"É, atrapalhou muito, né? Tem momento que a gente até pensa que é uma pancada mais séria lá, mas só eles entendem do problema e, quando a gente pergunta, repassam pra gente que não tem problema nenhum, é assim mesmo."
Este é um dos relatos apresentados no parecer técnico-científico "Danos socioambientais da geração de energia eólica na comunidade tradicional do Caraço, Aracati/CE" acerca do barulho produzido pelas hélices das torres eólicas.
O estudo, produzido em março de 2021 e coordenado pelo professor Jeovah Meireles, do departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), trata dos impactos socioambientais relacionados à fase de implantação e operação da Central Eólica Quixaba S/A Goldwind (Eólica), no território do Caraço e seu entorno, localizado no litoral norte do município de Aracati e a 2 km ao sul da vila de Majorlândia.
O documento analisou a disposição espacial dos aerogeradores, as vias de acesso, a constância dos ruídos, a desterritorialização dos espaços degradados pela eólica e os serviços ecológicos de suporte à vida.
Os pesquisadores notaram que, durante as atividades de campo, foram percebidos tanto no centro da vila e aos arredores, que os aerogeradores foram posicionados "sem levar em conta os danos causados à saúde comunitária pelos ruídos".
"Os ruídos das hélices, da central de geradores e demais equipamentos são percebidos pelos moradores durante ciclos ininterruptos", disse o documento.
De acordo com a pesquisa, a distância dos equipamentos para as moradias foram posicionadas em descumprimento à norma da Superintendência Estadual de Meio Ambiente (Semace), que é de, no mínimo, 300 metros.
"Da torre para a nossa casa só dá 100 metros. Tem uma casa que a distância do gerador para lá é de 10 metros", contou ao O POVO Diassis Santos, presidente da Associação Comunitária do Caraço.
A proximidade com os equipamentos, segundo ele, traz risco para a comunidade pois as torres provocam fumaça e fazem muito barulho. O filho de Diassis, Luan Santos, tem nos ruídos a principal queixa, sendo a sensação de que "como se tivesse batendo alguma coisa".
"Como já faz mais de 10 anos, meio que a gente já se acostumou, não incomoda tanto. Tem vezes que elas param de rodar e fica um silêncio, aí fica mais tranquilo. Mas mesmo assim, não é confortável”, reitera Luan.
Outro ponto apresentado pelo parecer técnico-científico foram as alterações na paisagem e nos ecossistemas.
"Evidenciou-se que essa influência negativa na paisagem não levou em conta o cotidiano das atividades comunitárias, principalmente aquelas relacionadas com a qualidade ambiental de seu entorno".
O POVO procurou a Energimp, empresa responsável pelo empreendimento Central Eólica Quixaba S/A Goldwind, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.