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Início da vida financeira: A ascensão da conta bancária para menores de idade
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Início da vida financeira: A ascensão da conta bancária para menores de idade

|Bancarização| Instituições financeiras destacam procura e crescimento de contas para crianças e jovens
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Abertura de conta bancária para menores de 18 anos. (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Abertura de conta bancária para menores de 18 anos.

A criação de uma conta bancária antes dos 18 anos pode ser um caminho adotado para o início da vida financeira de crianças e adolescentes.

Instituições financeiras ofertam a modalidade com funcionalidades e permitem que os responsáveis acompanhem as movimentações dos jovens.

A facilidade impulsiona o nicho nos bancos, que veem a procura aumentar e o número de contas crescer em até 50% em um ano.

E a busca maior pode ser justificada pela rapidez do banco digital e pela digitalização do dinheiro, explica Érico Veras Marques, economista e pesquisador de Finanças Comportamentais.

No caso do Banco do Brasil, é oferecido o BB Cash, voltado para menores de idade entre 8 e 17 anos.

A instituição tem conta corrente, Pix, investimento, poupança, dentre outros, além de ter aquela permissão para o acompamento das movimentações realizadas.

Desde o início do BB Cash, em outubro de 2022, mais de 266 mil contas foram abertas, sendo o Pix o meio de maior movimentação, segundo o Banco do Brasil. De acordo com a empresa, o engajamento dos clientes na modalidade é de 90%.

O Bradesco oferece a nextJoy, em parceria com a Next e a Disney, uma plataforma de movimentação financeira voltada para o público de até 17 anos.

Dentre as suas modalidades, a nextJoy possui a “mesada programada”, uma ação para programar a quantia enviada.

E desde junho de 2022, o Nubank possibilita que jovens de 10 a 17 anos tenham contas bancárias e realizem ações, como Pix e compras online com o cartão com função débito virtual.

Neste caso, para o monitoramento da conta, o responsável tem acesso ao controle de movimentação, mas não possibilita realizar transações e ações na conta do menor de idade.

Segundo a instituição bancária, o formato possui 1,2 milhão de clientes no Brasil. No Ceará, o número de contas ativas é de 100 mil.

Já o banco digital Inter oferece dois formatos bancários. A Conta Kids é destinada para a faixa etária de 0 a 12 anos e a Inter You para o público entre 13 e 17 anos. As duas opções permitem acesso ao Pix, poupança e outras ações.

O Inter já possui mais de 3,13 milhões de clientes menores de idade no Brasil. Do total, 30% dos perfis foram abertos em 2023.

"Esse crescimento se deve ao fato de termos cada vez mais jovens buscando autonomia para fazer suas escolhas e porque trazemos a proposta de ser um parceiro desse público, facilitando sua jornada financeira", analisa o Inter.

O banco Itaú também oferta dois tipos de conta para a faixa etária. Por meio do Iti Itaú, banco digital do grupo, a criação de uma conta é permitida para jovens de 14 a 17 anos.

A adesão permite que o menor de idade tenha uma funcionalidade para estabelecer metas de gastos e outras funções.

"Seja com dinheiro próprio ou com a ajuda financeira dos pais ou responsáveis, queremos proporcionar a possibilidade de os jovens aprenderem desde cedo a fazer a gestão de seus gastos", destaca João Araújo, diretor do Iti Itaú.

O outro perfil de conta é o Player's Bank destinadas aos gamers, criada com o objetivo de auxiliar a gestão financeira.

A empresa permite um limite diário máximo de movimentação de R$ 300 e R$ 2 mil mensais, a fim de fornecer segurança no início da vida bancária.

Já a Caixa Econômica Federal permite a abertura de contas poupança ou corrente para menores de idade, que só pode ser realizada desde que a criança ou jovem esteja representada pelo pai, mãe ou representante legal devidamente construído.

O formato bancário permite a realização de saques, transferências e Pix.

Outra possibilidade é o C6 Yellow, do grupo C6, com titularidade do menor de idade e acompanhada pelo responsável. A instituição tem a alternativa ainda de realizar investimentos.

Em relação ao crescimento da modalidade, o C6 Yellow registrou um aumento de 50% no número de contas no Ceará entre dezembro de 2022 e dezembro de 2023. Já no âmbito nacional, o aumento foi de 40% no mesmo período.

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A bancarização por meio do Pé-de-Meia

O Pé-de-Meia, novo projeto de incentivo financeiro-educacional do Governo Federal, em modalidade de poupança, está com início programado para este ano. O objetivo é promover a permanência e a conclusão escolar de pessoas matriculadas no ensino médio público, além de democratizar o acesso e reduzir a desigualdade social entre os estudantes. Para o recebimento do benefício, os jovens terão uma conta aberta automaticamente no próprio nome, o que pode expandir a população bancarizada e funcionar como uma ferramenta de inclusão financeira, analisa Carolina Matos, mestre em Economia.

Entretanto, medidas de educação financeira devem ser implementadas, analisa a economista. "Para qualquer contexto, a existência de uma ferramenta em si não garante sua utilização adequada. Juntas com o programa, medidas planejadas de educação financeira merecerão atenção de diversas esferas de políticas públicas".

Carolina também destaca que o incentivo financeiro não pode ser suficiente para o jovem permanecer no ambiente escolar, já que existem carências estruturais na educação pública brasileira. "Se o jovem não se sentir nem interessado nem acolhido nesse ambiente, o abandono pode ser inevitável".

Um dos incentivos para a permanência no programa é a frequência nas aulas e a aprovação no fim do ano escolar, que podem gerar uma pressão sobre os professores, já que uma reprovação pode retirar o aluno do programa. Acerca do planejamento financeiro, a ação é colocada em segundo plano para a população de baixa renda.

