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Exportações do Ceará entre as afetadas do País por tarifas dos EUA sobre aço e alumínio
Reportagem

Exportações do Ceará entre as afetadas do País por tarifas dos EUA sobre aço e alumínio

| IMPOSTO | Especialistas divergem quanto impactos, mas EUA são o principal destino das exportações cearenses, com destaque para o aço
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Placas de aço são um dos produtos mais exportados pelo Ceará. (Foto: Fábio Lima)
Foto: Fábio Lima Placas de aço são um dos produtos mais exportados pelo Ceará.

O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, cumpriu ontem sua promessa de impor tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para o país, sem exceções. A medida impacta diretamente o Brasil, segundo maior fornecedor dos produtos ao país, mas também Canadá,
México e diversos outros países, acirrando o clima de guerra comercial pelo mundo.

No Brasil, o Ceará pode enfrentar um cenário de incertezas, considerando que os EUA são um importante mercado consumidor das placas de aço produzidas no Complexo do Pecém, principal item da pauta de exportação do Estado.

Dados do sistema aberto Comex Stat, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) do Governo Federal, mostram que, em 2024, o Ceará exportou US$ FOB 441,2 milhões em ferro fundido, ferro e aço aos EUA, mas faltam informações sobre os meses de outubro e de dezembro do ano passado na plataforma.

Os dados mais recentes do Ceará em Comex, produzido pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), em outubro, indicam exportações cearenses de US$ 591,4 milhões aos Estados Unidos. No geral, ferro e aço exportaram US$ FOB 536,2 milhões no acumulado do ano, mas não houve detalhamento de quanto era a fatia dos EUA.

O POVO demandou o Mdic, a Fiec e o Instituto Aço Brasil para obter mais dados e entrevistas, bem como informações de quanto é o valor da tarifa cobrada em produtos de aço e alumínio brasileiros que vão hoje aos EUA. O órgão governamental disse que não comentará a medida até haver um decreto oficial norte-americano. Os outros não se pronunciaram.

Esta não é a primeira tentativa de taxação

No primeiro mandato de Trump, havia uma discussão para taxar em 25% o aço e em 10% o alumínio vindos de fora dos EUA, algo que não se concretizou na prática para o Brasil e outros países, que conseguiram uma espécie de isenção por meio de cotas. Especialistas comentaram que a alíquota depende de cada produto atualmente.

O especialista em comércio internacional, Augusto Fernandes, explicou que a primeira vez que os EUA usaram essa estratégia não havia tanta preocupação para inflação e preços, diferentemente do contexto atual. Se houver impactos das tarifas, toda a cadeia será afetada na sua visão, pois tudo está interligado.

“Um produto não é produzido isoladamente, e os países que se relacionam nesse setor estão conectados. Não posso estrangular um elo da cadeia sem comprometer o restante do processo produtivo. Tanto as importações americanas podem ser comprometidas quanto as exportações brasileiras”, prevê o especialista.

Um tiro no pé?

O diretor do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico no Estado do Ceará (Simec), Ricardo Petral, acredita que o presidente norte-americano quer pressionar maior produção interna de aço e alumínio para não depender do mercado internacional. Todavia, ressalta que a indústria dos EUA precisa do exterior para concretizar projetos.

“Os Estados Unidos dependem do mercado externo. Se simplesmente sobretaxarem e encerrarem a importação, o que vai acontecer? Haverá pressão da indústria americana, e os preços internos vão subir. Sobretaxar uma caneta ou um automóvel é uma coisa. Sobretaxar matéria-prima é outra. O impacto é muito maior”, avaliou Ricardo.

A estratégia do governo norte-americano é forçar países como o Brasil a baixarem suas tarifas para que eles também reduzam as suas, de acordo com o economista e doutor em relações internacionais pela Universidade de Lisboa, Igor Lucena. “Foi isso que Trump afirmou na última reunião: ele vai trabalhar em cima da reciprocidade.”

O Brasil pode optar por aumentar tarifas e entrar em um momento de guerra comercial com Trump ou pode ceder e baixar as tarifas, esperando que os EUA também reduzam as suas, conforme Igor, que também enxergou uma alternativa na busca por outros mercados consumidores para as exportações brasileiras e cearenses do aço e do alumínio.

