Em meio a uma crise sem precedentes dentro do PDT, lideranças da base do governador Elmano de Freitas (PT) no Ceará estimam que o racha entre grupos de Cid Gomes e de André Figueiredo deve ajudar a delimitar melhor quem é aliado e quem é oposição ao Palácio da Abolição.
Apenas na última semana, cerca de 40 prefeitos e prefeitas cearenses anunciaram coletivamente, durante encontro com Cid e outros nomes de peso do partido, sua desfiliação da legenda trabalhista.
Antes disso, a direção estadual da sigla, também sob comando do senador Cid, havia concedido aproximadamente duas dezenas de cartas de anuência para deputados estaduais e federais deixarem o domicílio partidário sem risco de perda de mandato.
Na esteira desse movimento, gestores municipais anteciparam desembarque, reduzindo o tamanho do PDT de maior agremiação no estado, com mais de 50 representantes espalhados pelas prefeituras, para uma com menos de dez.
Caso levem adiante a desfiliação em massa, a tendência é de que a maioria desses pedetistas ingresse em alguma força situada no arco de aliados que hoje dá sustentação ao chefe do Executivo estadual.
É nesse sentido que, para Antonio Filho, o Conin, presidente estadual do PT, a divisão no PDT, sem entrar no mérito da disputa interna, colabora decisivamente para clarear as fronteiras do bloco "elmanista" de olho nas próximas eleições.
"Eu acho que isso dá nitidez à base. A gente já tem esse desenho, mas vai dar uma nitidez mais institucional. Define melhor, vai ficar mais evidente, e isso ajuda nas relações no que diz respeito a quem quer fazer oposição e quem quer ser base", avaliou o dirigente petista.
Para ele, os governistas, embora estejam acompanhando a querela interna do PDT apenas como espectadores de uma crise vizinha, têm a intenção de garantir somente que os prefeitos e parlamentares interessados possam se integrar à base do governador.
"A gente quer assegurar esse direito de quem quer ser base poder apoiar o projeto que está dando certo no Ceará", argumentou Conin.
Questionado se o PT e outros agentes governistas esperam receber muitos ex-pedetistas, o dirigente respondeu que está a par do tema apenas pelo que tem sido publicado na imprensa e que tem "mantido certo cuidado em não me intrometer nisso".
"Mas as informações são essas", acrescentou, "de que a insatisfação (no PDT) decorre de que uma grande maioria tem um alinhamento já de algum tempo com nosso projeto e isso não está sendo aceito pela direção".
Deputado federal e presidente estadual do MDB, Eunício Oliveira adotou discurso de teor semelhante ao de Conin. Também parte do conjunto de legendas que ajudou a eleger Elmano em 2022, impondo derrota ao "cirismo", o emedebista disse preferir "não fazer juízo de valor sobre outros partidos".
De acordo com ele, no entanto, há uma certeza no bloco governista hoje "de que essa divisão (no PDT) vai beneficiar a base aliada".
"Até porque", continuou, "os deputados têm dado demonstração de que ficarão na base aliada".
Entre esses parlamentares citados indiretamente, por exemplo, estão Eduardo Bismarck e Mauro Filho, ambos com cadeira na Câmara Federal. A eles se somam vereadores, tal como Júlio Brizzi, e mandatários com assento na Assembleia Legislativa do Estado (Alece), dos quais se destaca o presidente da Casa, Evandro Leitão.
Cotado para concorrer à Prefeitura de Fortaleza ano que vem, Evandro foi o primeiro a conseguir carta de anuência para deixar o PDT, ainda em agosto deste ano.
De lá para cá, o comando estadual do partido se alternou entre as mãos de Cid e as de André Figueiredo, em lances que se sucederam nas muitas quedas de braço intrapartidárias e nas disputas na Justiça, com vitórias de ambos os lados - com leve vantagem para o ex-governador.
A mais recente delas permitiu não apenas que Cid seguisse à na direção pedetista no âmbito local, mas suspendeu a intervenção no colegiado cearense aprovada pela executiva nacional do PDT, à frente da qual está Figueiredo, aliado do ex-presidenciável Ciro Gomes e do ex-prefeito Roberto Cláudio.
Como pano de fundo desse xadrez, está o processo eleitoral de 2024, para o qual Cid desejaria ter como candidato um nome mais afinado com a aliança em torno de Elmano e do ministro Camilo Santana (PT), de quem é parceiro.
Figueiredo, Ciro e RC, por outro lado, postulam que o PDT no Ceará se mantenha como opositor ao Governo, pavimentando a reeleição de José Sarto ao Paço e sem espaço para composições com as forças vencedoras do pleito de 2022.