Logo O POVO+
Os porquês da dispersão da fumaça e as consequências à saúde pela inalação
Reportagem

Os porquês da dispersão da fumaça e as consequências à saúde pela inalação

Fortaleza e parte de Caucaia foram tomados pela fumaça e pelo cheiro forte vindos do incêndio que atingiu o Parque do Cocó nesta quinta. Queimada interferiu até mesmo na coloração dos raios solares
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
FORTALEZA-CE, BRASIL, 18-01-2023: Incêndio atinge Parque do Cocó, e fumaça se espalha por bairros de Fortaleza. (Foto: Aurélio Alves/O Povo) (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES FORTALEZA-CE, BRASIL, 18-01-2023: Incêndio atinge Parque do Cocó, e fumaça se espalha por bairros de Fortaleza. (Foto: Aurélio Alves/O Povo)

Fortaleza foi tomada pelo cinza e pelo cheiro forte gerado pelo incêndio que atingiu o Parque Estadual do Cocó ontem, conforme relatado por moradores de diversos bairros.

A forma como a fenômeno se espalhou passa pelos tradicionais ventos de Fortaleza. O capitão Sócrates Souza, subcomandante na 2ª Companhia de Bombeiros do Crato, explica que os produtos gerados pela combustão são dissipados em forma de fumaça e, por ela ser mais densa que o ar, tende a subir e se alastrar com maior facilidade conforme a direção e a velocidade do vento.

“Quando se tem mais material queimando, mais fumaça e fuligem será gerada. Quando há fogo em vegetação ou área orgânica, há liberação de água, então parte dessa fumaça também é vapor de água. A quentura e a queimada fazem desidratar e quando ele passa por esse processo de desidratação completa, ele entra em combustão e gera mais fumaça”, detalha.

A fumaça também causou alteração na coloração dos raios solares, que ganharam a tonalidade mais amarelada deixando a Capital por algumas horas sob uma espécie de filtro de tonalidade sépia. O professor Rivelino Cavalcante, do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (Labomar/UFC), explica que queimadas fazem aumentar a quantidade de material particulado na atmosfera.

“Esse material particulado tende a fazer essa mudança dos raios solares, ele absorve um certo comprimento de onda dos raios solares e fica com essa cor característica. É tanta fumaça que ela fica com esse tom escurecido. Então, na realidade, as queimadas liberam muitas dessas partículas em suspensão, que nós chamamos de poeira”, explica.

O professor e climatologista Alexandre Araújo, complementa dizendo que tudo tem a ver com as partículas produzidas em um incêndio como esse chegam a atmosfera.

“Na fumaça, temos a presença de fuligem – que basicamente é carbono, compostos orgânicos voláteis e essas partículas interagem com a luz solar. A fuligem absorve radiação; isso, além de diminuir a quantidade de luz solar que está na superfície, como ela está absorvendo radiação, ela vai aquecer a atmosfera e mudar o comportamento dinâmico da atmosfera”, diz.

Ele conta ainda que a grande presença de fuligem pode inibir a formação de nuvens justamente por esse aquecimento na atmosfera. As outras partículas, diferentemente da fuligem — que tem a coloração preta e absorve luz —, tendem a refletir e espalhar a radiação.

“Com o espalhamento dessas partículas, vemos mudanças por exemplo no pôr do sol. Lamentavelmente, com mais aerossóis, o pôr do sol pode até ficar aparentemente mais bonito, só que essa beleza está escondendo uma realidade trágica, mas não tem a ver com temperatura, mas porque há uma modificação dos comprimentos de onda”, conta.

Um fator preocupante da propagação da fumaça são os riscos à saúde pela liberação de gás carbônico e outros gases prejudiciais ao bem-estar humano. De acordo com o médico otorrinolaringologista do Hapvida, Eduardo Younes, partículas sólidas liberadas em queimadas podem provocar irritações no nariz e na garganta.

“Inicialmente, essas áreas podem ser atingidas pelas partículas liberadas através das fumaças, causando irritações, coceiras, espirros, coriza, entupimento do nariz, pigarro e voz rouca e também atingir a via aérea inferior, ou seja, a parte pulmonar, isso vai gerar na parte respiratória uma dificuldade para que se troque o oxigênio, ou seja a pessoa pode ter falta de ar ou tosse”, explica o médico.

Younes detalha ainda que, em algumas situações, pode agravar doenças já pré-existentes. Se for na via aérea superior, como a rinite alérgica, a situação pode causar crises, levando a sinusite, a processos obstrutivos nasais e formação de secreção mais espessa.

Já na parte pulmonar pode levar ao aparecimento de pneumonia, bronquite ou asma. “Importante é entender que, sim, a fumaça pode causar problemas respiratórios tanto na parte de nariz e garganta quanto na parte pulmonar”, detalha o médico.

Eduardo diz ainda que é necessário evitar a automedicação, já que por um momento ela pode mascarar os sintomas, que podem evoluir. “É sempre bom procurar orientação médica diante de situações onde possa estar nos dois extremos da vida, ou seja crianças muito pequenas e idosos. Isso pode gerar um agravamento rápido das crises respiratórias”, conclui.

O que você achou desse conteúdo?