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A vida no RS e a preocupação com o clima
Reportagem

A vida no RS e a preocupação com o clima

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Viver uma situação climática de calamidade pública sempre me pareceu algo muito distante. Durante 24 anos, morei em uma área privilegiada de Fortaleza e a ideia de que a chuva poderia ser algum tipo de ameaça era algo que ficava restrito às notícias na televisão. No cotidiano, sabia que o máximo que poderia acontecer era não sair de casa em algum momento durante um período de chuva mais forte. Eu não tinha noção de que isso é, na verdade, um grande privilégio. Quando comecei no jornalismo, comecei a me aproximar da realidade de pessoas que sofriam com a chuva, especialmente daquelas que viam a água subir e tomar todas as suas coisas nas comunidades mais carentes de Fortaleza.

Há dois anos, quando me mudei para Porto Alegre (RS), a preocupação com as adversidades do clima me fizeram ter preocupações reais. Ciclones, ondas de calor, quedas bruscas na temperatura passaram a fazer parte do que eu tinha que incluir nas minhas pesquisas diárias, normalmente antes de dormir e ao acordar. Na última segunda-feira (06/05), diante de toda a tragédia que já tirou a vida de quase uma centena de gaúchos (95 enquanto escrevo esse texto), precisei sair de casa. Meu bairro foi considerado área de risco pelo avanço das águas e a Prefeitura pediu para que todos os moradores deixassem a região. Nessa quarta-feira (08/05), a água que vem do rio Guaíba já ocupa toda a quadra da minha rua e ainda há possibilidade que o nível suba mais.

Após esse momento pessoal de desespero, já que agora estou mais seguro, não consigo parar de pensar na injustiça climática. A falta de políticas públicas de habitação, planejamento urbano, distribuição de renda e acesso a saúde e saneamento básico prejudicam os mais pobres, que estão longe de ser os responsáveis pela degradação ambiental que impacta diretamente em efeitos climáticos como esse. A onda de solidariedade formada no Rio Grande do Sul, em outros estados brasileiros e até mesmo países é fundamental para que vidas sejam salvas e a destruição seja atenuada. Entretanto, o que realmente pode fazer a diferença para prevenir desastres parecidos com esse é o que faremos a partir do momento que a água baixar. (Leonardo Maia, jornalista no Governo do Estado do Rio Grande do Sul)

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