“Quanto mais CO2 [gás carbônico] estiver na atmosfera, mais o mundo vai esquentar”, diz o cientista do clima e professor do MPClimatologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Alexandre Costa. O especialista destaca que as atividades humanas vêm aumentando consideravelmente a emissão dos gases do efeito estufa e, consequentemente, deixando o Estado cada vez mais quente.
Dentre as atividades, destacam-se o desmatamento, as queimadas e o processo de urbanização. A pesquisadora da Funceme Glícia Garcia reitera que o uso e cobertura do solo pode ser um dos principais fatores para o aumento da temperatura. "O aumento de áreas urbanizadas e o desmatamento podem contribuir para o aumento da temperatura local", afirma.
Em 2023, o Estado teve um aumento de 28% no desmatamento em comparação ao ano anterior, saindo 23.434 em 2022 para 32.486 hectares (ha) de terra desflorestados no ano passado. Atualmente, o Ceará é a 14º unidade federativa que mais desmata no Brasil, com 12.224 ha desmatados neste ano. Os dados são do MapBiomas Alerta.
Em relação aos pontos de queimadas, o Ceará registrou, neste ano, até segunda-feira, 30 de setembro, 986 focos de queimadas em vegetação. O Estado teve uma redução de 7%. No mesmo período no ano passado, a região teve 1.016 focos, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima (OC), em 32 anos, de 1990 a 2022, foi observada uma redução de 36% da emissão de CO2 no Ceará, saindo de 35 milhões de toneladas de CO2 para 22 milhões. Apesar da redução, o cenário ainda é de alerta, principalmente pela tendência do aquecimento no Estado.
Alexandre ressalta que a queima de combustíveis fósseis — carvão, petróleo e gás — vem se destacando na região. “No Ceará, juntando as termelétricas com o uso de combustíveis no transporte, isso supera as emissões do uso da terra e também da agropecuária. Estamos mais próximos do cenário do mundo em relação à emissão, que é através da queima de combustíveis fósseis”, alerta.
O coordenador do mestrado em Climatologia da Uece reforça que o debate sobre as mudanças climáticas é antigo e que as consequências estão sendo cada vez mais observadas, o que, no entanto, poderia ter sido evitado.
“Grupos de pesquisas falaram das discussões, mas não chegaram à sociedade de forma efetiva. As informações chegaram para os tomadores de decisão, e parece que [eles] não acreditaram e pagaram para ver. Apenas hoje tem uma preocupação do mundo inteiro para tomar medidas de mitigação”, comenta Emerson.
Ainda segundo o especialista, é preciso seguir as orientações dos especialistas para frear as consequências do aumento das temperaturas médias do ar. Alexandre reitera as ações de mitigação para diminuir os impactos, como acordos climáticos. Dentre eles, o Protocolo de Montreal, tratado internacional aplicado em 1982 que buscou proteger a camada de ozônio.
O acordo buscou eliminar a produção e consumo das substâncias responsáveis por sua destruição (SDO), como o uso de gases clorofluorcarbonetos (CFCs), hidroclorofluorcarbonos (HCFCs) e semelhantes. Na época, a adoção das medidas determinadas pelo protocolo possibilitou diminuir as emissões e eliminar 98% dos gases danosos ao ozônio no mundo.