Mais uma vez toda a sociedade se prepara para celebrar o Natal. Digo "toda" porque mesmo os não cristãos são embalados pelo espírito natalino, pela beleza da decoração das cidades, pela agitação do comércio e pelos nobres sentimentos que em nós desabrocham nas últimas semanas do ano civil.
Como fato histórico e religioso somos levados àquela noite fria e vemos vagar sozinhos, na agitada Belém de 2 mil anos atrás, Maria e José. Eles sentiram na alma o pior dos vírus, que é o da indiferença, que torna invisível, aos nossos olhos e coração, o irmão necessitado.
Apesar do desprezo manifestado ao Filho, o Pai não desistou de dá-Lo ao mundo. Ele nos entregou a sua divindade e recebeu a nossa humanidade, para se colocar ao nosso serviço. Desse modo, o Natal só se explica por um amor extraordinário, sem limites, pois "a medida do amor é amar sem medida", e é dessa forma que Deus nos ama.
Assim pensando, o nascimento de Jesus é um grito de amor e de paz, em meio à insanidade das guerras que vemos ao vivo e a cores, num espetáculo macabro que entristece o nosso coração e nos revela o medo, o frio e a fome que atingem nossos irmãos e irmãs. Todos os tipos de guerra — inclusive a que vemos na sociedade, nas redes sociais — são responsáveis pelo cenário de morte, com vidas destruídas em rostos visíveis.
A nossa oração, nessa Noite Feliz, deve se dirigir a Deus pela vida daqueles que vivem noites infelizes, em locais onde a força do amor está sendo corroída. Se assim fizermos, não cairemos na mesma indiferença daqueles que fecharam suas portas para Jesus Cristo. Não podemos acrescentar novas feridas à humanidade pela insensatez das divisões, pela crueldade dos preconceitos e pela divisão dos corações. Se a Sagrada Escritura nos diz que Jesus é o Príncipe da Paz, nossa atitude deve ser a de pregoeiros da paz.
O verdadeiro Natal se dá pela união dos cristãos e de todas as pessoas que acreditam na força do amor, pois o que nos une é maior do que o que nos divide. Unamo-nos, assim, em vista da dignidade dos nossos irmãos e irmãs, porque a caridade é sempre vínculo de união perfeita.
Feliz aquele que encontra o verdadeiro sentido do Natal. Feliz o que descobre de onde vem esse clima, essa alegria e essa paz que surge como resposta à correria, à ansiedade, à insanidade e à indiferença.
Que o espírito do Natal faça crescer em nós a esperança e o encanto, mesmo em tempos difíceis. Que o nosso coração se torne manjedoura para acolher o Menino que insiste renascer em nossa vida, a cada dia, a cada instante. Ele tem carência de nossa atenção e de nosso amor, pois nos ama eternamente e deseja ser embalado por braços de ternura e solidariedade.
Assim, ame o Menino Deus, mas ame sem medo; e não esqueça de quantas pessoas não conseguem mais esperar por seus gestos de amor.
Feliz Natal!
Dom Gregório Paixão: arcebispo metropolitano de Fortaleza