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Alicerce para finanças sustentáveis: Ceará é destaque nacional em educação financeira e fiscal para crianças
Reportagem

Alicerce para finanças sustentáveis: Ceará é destaque nacional em educação financeira e fiscal para crianças

Desenvolvimento de turmas para formação nos conceitos de educação fiscal ganham destaque no Ceará, que recebeu 4,3 mil medalhas na Olimpíada do Tesouro Direto de Educação Financeira
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O Ceará ficou em 3º no quadro de medalhas distribuídas na olimpíada da educação financeira (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Foto: José Cruz/Agência Brasil O Ceará ficou em 3º no quadro de medalhas distribuídas na olimpíada da educação financeira

O Brasil passa por um momento de transformação em relação à formação de cidadãos mais conscientes sobre sua vida financeira. Iniciativas voltadas à formação educacional de crianças e jovens visam formar uma geração diferente da atual.

O indicador de inadimplência da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) aponta que mais de 67 milhões de brasileiros estão inadimplentes, ou seja, 40,9% da população adulta está negativa.

Os dados apontam que cada consumidor negativado deve, em média, R$ 4.386,62, e a faixa mais endividada é composta por pessoas entre 41 e 60 anos, seguida dos jovens entre 26 e 40 anos. Outra pesquisa, produzida pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), aponta que a fatia de consumidores com contas em atraso subiu entre outubro e novembro.

Os dados mostram que, sob a perspectiva da tomada de crédito, mesmo com os gastos maiores de fim de ano, as dívidas abocanham uma fatia cada vez menor da renda das famílias, que têm buscado opções de crédito com prazos mais longos, ainda que com juros maiores. Ou seja, quem não está inadimplente e negativado, tem se endividado por períodos mais longos.

“Uma das facilidades para garantir essa melhora do perfil de endividamento foram os prazos cada vez mais longos para arcar com suas contas. Tanto que o percentual de famílias comprometidas com dívidas por mais de um ano avançou para 35,9%, o maior nível desde dezembro de 2021”, diz o estudo.

Dado o contexto, "investir na base" para construir um novo alicerce é a saída. E um movimento se destaca como exemplo: A Olimpíada do Tesouro Direto de Educação Financeira, mobilizando mais de meio milhão de alunos e mais de 6,5 mil escolas de todas as unidades da federação, envolvendo alunos do 6º ano do Fundamental ao 1º ano do Médio.

A competição se consolida como a maior olimpíada de educação financeira do País. Promovida pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e pela Bolsa Brasileira, a B3, a competição incentiva o aprendizado de finanças pessoais e matemática básica entre os estudantes do Ensino Fundamental e Médio.

"O sucesso da olimpíada evidencia que estamos diante de uma grande oportunidade de preparar melhor nossos jovens e, com isso, construir um futuro promissor. É só o começo", afirma Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional.

A educação financeira passou a fazer parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o Ensino Infantil e Fundamental em 2020. O tema é trabalhado em sala de aula por meio de ações como preparação de lanches para vender, produção de cofrinhos com garrafas PET, entre outros projetos.

Marina Naime, gerente de Projetos Educacionais da B3, destaca que a ideia da Olimpíada visa ir além. "O objetivo da Olimpíada foi justamente dar força a essa temática, que é crucial para a formação de longo prazo da sociedade."

"Queremos que as pessoas desenvolvam uma consciência financeira melhor e prosperem financeiramente", completa.

Ceará obteve mais de 4,3 mil medalhas na olimpíada da educação financeira(Foto: Fábio Lima)
Foto: Fábio Lima Ceará obteve mais de 4,3 mil medalhas na olimpíada da educação financeira

Dentro desse esforço, o Ceará é um dos destaque com iniciativas pioneiras na conscientização de crianças e jovens sobre a vida financeira. O Estado recebeu 4,3 mil medalhas na última edição da olimpíada e vai além na introdução da temática nas escolas: além da educação financeira, possui disciplina de educação fiscal.

O Programa Estadual de Educação Fiscal (PEF-CE) é pioneiro no País e é conduzido pelo Governo do Estado por meio de secretarias como Fazenda e Educação.

A iniciativa não ficou somente restrita às escolas, mas o tema Educação Fiscal foi cobrado no último concurso público promovido pela Sefaz, em 2021.

Desde 2019, 634 escolas incluíram em sua grade curricular a disciplina eletiva de Educação Fiscal. No período, 21.506 alunos de 94 municípios foram formados.

Clarissa Barroso, gestora do PEF-CE, destaca que o programa inclui uma série de conquistas, como a Educação Fiscal fazer parte do quadro de disciplinas eletivas (junto de outras 450 opções, como Redação para o Enem, Inglês, Artes e esportes variados) das escolas de Ensino Médio em Tempo Integral do Estado de, atualmente, 130 das 341 instituições.

"O programa sempre se destacou como uma referência em todo território brasileiro. Em agosto, o PEF-CE comemorou 26 anos de existência com uma trajetória de lutas e conquistas importantes. A cada ano, cresce o número de adesões e engajamento com a Educação Fiscal. A realização de prêmios tem se mostrado uma estratégia poderosa para atrair tanto estudantes quanto educadores", afirma.

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Mais notícias de Economia

Conhecimento na prática: Novas gerações e a relação com os investimentos

O desafio de promover uma gestão financeira responsável para as futuras gerações é crescente e nada mais natural que o ensino da Educação Financeira ocorra nas escolas. Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin) e da DSOP Educação Financeira, avalia que a expansão do ensino para além do eletivo é crucial para ajudar as novas gerações a enfrentar dificuldades econômicas durante a vida.

