A população idosa tende a aumentar cada vez mais. Mas será que as cidades estão preparadas para acolher pessoas mais velhas? A resposta é não. No Brasil, a maioria das cidades não atua considerando demandas para essa parcela da população. Há uma necessidade de políticas públicas mais efetivas não só em saúde e assistência social, mas também inclusão digital, educação e estilo de vida ativo.
Taxas como fecundidade e número de nascimentos por ano recuaram nas últimas décadas. Em contrapartida, a esperança de vida ao nascer subiu de 71,1 anos em 2000 para 76,4 anos em 2023. Conforme as Projeções de População do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados do Censo Demográfico 2022, índice deve chegar aos 83,9 anos em 2070.
A população com 60 anos ou mais chegou a 32, 1 milhões (15,6%) em 2022, um aumento de 56,0% em relação a 2010, quando era de 20, 5 milhões (10,8%), conforme o levantamento do Censo mais recente.
Em 2010, o índice de envelhecimento no Brasil era de 30,7. O número chegou a 55,2 em 2022, ou seja, há 55,2 pessoas com 65 anos ou mais de idade para cada 100 crianças de 0 a 14 anos.
Antônio Leitão, gerente do Instituto de Longevidade MAG, avalia que as políticas públicas no Brasil ainda não acompanham adequadamente as demandas da população idosa. Segundo ele, embora alguns municípios se destaquem como bons exemplos, "a grande maioria ainda tem muito a melhorar".
"Nessa 3ª edição do IDL (Índice de Desenvolvimento Urbano para a Longevidade) idealizado pelo Instituto, todos os 5.570 municípios brasileiros foram avaliados e apenas 428 (ou meros 7%) alcançaram um desempenho satisfatório, correspondendo a um índice global igual ou superior a 60, numa escala de 0 a 100", explica.
De acordo com Antônio Leitão, para melhorar a qualidade de vida da população idosa, "é fundamental investir em infraestrutura básica e em políticas públicas integradas".
Segundo ele, o desafio é global, com muitos países enfrentando dificuldades em adaptar suas políticas para lidar com o envelhecimento da população. "No entanto, algumas nações avançaram mais rapidamente na criação de cidades amigáveis aos idosos, com boas práticas de acessibilidade, segurança e sistemas de saúde voltados para essa faixa etária", avalia.
O termo Blue Zones, ou, traduzindo, Zonas Azuis, é utilizado desde o início dos anos 2000 para identificar regiões com grandes concentrações de idosos. Ana Maria Malik, coordenadora do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão da Saúde (FGV Saúde), vinculado à Fundação Getulio Vargas, comenta que as Blue Zones são "comunidades nas quais as pessoas têm condições de vida que não estão ao alcance de 90% da população mundial".
"Morar num lugar tranquilo, você conseguir cultivar a sua própria horta, fazer exercício, visitar os vizinhos. São são condições, características muito específicas, que acabam ficando distante da realidade", analisa.
É preciso ter em mente que modelos de cidades amigáveis a idosos no exterior podem ser utilizados como referência, mas é preciso dar ênfase à realidade brasileira e à diversidade de contextos e necessidades entre a população idosa.
Uma cidade melhor para os idosos deve proporcionar um envelhecimento saudável. Para isso, a gestão pública deve "levar a sério o aspecto de saúde em todas as políticas", não de forma isolada. "Como vai fazer para tentar se manter saudável ao máximo? Comer, dormir, morar, se exercitar, ter vida social", cita.
É preciso envolver assistência social, transportes, cultura, tudo o que ajuda a manter a saúde em todas as políticas urbanas.
Políticas para idosos não devem se limitar a serviços de saúde
Quem vive mais, tem o direito de viver de forma plena. As políticas para idosos precisam estar integradas e contemplar uma perspectiva além da saúde-doença. Conforme especialistas, uma das principais preocupações é a infraestrutura urbana, incluindo mobilidade e transporte público acessíveis. Mas o idoso não vai só ao médico.
Educação, cultura, sociabilidade. Garantir oportunidades para uma vida ativa e saudável são fundamentais para promover a dignidade e o bem-estar da população idosa.
"O idoso tem que ter o suporte de uma cidade que vai torná-lo ou vai intensificar uma vida mais ativa. Não é porque a gente tá envelhecendo que a gente vai diminuir a quantidade de atividades que a gente tem na vida. E a cidade ela tem que ser pensada para acolher. Desde a criança até o idoso", afirma Luciene Pessotti, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento Espírito Santo (IAB-ES).
Contribuir para o envelhecimento saudável é um desafio complexo que requer uma ação coordenada entre os diversos setores da sociedade e esferas de governo, visando a construção de cidades e comunidades mais inclusivas e preparadas para a longevidade.
Julio Alfredo Racchumi, doutor em Demografia e professor do Departamento de Estudos Interdisciplinares da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca que os espaços urbanos devem permitir maior mobilidade ou uma mobilidade independente e autônoma dos idosos, considerando, por exemplo, as calçadas bem pavimentadas e rampas.
Também é importante, segundo ele, pensar num transporte público adaptado com uma sinalização adequada, que permita a locomoção e acesso.
"Pode-se pensar em criar conselhos ou incluí-los de uma forma mais social, programas que permitam ter uma participação cívica mais ativa, na qual tenha também algumas aspectos culturais de lazer, de convivência que eles possam também fazer parte", exemplifica.
Ele também destaca a questão da segurança. "Proteger aos idosos, desenvolver políticas que possam proteger aos idosos contra abusos físicos, psicológicos e financeiros também é uma boa iniciativa a pensar. Criando campanhas, treinando profissionais, por exemplo", acrescenta.
Julio Alfredo cita que jé existem documentos para garantia de direitos dos idosos, como Estatuto do Idoso (2003) e o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (2011).
"A gente já tem algumas leis e políticas que já foram criadas não muitos anos atrás. O que falta, talvez, é fazer algumas ajustes, algumas revisões com especialistas, adequando-se aos novos novo contexto que a gente tem", avalia.
Outros ponto abordado pelos pesquisadores é a educação digital. É importante incluir os idosos no mundo digital, oferecendo educação e suporte para o uso de tecnologias. Ações que podem, inclusive, proteger essa população de golpes e outros tipos de crimes.
Eu acho que tem que pensar em o que que você pode oferecer para essa população no sentido de atividades comunitárias. Existem algumas universidades para a terceira idade. Ensinar a lidar com aplicativos, por exeplo", diz Ana Maria Malik, coordenadora do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão da Saúde (FGV Saúde), vinculado à Fundação Getulio Vargas.
Nessa perspectiva, é essencial criar espaços e atividades que incentivem a convivência social, o lazer e a prática de exercícios físicos. Elementos importantes para a saúde mental e física dos idosos. Bem como Incentivar a participação da comunidade no cuidado com os idosos, por meio de programas que envolvam vizinhos e profissionais locais.