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Dinheiro vivo segue circulando acima de nível pré-pandemia
Reportagem

Dinheiro vivo segue circulando acima de nível pré-pandemia

|MESMO COM PIX| Atualmente, há cerca de 38,1 milhões de moedas e cédulas nas mãos dos brasileiros e brasileiras, o equivalente a R$ 334,5 bilhões
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Exigência legal de se fornecer troco ao consumidor ajuda a explicar fenômeno (Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo)
Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo Exigência legal de se fornecer troco ao consumidor ajuda a explicar fenômeno

Dia 31 de dezembro de 2019. Os festejos e a movimentação de milhões de brasileiros, alheios à iminência de uma pandemia de dimensões globais, fizeram circular naquela data mais de 34,1 bilhões de moedas e cédulas em todo o País, ou o equivalente a R$ 280,6 bilhões.

Dia 16 de novembro de 2020. A Covid-19 já havia tirado a vida de 166 mil brasileiros. Esse número mais que quadruplicaria nos três anos seguintes.

Naquela mesma data, o Banco Central (BC) colocava em operação o sistema de pagamento instantâneo Pix, enquanto os brasileiros colocavam para circular R$ 357,9 bilhões em dinheiro vivo.

O aumento de 27,5% na circulação de dinheiro, em menos de um ano, ocorreu em meio a um cenário de meses de isolamento social, a ausência àquela data de uma vacina para a Covid e o pagamento de um auxílio emergencial pelo governo federal de até R$ 1.200 e que em seu auge chegou a atender 67 milhões de beneficiários.

Por outro lado, a chegada de uma ferramenta de pagamento instantânea relativamente simples de ser operada, como o Pix, e a digitalização de diversos processos que vieram como consequência da crise sanitária geraram a expectativa de que moedas, cédulas e até mesmo os cartões de débito e crédito estavam com dias contados.

Pois bem, dados do Sistema de Administração do Meio Circulante (Sismecir) do BC apontam que no dia 31 de janeiro deste ano, passados mais de 3 anos e 2 meses da implantação do Pix, a quantidade de dinheiro em espécie circulando, embora tenha diminuído, ainda segue muito acima dos patamares registrados em 2019, antes da chegada da pandemia ao Brasil. Eram 38,1 milhões de moedas e cédulas em circulação, o equivalente a R$ 334,5 bilhões.

O economista, docente da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador na área de finanças comportamentais e Tecnologia da Informação, Érico Veras Marques, afirma que em grande parte a razão para ainda ter mais dinheiro circulando atualmente que em 2019, tem relação com a própria quantidade de cédulas e moedas emitidas pelo Banco Central em 2020, incluindo o lançamento da cédula de R$ 200, realizado em meio ao contexto do pagamento de auxílio emergencial.

Nesse sentido, ele avalia que embora continue circulando, o dinheiro em espécie circula atualmente em uma velocidade menor. “O que interessa é a velocidade com a qual a moeda circula. Por que foi emitida a nota de R$ 200? Provavelmente, porque a gente precisava de volume de dinheiro. Só que quando você deixa de precisar dela só vai tirá-la de circulação quando estiver danificada”, explicou. Ele lembra ainda, que mesmo representando um volume expressivo, o valor em circulação de cédulas e moedas representa aproximadamente 3,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do País.

Ricardo Coimbra, conselheiro da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Brasil), atribui outra parte da explicação desse fenômeno à exigência legal de se fornecer troco ao consumidor. “Isso faz com que o público que movimenta esse dinheiro efetivamente, como os comerciantes, de um modo geral, precise ter cédulas e moedas para quitar as operações”, observa.

Além disso, tanto no caso das moedas quanto das cédulas, há questões de cunho social, comportamental e até etário envolvidas. “Algumas pessoas mais velhas querem realmente estar com o papel na mão. É como se para elas aquele dinheiro que está na conta do banco se movimentando de um lado para o outro fosse meio irreal”, pontua o economista.

Sobre o movimento específico de adesão ao Pix, Coimbra disse acreditar que o fenômeno se desenvolve de forma contínua. “Cada vez mais você vai tendo uma participação maior desse tipo de operação”, observa. Ele pondera, contudo, que a parcela da população menos afeita ao uso das novas tecnologias deve continuar demandando dinheiro em espécie.

“Esse grupo que é reticente, se não fez essa movimentação (de adesão ao Pix) antes, muito provavelmente, vai fará agora. O que significa dizer que a gente vai ter ainda a impressão de cédulas e de moedas durante algum tempo”, conclui.

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