"A introdução da educação financeira desde cedo é essencial para formar uma nova geração mais consciente e responsável com o dinheiro. Ao ensinar as crianças e jovens a lidarem com o orçamento, o consumo consciente e o planejamento, estamos dando a eles ferramentas para tomar decisões financeiras mais acertadas no futuro, evitando endividamento e impulsividade."

Construir uma boa relação com as finanças vai além de ensinar a equilibrar orçamentos, mas também construir um comportamento consciente em relação a poupar e investir.

Na avaliação do sociólogo, economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), César Augusto Bergo, essa construção perpassa por diversos movimentos, mas, neste primeiro momento, o ideal é que os jovens construam conhecimentos até possuírem bagagem e capacidade para desenvolver uma estratégia.

A oferta de conteúdos sobre finanças e investimentos está distribuída em diversos meios e plataformas, o que pode confundir quem não possui uma base de conhecimentos em Educação Financeira.

Por isso vemos o caso de influenciadores patrocinados promovendo certos tipos de investimentos ou mesmo a popularização do jogo do "tigrinho" como se fosse uma opção de investimento, diz o economista.

"A educação financeira permite que cada pessoa tome suas decisões de forma responsável e consciente. Não se trata de proibir escolhas, mas de garantir que as pessoas compreendam os riscos e as consequências. É um passo importante para termos uma sociedade mais preparada para lidar com os desafios econômicos", pontua. (Samuel Pimentel)

FORTALEZA-CE, BRASIL, 05.12.2024: Silmara, professora de geografia e  João, aluno. Educação financeira nas escolas, a partir da realização da Olimpíada do Tesouro Direto.  (foto: Fabio Lima/ OPOVO)
FORTALEZA-CE, BRASIL, 05.12.2024: Silmara, professora de geografia e João, aluno. Educação financeira nas escolas, a partir da realização da Olimpíada do Tesouro Direto. (foto: Fabio Lima/ OPOVO)

Professora que viveu "época da poupança" destaca impacto da educação financeira

Uma professora de Geografia da rede pública municipal de Fortaleza encontrou na Olimpíada do Tesouro Direto de Educação Financeira uma oportunidade de aprendizado pessoal e transformação para seus alunos. Aos 42 anos, Silmara Barbosa relata que cresceu em um contexto onde a poupança era a única forma de investimento conhecida.

Além de expandir seus próprios horizontes ao aprender sobre opções de renda fixa e variável, ela percebeu o impacto dessa educação no ambiente familiar dos alunos. "Muitos pais não têm esse conhecimento, e os filhos acabam levando o aprendizado para casa. Planejar gastos, mesmo com uma renda limitada, pode transformar a vida familiar."

A descoberta da olimpíada veio enquanto Silmara buscava mais conhecimento sobre finanças pessoais no site do Tesouro Nacional. Ela achou que seria uma oportunidade de compartilhar esse conhecimento com os alunos. E considera a educação financeira um tema transversal, diretamente relacionado com a geografia que leciona.

"Isso ampliou meus horizontes. Foi um aprendizado pessoal e também algo que pude transmitir para os alunos. Ensinar acaba sendo uma forma de consolidar o que a gente aprende", destacou.

Já a recepção dos estudantes foi uma surpresa para a professora. Muitos já tinham algum contato com o mundo financeiro, como contas em bancos digitais e pequenas economias de mesadas. "Eles já entendem a importância de economizar e planejar para o futuro. Foi uma surpresa ver como eles já estavam atentos a isso".

Para os próximos anos, a professora pretende integrar ainda mais a educação financeira ao currículo, incluindo a educação fiscal sobre impostos caso este seja um tema abordado em edições futuras da olimpíada. "Quero trabalhar o tema durante todo o ano letivo, desde questões como inflação até o impacto de parcerias comerciais entre países." (Ana Luiza Serrão)

FORTALEZA-CE, BRASIL, 05.12.2024: João, aluno. Educação financeira nas escolas, a partir da realização da Olimpíada do Tesouro Direto.  (foto: Fabio Lima/ OPOVO)
FORTALEZA-CE, BRASIL, 05.12.2024: João, aluno. Educação financeira nas escolas, a partir da realização da Olimpíada do Tesouro Direto. (foto: Fabio Lima/ OPOVO)

TikTok inspira aluno cearense a explorar o mundo das finanças

O aluno do 8º ano da rede pública de Fortaleza, João Victor Anjos, de 13 anos, encontrou no TikTok o primeiro passo para despertar seu interesse por finanças e, com isso, participou pela primeira vez da Olimpíada do Tesouro Direto de Educação Financeira.

Embora não siga um influenciador fixo de finanças nas redes sociais, ele consome conteúdos variados sobre o tema e ampliou seus conhecimentos de forma aprofundada com as aulas no colégio.

"Eu já acompanhava alguns canais no TikTok que falavam sobre bolsa de valores, Tesouro Direto, Selic (taxa básica de juros brasileira) e essas coisas. Quando soube da olimpíada, me interessei mais", detalhou.

Na visão do garoto, a prova trouxe desafios, mas foi acessível. Ele, inclusive, pretende participar novamente nos próximos anos. O seu interesse pelo universo financeiro foi desenvolvido por conta própria, mas ele passou a partilhar com familiares.

"Minha mãe sempre me ensinou que não podemos sair comprando tudo o que vemos para evitar dívidas. Depois que aprendi mais, ajudei ela a se organizar melhor, usando ferramentas como as caixinhas do Nubank", disse.

"Pretendo investir quando for mais velho. Acho muito importante, principalmente para ter um dinheiro guardado para o futuro", acrescentou João, relatando que já tem algum dinheiro guardado, mas ainda sem planos para uso no futuro. (Ana Luiza Serrão)

Tributos

A Educação Fiscal objetiva o entendimento acerca da função socioeconômica dos tributos e da importância do controle social por meio de projetos pedagógicos

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