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"Bancário com antidepressivos na gaveta" é comum
Reportagem

"Bancário com antidepressivos na gaveta" é comum

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Na foto, Eugênia Silva, secretário de Saúde do Sindicato dos Bancários do Ceará (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Na foto, Eugênia Silva, secretário de Saúde do Sindicato dos Bancários do Ceará

A realidade dos trabalhadores do setor financeiro no Ceará demonstra o quão danoso pode ser trabalhar sob alta pressão ao ponto de afetar a saúde mental. Segundo o secretário de Saúde do Sindicato dos Bancários do Ceará (SEEB/CE), Eugênio Silva, é comum flagrar colaboradores em condições adversas.

De acordo com levantamento feito pelo sindicato, o Ceará tem aproximadamente 10 mil bancários. Entre 20% e 30% desses profissionais convivem com problemas psicológicos. "As doenças que mais impactam os bancários são a depressão, ansiedade, síndrome do pânico e Burnout. Essa é a pior, pois junta o cansaço físico e mental", conta.

Eugênio ainda complementa com relatos que escutou em visitas às agências: "Tem bancário que não consegue ver a logomarca do banco no comercial de TV em casa que já fica ansioso. Outros quando chega o domingo à noite já se sentem mal por estar chegando a segunda-feira de trabalho". Ainda segundo Eugênio, apesar do alto grau de afastamentos, ainda há muitos bancários que continuam a trabalhar, mesmo doentes, por medo de entrarem numa lista de dispensa. "É comum chegar nas agências e presenciar bancários com atestado (de doença psicológica) na gaveta. Também presenciei bancários mantendo uma farmácia de remédios tarja preta na gaveta", afirma.

Ainda segundo o secretário de Saúde, a falta de pessoal nas agências gera sobrecarga porque as metas só se tornam mais inalcançáveis. "Para você ter ideia, esse método abusivo gera tanta cobrança que ouvimos relatos de bancários que choravam no banheiro e depois voltavam ao atendimento ao público", relata.

Conforme dados do Ministério Público do Trabalho (MPT), apesar de ser caracterizado como ocupação com grau de risco nível 1, ou seja, por (teoricamente) apresentar baixíssimo risco à saúde do trabalhador, o setor bancário é o oitavo com o maior número de afastamentos acidentários pelo Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS). Para tentar remediar a situação, o sindicato criou um "contato de emergência" para o bancário que precisar de apoio psicológico. Também foi lançado o Grupo de Apoio à Saúde dos Bancários (Gasp) que realiza reuniões semanais conduzidas por uma profissional de Psicologia e pela Secretaria de Saúde do sindicato.

 

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