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O segundo suspeito
Reportagem

O segundo suspeito

Coordenada
Edição Impressa
Tipo Notícia

Após o envolvimento de Mirian no crime ser descartado, a Polícia Civil buscou novas linhas de investigação. Foi feito um levantamento de pessoas em Jericoacoara com antecedentes por crimes como tráfico de drogas e violência contra a mulher, dando ênfase, ainda, a homens conhecidos por assediar turistas.

Também buscou-se identificar moradores que costumavam usar baladeiras, que eram adeptos de rituais que envolviam sacrifício humano, que frequentavam a região do Serrote ou, então, que foram citados em denúncias anônimas.

Além disso, os policiais foram atrás também de um casal francês que Gaia conheceu durante o trajeto entre Fortaleza e Jericoacoara e que chegou a convidá-la para “tomar uma cerveja à luz das estrelas”. Todas essas pessoas foram submetidas a exames de DNA, que não identificaram as presenças delas no local do crime. Também foi checado se um ex-namorado italiano de Gaia teria estado em Jericoacoara, o que não se confirmou.

A Polícia Civil só voltou a ter uma pista no segundo semestre de 2015. Foram analisadas cerca de 200 horas de filmagens de câmeras de vigilância instaladas em um restaurante localizado a cerca de 100 metros da pousada onde Gaia estava hospedada. Nas imagens, os policiais identificaram que, entre 12h15min e 12h20min do dia 24, uma mulher semelhante à italiana andava na região ao lado de um homem.

Esse homem foi identificado como sendo o cearense Francisco Douglas de Sousa, então com 22 anos. Em janeiro de 2016, ele teve a prisão temporária solicitada pela Polícia.

Os investigadores argumentaram que, como Douglas tinha costume de viajar à Europa, poderia perder-se o contato com ele caso a prisão não fosse decretada. Entre outubro de 2015 e 3 de janeiro de 2016, ele havia viajado para a Suécia e já tinha passagem marcada para retornar ao continente europeu.

“Não obstante a intensa movimentação policial após o fato, o suspeito em nenhum momento se manifestou, ou demonstrou sentimento de indignação, e ainda nem mesmo se apresentou para dar qualquer explicação à polícia, já que esteve na companhia da turista pouco tempo antes de um crime que foi amplamente divulgado”, citou no pedido de prisão o delegado Vicente de Paulo Aguiar Araújo.

Douglas foi preso em 2 de março em Sobral, município a 163,4 quilômetros de Jericoacoara de onde é natural. Em depoimento, ele afirmou nunca ter visto Gaia pessoalmente. Quando mostrado o vídeo em que, supostamente, aparecia ao lado da italiana, Douglas esclareceu que a mulher se tratava, na verdade, de uma outra turista estrangeira, uma mulher de dupla nacionalidade — sueca e norte-americana.

Diligências posteriores mostraram que Douglas falou a verdade. Em abril, a Polícia conseguiu localizar a turista citada por Douglas e esta, em videoconferência realizada direto dos Estados Unidos, confirmou ser ela nas imagens. Um exame pericial já havia constatado que a mulher que aparecia nas imagens tinha 1,56 metro de altura, enquanto Gaia tinha 1,68.

Além disso, foi encontrado um blog mantido pela sueca norte-americana em que ela descreveu o período em que esteve em Jericoacoara, chegando até mesmo a citar Douglas. Em fotos publicadas por ela, ainda é possível constatar que a mulher usava roupas e penteados semelhantes aos de Gaia.

Um fator que pesava contra Douglas foi um exame ter identificado que, no material genético encontrado no corpo de Gaia, havia perfil halotípico coincidente com o do DNA de Douglas. Entretanto, um outro laudo da Perícia Forense, elaborado aproximadamente um mês após o primeiro, esclareceu que um determinado perfil haplotípico não é exclusivo de uma única pessoa.

"O perfil haplotípico é composto por um conjunto de marcadores de regiões do Cromossomo Y com baixa taxa de mutação”, afirmam no laudo os peritos, que acrescentaram que o material encontrado poderia tanto ser de Douglas, quanto de seus descendentes ou ascendentes.

“Esses marcadores são transmitios por pais a seus descedentes do sexo masculino, por muitas gerações, portanto, toda linhagem paterna de uma família tem o mesmo perfil haplotípico do cromossomo Y”.

Douglas foi solto em 13 de abril de 2016, após ficar 42 dias preso. Em 14 de abril, ele conversou com O POVO, ocasião em que descreveu que os dias que passou preso foram os “piores da sua vida”.

“Você imagina uma pessoa que tem consciência que é inocente passando por isso tudo injustamente”, afirmou. “As condições para fazer as necessidades fisiológicas, não saber o que está se passando, não saber a hora, não ver a luz do sol”.

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