemas", relata.
O POVO procurou as prefeituras dos municípios de São João do Jaguaribe e Quixelô, nessa sexta-feira, 27, por e-mail e mensagens no aplicativo no WhatsApp, para saber sobre as políticas públicas realizadas e articuladas com atenção ao público idoso. As prefeituras não retornaram até o fechamento desta reportagem. (Colaborou Mirla Nobre)