O projeto Escola da Terra - Formação de Professores de Escolas Multisseriadas do Campo, Quilombolas e Indígenas, criado a partir do lançamento do Programa Nacional de Educação no Campo (Pronacampo) pelo Governo Federal em 2013, tem impacto relevante para a formação dessas populações, com a formação de mais de três mil professores.
Professora adjunta da Faculdade de Educação da UFC, Clarice Zientarski explica que o projeto envolve a formação de professores e distribuição de materiais didáticos. Há mais de dez anos, o projeto começou como extensão e curso de aperfeiçoamento. Depois, passou a oferecer curso de especialização com as mesmas características.
Com ações de ensino, pesquisa e extensão, o projeto é realizado numa parceria entre UFC, Ministério da Educação (MEC), Secretaria da Educação do Estado (Seduc) e secretarias municipais de Educação.
"Muitos são formados em faculdades de esquinas, só nos fins de semana. Uma formação aligeirada, frágil. A Escola na Terra vem na contramão, com uma formação mais densa, teórica, mas também com a práxis. Com a pedagogia da alternância, trabalhando o tempo-universidade e o tempo-comunidade. Depois, colocam em prática", detalha.
Ela destaca que esses grupos, especialmente os quilombolas, foram historicamente excluídos. "A exclusão social e educacional de uma maneira geral permanece. Se a gente for analisar os dados do Ceará, enquanto se divulga que tem as melhores notas do Ideb, educação na idade certa, há um índice de analfabetismo, e os grupos mais excluídos são justamente os negros", afirma.
Segundo ela, alguns projetos fizeram a pauta avançar, "mas é insuficiente diante da realidade que está posta". "A Escola da Terra assim como outros projetos contribuem, mas não são suficientes para um projeto de inserção na vida desses sujeitos históricos e sociais."
Clarice avalia que o sistema de cotas ainda é precário, considerando que "esses grupos têm uma educação básica muito frágil para concorrer, é quase inacessível". Ela corrobora que alguns ingressam, mas que a permanência é muito difícil dadas as condições. "A universidade é pública, mas os estudantes pagam por muita coisa. Na área das humanas, houve um avanço. Nos outros cursos, não. O número é muito baixo nas engenharias e na área da saúde", analisa.