Logo O POVO+
Sistema sobrecarregado e excludente
Reportagem

Sistema sobrecarregado e excludente

Saúde
Edição Impressa
Tipo Notícia
MARCOS Novais, superintendente executivo da Abramge (Foto: Abramge/Divulgação)
Foto: Abramge/Divulgação MARCOS Novais, superintendente executivo da Abramge

O presidente do Instituto de Geriatria e Gerontologia do Ceará (Inggá), Jarbas de Sá Roriz Filho, faz eco às queixas que costuma ouvir de pacientes e aponta que nossos sistemas de saúde, público e suplementar, "precisam melhorar, e muito", no que diz respeito ao atendimento e tratamento da população idosa. "A maioria absoluta dessa população está excluída do acesso às operadoras de saúde, e os que têm acesso infelizmente recebem uma assistência muito aquém da que necessitam", avalia.

Dificuldade para agendar consultas e para a realização de exames, filas para hospitalização, espera prolongada para atendimentos de urgência e emergência e baixíssima oferta (diante de uma grande demanda) de serviços de acolhimento domiciliar são alguns dos problemas elencados por Roriz Filho no serviço prestado aos idosos pelas operadoras de saúde. "Em todas as modalidades — ambulatorial, hospitalar, domiciliar e de acesso a exames — a cobertura é muito pobre", resume.

O superintendente executivo da da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Marcos Novais, reconhece que esse processo acelerado de envelhecimento "coloca todo o sistema numa situação de utilização bem mais elevada, o que faz com que precisamos nos adaptar". Ele afirma que os planos de saúde estão trabalhando para implementar melhorias físicas e na capacitação de profissionais para o atendimento a esse público específico.

Quando os dados da ANS são filtrados por gênero, percebe-se que são as mulheres as maiores usuárias de planos de saúde. No Brasil de 2023, dos 7,4 milhões de usuários idosos, 4,4 milhões são do sexo feminino. No Ceará, são 95 mil usuárias em um universo de 154 mil beneficiários com 60 anos ou mais. A constatação, segundo Novais, segue o padrão da população brasileira.

"A gente tem entre os jovens muito mais mortes no sexo masculino, por questões que a gente conhece bem do nosso País. E também entre os adultos a taxa de mortalidade dos homens é mais elevada. Isso faz com que a mulher tenha uma expectativa de vida maior do que a do homem e, naturalmente, você tem mais mulheres na última faixa etária. Esse fenômeno, característico de nossa população, se reflete também nos números da saúde suplementar", explica Novais.

Independentemente do gênero, o que deveria guiar as estratégias de ação focadas nas populações idosas é, segundo Roriz Filho, a elaboração e difusão de medidas de prevenção que retardem o declínio de habilidades funcionais e evitem o desenvolvimento de doenças crônicas. "É esse o caminho mais viável, porque como está, o sistema de saúde não vai suportar a pressão", afirma o geriatra.

Uma das estratégias pensadas pela OMS para ajudar a reformular os objetivos e práticas dos sistemas de saúde no Brasil vem sendo implementada, no nível local, por Roriz Filho. Ele é um dos coordenadores do Programa de Atenção Integrada para a Pessoa Idosa (Icope), ferramenta que deve ajudar profissionais de saúde a desenvolver planos de cuidado que incluam gerenciamento de declínio de capacidades, oferta de assistência e apoio social e desenvolvimento das capacidades de automanejo e apoio aos cuidadores.

"O mapeamento dessa demanda, por meio de uma ferramenta de triagem e avaliação da saúde do indivíduo idoso, vai permitir a oferta de planos de trabalho individualizados e facilitar o referenciamento desse idoso", explica Roriz Filho. Segundo ele, o programa, que já começou a operar em outros países, como França e Itália, deve ser aplicado ao SUS ao longo de 2024.

O que você achou desse conteúdo?