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Casos de estelionato já superam os de roubos no Ceará
Reportagem

Casos de estelionato já superam os de roubos no Ceará

| ESTATÍSTICAS | No primeiro semestre de 2024, média foi de 187,90 denúncias de estelionato por dia, enquanto o número diário de roubos foi de 134,98
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Há três anos, os casos de estelionato superam os de roubos no Ceará, conforme as estatísticas da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Enquanto, no primeiro semestre de 2024, 24.433 casos de Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVPs) foram registrados no Estado (uma média de 134,98 por dia), 34.010 casos de estelionato têm uma média de 187,90 por dia.

A interconectividade cada vez maior da sociedade ajuda a explicar o fenômeno. Aos golpes tradicionais e "físicos", como o "golpe do baludo" (que simula uma quantia de dinheiro jogado em via pública), somaram-se golpes virtuais, como o do Pix, que utilizam técnicas de engenharia social e phishing.

A delegada Keyla Lacerda, titular da Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), aponta que os golpes virtuais se intensificaram — não só no Ceará, mas também no Brasil e em todo o mundo — quando foi decretado, em 2020, o isolamento social visando conter a pandemia de coronavírus.

Com a maior parte das pessoas em casa, explica a delegada, consequentemente, houve uma utilização cada vez maior de meios cibernéticos, inclusive, para fazer transferências bancárias. O advento do Pix, disponibilizado para o público também em 2020, impactou no aumento do registro de crimes.

Os dados da SSPDS mostram que, no Ceará, os casos de estelionato dispararam 96,07% entre 2019 e 2020, passando de 26.227 casos para 51.424.

Somente em junho de 2020, foram 7.522 registros de denúncias à Polícia no Ceará, uma média de 250,73 casos diários, recorde absoluto desde 2015. Desde então, os registros de estelionatos só aumentaram no Estado, ao passo que os de roubos, diminuíram.

Para Lacerda, os criminosos passaram a ver no ambiente virtual uma série de oportunidades para golpes, aproveitando-se da aparente facilidade em relação a outras modalidades delituosas. "Isso gera uma pseudo sensação de impunidade ou de dificuldade de rastreio", afirma.

A necessidade existente por parte das autoridades policiais de solicitarem à Justiça pedidos de quebra de sigilo telemático, bancário ou telefônico de suspeitos de golpe ocasiona, lembra a delegada, em uma demora que pode dar aos criminosos tempo para esvaecer os valores.

Lacerda, porém, adverte que a Polícia Civil do Ceará (PC-CE) tem, constantemente, realizado operações — inclusive, em parceria com órgãos de outros estados — para combater quadrilhas especializadas nesses golpes.

Como O POVO mostrou no último dia 16 de dezembro, de janeiro a novembro, 123 autos de prisões/apreensões em flagrante por crime de estelionato foram realizados no Estado, conforme a SSPDS. Foi um aumento de 10,8% em relação aos 111 casos registrados no mesmo período de 2023.

A delegada Keyla Lacerda orienta que a vítima de um golpe sempre denuncie o crime, o que pode ocorrer tanto virtualmente — através da Delegacia Eletrônica (www.delegaciaeletronica.ce.gov.br), quanto pessoalmente, nas delegacias que cobrem a região onde mora a pessoa que está denunciando.

Além de denunciar aos órgãos de segurança, as vítimas devem procurar suas instituições financeiras, orienta a delegada.

Relembre alguns dos principais golpes que viraram notícia no O POVO em 2024

Operação Falso Advogado

Em 22 de fevereiro, foi deflagrada a terceira fase da operação Falso Advogado, a qual tinha como alvo uma organização criminosa cearense que aplicou golpes em mais de 200 vítimas somente em Santa Catarina. Os criminosos se passavam por advogados ou mesmo juízes e desembargadores e diziam que as vítimas tinham valores de precatórios a receber. Para isso, seria necessário o pagamento de taxas e valores de serviços em cartórios. O prejuízo total foi estimado em R$ 3,5 milhões.

Operação Restauração

Em 23 de fevereiro, a Polícia Civil mirou um grupo suspeito de praticar golpes ao estilo das pirâmides financeiras. Era prometido às vítimas um alto retorno financeiro a partir de investimentos em aplicações de criptoativos e apostas online. Na ação, foram confiscados bens avaliados em cerca de R$ 14 milhões, incluindo oito carros de luxo, lancha, um imóvel e 25 relógios.

Operação Fábrica
dos Sonhos

Nessa ação, foi desbaratado um esquema que consistia na abertura de contas "fáceis" com dados pessoais de terceiros e solicitação de cartões de crédito nos nomes das vítimas. Com o dinheiro obtido, os golpistas abriam empresas de fachada, faziam revendas de veículos e simulavam vendas na internet. Em junho, a operação prendeu três suspeitos e recuperou R$ 1,5 milhão em carros de luxo e R$ 1 milhão em contas e bens materiais.

Operação Defender

A Polícia Civil identificou um grupo especializado em anunciar a venda de motocicletas por meio de redes sociais, fazendo se passar por vendedores de lojas consagradas no mercado. Após receberem entrada ou mesmo o valor inteiro do veículo, os golpistas apagavam os perfis, que eram falsos, pelos quais as motos eram negociadas. Mais de 20 pessoas foram identificadas como tendo participação no esquema. Três suspeitos foram presos em 30 de outubro.

Operação Falsa Central

Em 21 de novembro, operação coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública desmontou uma associação criminosa que simulava ser representantes de instituições financeiras para obter informações como senhas e dados bancários e, a partir disso, fazer transferências indevidas. Mandados judiciais foram cumpridos no Ceará, em Goiás, no Pará, no Piauí e em São Paulo, sendo 37 de prisão temporária e 55 de busca
e apreensão.

Leilão falso

Em 13 de dezembro, quatro pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Estadual (MPCE) sob acusação de oferecerem produtos eletrônicos supostamente adquiridos em leilões da Receita Federal a preços vantajosos. As vítimas faziam transferências de grandes valores, mas não recebiam as mercadorias. Somente uma mulher perdeu R$34.000.

Disparos em massa
de mensagens em nome
do Detran

Também em dezembro, O POVO mostrou que inúmeras pessoas receberam mensagens em seus celulares em nome do Detran afirmando que a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) delas poderia ser suspensa. Nos SMS, constavam um link para um site em que a suposta pendência poderia seria quitada. No site falso, era gerado um boleto para a realização de pagamentos
em dinheiro.

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