Além das sequelas físicas, a ocorrência de um AVC também deixa marcas na saúde mental dos pacientes. A técnica de enfermagem Analice Rodrigues teve um AVC aos 44. A reabilitação tem sido um período difícil. "Mexe muito com o emocional, né, com a sua rotina. A minha que era bem agitada e você paralisar assim da noite para o dia", compartilha.
Além de lidar com as sequelas, a dificuldade financeira após ficar sem trabalhar e de acesso ao tratamento preocupam. "O meu caso foi um estresse. Então, eu não poderia me estressar e nem me preocupar com nada, mas como você não se preocupar se a gente não tem uma renda financeira?", relata.
Analice ficou com sequelas no lado esquerdo do corpo e se locomove com cadeira de rodas. Com a fisioterapia, que ela faz na Rede Sarah, a técnica de enfermagem já conquista avanços nos movimentos.
O neurologista Octávio Marques Pontes Neto, chefe do Serviço de Neurologia Vascular e Emergências Neurológicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, explica que pessoas que tiveram AVC podem desenvolver doenças como depressão, que podem dificultar o tratamento do acidente vascular. "Tem uma base neuroquímica, o AVC altera o funcionamento do cérebro", relaciona.
A psicóloga Milena Setúbal, residente do programa de Neurologia e Neurocirurgia de Alta Complexidade pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/HGF), afirma que as sequelas impactam a funcionalidade e autonomia que o paciente tinha antes do AVC. Alterações que afetam as relações familiares e a qualidade de vida do indivíduo.
"Artigos mais recentes falam que uma a cada três pessoas que sobreviveram ao AVC vão experimentar sintomas clinicamente significativos de depressão. O que significa que algumas pessoas vão desenvolver uma sintomatologia sugestiva de depressão. Isso é natural que aconteça ali nos primeiros 12 meses depois e vai diminuindo, progressivamente. Mas cerca de 30% dessas pessoas permanece", explica.
Sem uma assistência hospitalar intensiva, as pessoas que ficam deprimidas tendem a apresentar uma significativa queda da recuperação funcional em comparação com as pessoas que não estão deprimidas.
"Ele (o paciente) não tem essa perspectiva de que vá melhorar. Tem muito essa relação com o sentido que ele encontra na vida. Entender que esse momento é um momento novo e que há muito para além da sequela", afirma Milena Setúbal.
Como no caso de Analice, é comum que questões financeiras afetem de forma intensa a saúde mental. Pessoas que eram provedores da família e ficam sem condições de trabalhar — mesmo que temporariamente — suportam uma "carga emocional muito maior".