Recentemente, um colega de trabalho me ouviu falar sobre representação política de mulheres. Em tom de desilusão, dizia que ninguém de "bom coração" deveria querer participar de um espaço tão cheio de intrigas como a política. Cansada, após o expediente de fim de semestre, apenas sorri. A questão apresentada ficou na minha cabeça.
O ano de 2023, na política, foi aberto pelas invasões de 8 de janeiro, ainda reflexo da polarização da disputa presidencial entre Jair Bolsonaro e Lula. No Ceará, os grupos políticos se organizaram em torno da adesão ou não à frente ampla do segundo turno de 2022. Na política estadual, 2023 foi de reorganização dos grupos políticos e partidários.
Os irmãos Ferreira Gomes romperam a aliança hegemônica durante duas décadas. O PDT, sigla ocupada por eles, acompanhou o conflito. Em Fortaleza, os posicionamentos dos partidários próximos ao prefeito Sarto se aproximaram do núcleo conservador da Câmara Municipal, o que tornou a dinâmica política ainda mais complexa.
De olho nas eleições municipais de 2024, André Fernandes e Carmelo Neto, ambos do PL e representantes do bolsonarismo local, abriram disputa para a pré-candidatura. No PT, assistimos a filiação de Evandro Leitão e as pré-candidaturas de Luzianne Lins, Larissa Gaspar e Guilherme Sampaio.
Os conflitos, inerentes ao jogo político, são o motor das estratégias. Eles são construídos pela disputa de ideias entre grupos que se propõem aos espaços de representação (e possuem capital político-econômico para ampliar a competitividade). A política tem como ser um lugar de paz?
A paz se torna um ponto de valência. Para cada representante, a construção da paz deve seguir um caminho diferente, a depender das visões de mundo ou, para citar Paulo Freire, das "leituras de mundo" que buscam. Diante da recente vivência de polarização e das reconfigurações institucionais, é natural que o meu colega, em sua leitura de mundo, rejeite o espaço institucional da política.
Ele busca, assim como muitos de nós, o limite moral das disputas. Nesse ponto, Maquiavel diria que é necessário ver a "verdade efetiva das coisas", ou seja, como as coisas são, e não como gostaríamos que fossem. Por esse olhar, é possível imaginar caminhos que, em ritmo de polarização, requerem a anulação do outro.
O caminho da política que agrega a ideia de "paz" não pode ser excludente. É necessário observar que existem nuances ideológicas (não há política neutra) que compõem esse espaço e isso é positivo, pois significa a existência de pluralidade democrática. Quero finalizar convidando o leitor a lembrar que, para construir espaços coletivos, é interessante o debate e, por isso, os conflitos, mas não só. Convido o leitor a lembrar que a política também é feita de consensos.
Paula Vieira: Cientista política, professora da Unichristus e pesquisadora Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia, da Universidade Federal do Ceará (Lepem/UFC)