A variabilidade e, principalmente, o aumento das temperaturas no Ceará têm impactos para além do desconforto térmico, em outras palavras, vão além daquela sensação de abafado durante o dia. As mudanças são observadas, sobretudo, no semiárido cearense com a perda de plantações e registro de secas mais prolongadas.
O impacto acontece em virtude dos solos que são danificados com aumento da temperatura média do ar. De acordo com especialistas, o semiárido cearense é considerado o principal afetado pelo aumento da temperatura média do ar. O Ceará possui cerca de 92% território composto por regiões semiáridas, com 184 municípios característicos do clima.
Nos locais, as altas temperaturas podem causar estresse nas culturas, reduzir a produtividade e afetar a qualidade das plantações e colheitas, além do calendário agrícola. Além disso, a evolução das temperaturas aumentam a taxa de evaporação, o que pode intensificar as condições de seca, onde o solo e a vegetação perdem mais água porque a temperatura está mais quente e a superfície não consegue esfriar.
À medida que as temperaturas continuarem subindo, os efeitos se tornarão mais sérios, principalmente no setor agrícola, é o que avalia o coordenador do curso de Mestrado Profissional em Climatologia (MPClimatologia) da Universidade Estadual do Ceará (Uece), o meteorologista Emerson Mariano da Silva.
“A produção diminui e os preços aumentam, além da qualidade de frutas e verduras que são afetadas, principalmente na agricultura familiar, que depende essencialmente das condições climáticas e da disponibilidade hídrica nas regiões que produzem esses alimentos”, exemplifica.
O estudo da Funceme também traz um alerta, salientando que as ondas de calor combinadas com condições de secas podem levar ao aumento de incêndios florestais e à degradação do solo, afetando a fertilidade da vegetação.
O documento exemplifica os impactos a partir de um estudo que mostra a influência do aumento da temperatura nas culturas de milho e feijão no estado do Ceará entre 1981 a 2015. Nas observações, foram identificados um aumento nas temperaturas máximas e mínimas e na evapotranspiração, principalmente na parte central do Estado.
Eles observaram redução nas áreas plantadas e na produção de feijão e milho, principalmente na parte oeste do Ceará. Ainda segundo Emerson, a vegetação nativa do Estado pode se perder por não se adaptar à variabilidade climática, necessitando de ações de controle da temperatura para evitar as perdas extremas nas regiões.