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Acesso à recuperação pós-alta é insuficiente
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Acesso à recuperação pós-alta é insuficiente

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Reabilitação em casa é pouco acessível. Pacientes acabam ficando sem acompanhamento (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Reabilitação em casa é pouco acessível. Pacientes acabam ficando sem acompanhamento

Apesar dos avanços no que se refere ao atendimento e às intervenções para casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC), o acesso à reabilitação após sair do hospital ainda é uma dificuldade para os pacientes. A continuação do tratamento pós-alta é determinante para evitar sequelas graves.

"Se tem sequela na fala, precisa de fonoaudiólogo; se tem sequela visual, oftalmologista; se tem sequelas motoras, precisa ser atendido pelo fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, principalmente para restaurar as funções que ele perdeu", explica o coordenador do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ramon Távora Viana.

"Não só aqui no Ceará, mas no Brasil a gente tem uma carência extremamente grande para reabilitação desses pacientes fora do ambiente hospitalar", destaca Fabrício Lima, neurologista e chefe da unidade de AVC do Hospital Geral de Fortaleza (HGF).

A oferta desse atendimento não é suficiente para suprir a demanda. Muitos pacientes acabam procurando reabilitação em serviços filantrópicos ou mesmo particulares.

Além de serem acompanhados no ambulatório da unidade nos primeiros meses, os pacientes também são referenciados para reabilitação no Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA).

O HGWA possui, inclusive, um Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD), que atende pacientes de Fortaleza. Atualmente, 88 dos 190 atendidos têm sequelas de AVC.

Ingrid Barros, geriatra do SAD do HGWA e especialista em cuidados paliativos, destaca que a reabilitação é capaz de melhorar muito a qualidade de vida do paciente e da família.

O serviço é direcionado aos casos de pacientes mais debilitados, como os acamados e os que utilizam sonda.

"Realmente, é uma rede que ainda está se formando. O atendimento domiciliar ainda está engatinhando no Estado", analisa Ingrid.

Quando saem do hospital, os pacientes também devem continuar sendo acompanhados na Atenção Primária para reduzir as chances de outro AVC, principalmente quando associado a comorbidades como diabetes, hipertensão e colesterol alto.

Em Fortaleza, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou, por meio de nota, que oferta reabilitação e tratamento para pacientes com sequelas de doenças, incluindo os acometidos com AVC, em policlínicas e instituições contratualizadas, além do programa Melhor em Casa.

O POVO questionou quantos pacientes de AVC eram atendidos nos serviços da SMS, mas não obteve resposta.

João Pedro do Juazeiro vive essa realidade após o AVC em janeiro de 2024. Xilógrafo, cordelista e Mestre da Cultura do Ceará, ele convive com sequelas e não tem assistência contínua na recuperação.

"Não sinto quente nem frio, o lado direito não tenho controle. O corpo está totalmente desequilibrado. Somente a mente está intacta", conta. No início, o artista foi acompanhado pela Rede Sarah, filantrópica especializada em reabilitação. No entanto, a reabilitação com profissionais já foi interrompida.

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