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A dimensão da histórica da escassez de água no Ceará
Reportagem

A dimensão da histórica da escassez de água no Ceará

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Concluído em 1906, o açude do Cedro, em Quixadá, é o mais antigo do Brasil (Foto: JULIO CAESAR)
Foto: JULIO CAESAR Concluído em 1906, o açude do Cedro, em Quixadá, é o mais antigo do Brasil

Era 1879 quando os flagelados da "Grande Seca" (1877-1879) chegavam à Capital nacional — Rio de Janeiro — e chocavam o Governo Imperial. Da caneta de dom Pedro II nascia a ordem de serviço da primeira obra pública federal do País: o açude do Cedro, em Quixadá, no Sertão Central.

O Ceará tem o primeiro açude federal e tem também o maior reservatório da América Latina: o Castanhão, com capacidade para 6.700 hectômetros cúbicos d'água, quase o triplo do segundo maior do Brasil. Tudo isso ilustra o quanto a terra de Rachel de Queiroz é a que mais necessita de água no País.

Desde 2017, considera-se que 95% do território cearense está no Semiárido. São 175 dos 184 municípios sujeitos a um clima demarcado por chuvas intermitentes e riscos de desabastecimento. Ao todo, 90% da vegetação do Estado é caatinga, bioma único do Brasil e caracterizado pela secura.

Segundo a mais recente atualização do Monitor de Secas, o Ceará tem territórios em condição de seca fraca (Litoral, Região Jaguaribana); e moderada (Sertão Central e Inhamuns, Sertão de Crateús), em um cenário de abrandamento da situação. A questão é que uma seca prolongada, tal qual a de 2012 — que durou mal e mal até 2018 —, ameaça o frágil equilíbrio atual.

A previsão da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) é que o primeiro trimestre da quadra chuvosa — fevereiro a março —, tem 45% de chances de ser abaixo da média histórica. O que significaria redução da capacidade hídrica. Ate ontem, os 157 maiores açudes do Ceará estavam com 42,7% do volume total.

As boas chuvas de 2024, porém, tem acumulado bons volumes no litoral, e baixos resultados no Sertão Central e Inhamuns, maior macrorregião do Ceará e que traz "sertão" já no nome.

Lucas Fumagalli, meteorologista da Funceme, aponta que os 95,4mm de chuva até o dia 21 no Sertão Central e Inhamuns está "abaixo dos limites da normal climatológica na macrorregião, que, em março situa-se entre 140,3 mm e 206,1 mm".

"Todas as macrorregiões contribuem de forma semelhante para os acumulados de chuva no Ceará, e portanto, os desvios negativos também contribuem para o observado ainda abaixo da média no estado", argumenta.

A última vez que Fortaleza viveu a iminência de falta d'água foi durante a seca de 2012-2018. Em 2016, foi traçado um plano de racionamento que previa redução da pressão da água enviada à Capital, tarifa extra, desligamento das termelétricas e até abastecimento em dias alternados. Chegou a faltar água em vários bairros.

Antes disso, em 1993 e em 1980, Fortaleza chegou a ficar dias sem água nas torneiras.

O Ceará vive o histórico de escassez do estado mais seco do Brasil. E já é o que melhor monitora os recursos hídricos. O desafio que se impõe e fazer melhor com o pouco que cai do céu. (com pesquisa histórica O POVODOC)

 

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