"A mentalidade financeira é secundarizada nos grupos socialmente vulneráveis, mas por uma razão muito sensível: com baixa renda, só se paga a alimentação e as contas básicas do mês", explica Carolina.

A economista pontua que os conhecimentos sobre finanças pessoais, planejamento, noções bancárias e orçamento familiar funcionam como um "instrumento objetivo para formatar a conscientização".

Com os elementos financeiros essenciais, a educação financeira também é uma forma de trabalhar a relação com a família e a comunidade para uma visão de possibilidades de crescimento e projeções de perspectivas alcançáveis. "Mais uma vez, a escola tem um papel protagonista nesse processo, podendo ofertar educação em tempo integral, acompanhamento social-familiar e psicológico, e explorando capacidades que indiquem inclinações profissionais".

Para efeito de sucesso do Pé-de-Meia a longo prazo, além de analisar a redução da evasão escolar, outra observação necessária é se as famílias contempladas pelo programa reduziram o endividamento. Também é válido observar, acerca dos resultados do benefício educacional, os investimentos realizados pelos alunos e se houve uma redução no endividamento das famílias, indica Carolina Matos.

"Se na transição entre a conclusão e a entrada no mercado de trabalho, o jovem não sofreu piora em sua qualidade de vida, considerando nível de renda, eventual ingresso em curso de nível profissionalizante ou superior, organização de negócio próprio, ou conquista de uma vaga de trabalho que lhe permita crescer e se aperfeiçoar profissionalmente", finaliza.

FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 23-02-2024: Agustin Herrero e Cecília Seligman falam sobre abertura de conta bancária para seus filhos que são menores de 18 anos. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 23-02-2024: Agustin Herrero e Cecília Seligman falam sobre abertura de conta bancária para seus filhos que são menores de 18 anos. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)

O acesso ao banco como direção na educação financeira

A utilização maior de transferências com Pix e cartões foi um dos motivos para a criação da conta bancária para os filhos antes dos 18 anos, explica a empresária Cecília Seligmann, 47. Junto com seu marido, Agustin Herrero, 51, o casal adotou a modalidade pela primeira vez com a filha mais velha Sofia Herrero, 18, que à época tinha 16 anos.

O depósito da mesada na conta foi uma forma de facilitar pagamentos e ajudar a filha com a gestão da quantia recebida mensalmente. "A ideia foi abrir uma conta no nome dela (Sofia) e colocar um dinheiro mensal para poder fazer essa gestão e se programar para gastar aquilo".

Atualmente, já com a maioridade atingida, Sofia pontua que além da educação financeira, o contato com o banco foi um caminho para a apresentação de conceitos básicos financeiros, como boletos e poupança.

"O contato com o banco, físico ou digital, desde a adolescência, foi me gerando um senso maior de responsabilidade. Mesmo que a minha participação fosse mínima, eu sentia que eu estava participando da economia de alguma forma".

O gerenciamento da mesada também contribuiu para a gestão do primeiro salário como professora de inglês em uma escola de idiomas, aos 17 anos, e com o estágio atual. "Quando eu fiz 17 anos e recebi meu primeiro salário, eu senti uma facilidade não só de administrar o dinheiro com o banco, mas eu tinha essa consciência de gerar e render todo mês. Hoje em dia eu tenho um controle financeiro e uma responsabilidade no valor que eu gasto", destaca a estagiária.

Para Marco Herrero, 16, também filho do casal, o dinheiro dado mensalmente pelos pais desperta um sentimento de responsabilidade. "Por ter minha própria conta, eu consigo separar metade para gastos, metade para lazer e outras coisas. Consequentemente, eu tenho meu controle e evito o consumismo".

O modelo financeiro também é usado para a filha mais nova de Cecília e Agustin, Olívia Herrero, 12. "O uso da conta digital é prático e proporciona mais liberdade para administração do próprio dinheiro, afirma Olívia". A responsabilidade financeira também acompanha a filha mais nova. "Com a minha conta, eu administro melhor o meu dinheiro".

FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 23-02-2024: Agustin Herrero e Cecília Seligman falam sobre abertura de conta bancária para seus filhos que são menores de 18 anos. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 23-02-2024: Agustin Herrero e Cecília Seligman falam sobre abertura de conta bancária para seus filhos que são menores de 18 anos. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)

Conta bancária e conceitos financeiros devem ser aliados

A abertura de uma conta bancária pode ser uma boa maneira de promover a educação financeira desde cedo, principalmente com a introdução de conceitos de poupança e gestão de dinheiro, afirma o economista Alex Araújo. O economista explica que a gestão da mesada e o estabelecimento de metas financeiras ajudam a criança a compreender a importância dos investimentos e "a valorizar o esforço necessário para alcançar seus objetivos financeiros, como economizar para comprar um brinquedo desejado ou até mesmo custear atividades educacionais".

Para Alex, a abertura de uma conta bancária também deve ser acompanhada de conceitos financeiros. "Se a iniciativa for aliada a outros conceitos de educação financeira, como planejamento financeiro, elaboração do orçamento e conceitos básicos de matemática financeira, estaremos contribuindo para a saúde financeira dos futuros consumidores".

O jovem terá responsabilidades atribuídas com a criação da conta bancária, como o monitoramento dos saldos da conta, o acompanhamento de gastos e o entendimento sobre necessidades e desejos, exemplifica. Alex também ressalta que a falta de educação voltada para finanças pessoais é um problema bastante recorrente na sociedade. "Acredito que iniciar a criança desde cedo no mundo financeiro ajuda a evitar tais problemas no futuro."

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