Os brasileiros não sofrem da mesma forma com as doenças relacionadas à falta de saneamento básico. As desigualdades sociais influenciam também na distribuição de esgotamento, água potável e coleta de lixo. Dependendo da etnia, nível socioeconômico, situação habitacional e região do País, os cidadãos podem estar mais sujeitos aos riscos.
De acordo com o Censo Demográfico de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os serviços públicos de saneamento registram menores índices entre os mais jovens.
A proporção da população residindo em domicílios com abastecimento de água, principalmente pela rede geral, foi de 80,9%, no grupo entre zero e 4 anos, e de 83,5% no grupo com 60 anos ou mais.
Em relação à coleta direta ou indireta de lixo, também há vantagem da faixa etária mais elevada: 89,5% no grupo entre zero e 4 anos e 90,8% no grupo com 60 anos ou mais.
A disparidade mais acentuada foi na proporção da população residindo em domicílios com esgotamento por rede coletora ou fluvial (inclusive fossa séptica conectada à rede): 57,3% no grupo entre zero e 4 anos, e 66,3% no grupo com 60 anos ou mais. As pessoas pretas, pardas e indígenas também têm proporções menores de serviços de saneamento básico do que pessoas de cor ou raça branca e amarela.
"Os lugares com pior saneamento, com pior condição de moradia, também é onde tem uma maior concentração da população negra, onde tem a maior concentração de população com baixa renda e com baixa escolaridade", explica Júlia Pereira, analista de relações institucionais do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS).
Por isso, o conceito de doenças determinadas socialmente (DDS) é aplicável para as patologias relacionadas à falta de saneamento.
"Você morar em lugares com pior saneamento, pior coleta de lixo, te expõe a muitos fatores de risco de doenças. Quando a gente vai ver onde são as maiores epidemias de dengue, elas vão estar concentradas nas regiões de menor taxa de saneamento, de maior concentração de lixo, e assim todas as outras doenças", afirma.
O acesso ao tratamento dessas doenças também é prejudicado. Um estudo da IEPS mostrou que a população preta e parda tem menos acesso a planos de saúde, dependendo majoritariamente do SUS.
Quilombolas, indígenas e comunidades tradicionais também têm menores taxas de saneamento e maior prevalência de infecções, doenças crônicas e mortalidade infantil, conforme o estudo.