De toda forma, Igor estima que a taxação vai impactar muito o Brasil, principalmente o Ceará. “Diferentemente da maioria dos estados do Nordeste, onde o principal parceiro comercial é a China, o principal parceiro comercial do Ceará são os Estados Unidos. Então, isso para a gente é mais sensível do que para outros estados”, ressaltou.

Os eventuais desafios vêm em um momento de baixa anual de 28,6% nas exportações cearenses para os EUA, segundo o último Ceará em Comex. Algo que Ricardo Portal, do Simec, enxerga como reflexo de um cenário de certa estagnação no mundo, mas essa mudança política nos Estados Unidos deve reaquecer o setor. (Com Agências)

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ArcelorMittal, CSN e outras indústrias podem sofrer impactos diversos com taxação

Com os possíveis movimentos de taxação de 25% dos Estados Unidos sobre aço e alumínio, especialistas veem impactos diversos nas indústrias ArcelorMittal - com fábrica no Porto do Pecém -, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Gerdau, Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas), Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), entre outras.

Um terço da produção da ArcelorMittal tem como destino o mercado norte-americano, segundo o diretor do Simec, Ricardo Petral. Entretanto, ele destacou que as placas produzidas pela empresa têm alto valor agregado. "O impacto inicial existirá, mas não acredito que cause grandes prejuízos", afirmou Ricardo, sinalizando que essa carga pode ser absorvida posteriormente por outros mercados.

O analista da Levante Inside Corp, João Abdouni, observou movimentos negativos para Usiminas, CSN e CBA, com possíveis pressões de margens, dado um cenário difícil nos últimos meses. Já Gerdau poderá se beneficiar das políticas de Trump, com um crescimento das operações nos Estados Unidos.

Assim como prevê João Abdouni, o economista Igor Lucena também enxerga a ocorrência de fechamento de operações menos eficientes no mundo, com impactos de demissões em plantas usualmente antigas. "Se a demanda pelo aço brasileiro nos Estados Unidos diminuir, o aço norte-americano se torna mais competitivo internamente."

"A tendência natural é que as empresas americanas do setor de aço contratem mais, enquanto no Brasil e no Ceará ocorre uma queda no emprego. Se exportarmos menos aço, haverá menos produção e, consequentemente, menor necessidade de funcionários. De certa forma, é o inverso da globalização", detalhou Igor.

O economista da Corano Capital, Bruno Corano, está mais otimista. As empresas de capital aberto, por exemplo, não parecem ter tido oscilações significativas com a notícia. Pelo contrário, suas ações chegaram a subir na bolsa de valores. Investidores que têm visão técnica e não agem por emoção não devem fazer este cenário mudar facilmente.

Além disso, ele destacou que "os Estados Unidos não conseguem produzir nem de perto a quantidade necessária para suprir o consumo interno de aço". "O país é um grande importador de aço. Ele importa esse aço primeiro do Canadá, depois do Brasil e depois do México. São os três maiores exportadores de aço para os Estados Unidos."

"O Brasil não tem uma dependência única e exclusiva dos Estados Unidos para a venda de aço, vende para vários outros mercados. Então, é muito mais sensível à concorrência com outros produtores de aço, especialmente a China, do que ao fato de os Estados Unidos taxarem o aço", acrescentou Bruno.

O especialista ressaltou, ainda, que demorará anos até a indústria norte-americana conseguir voltar a ser mais produtiva para o aço e o alumínio, pois boa parte disso depende da construção ou expansão das plantas industriais. Caso haja taxação e os outros países sigam a mesma linha, os EUA poderão ter que pagar mais pelo aço.

O especialista em comércio exterior, Augusto Fernandes, mira que, em um primeiro momento, pode até haver instabilidade. Depois, os países devem sentar para conversar, e pode ser vantajoso para o Brasil. "Foi o que aconteceu no primeiro mandato de Trump e pode se repetir agora", relembrou.

Haddad anunciou o pacote de corte de gastos nessa quarta-feira, 27
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Haddad diz que governo vai esperar decisão concreta sobre taxação do aço para se manifestar

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, evitou comentar o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que irá impor tarifas de 25% sobre importações de aço e alumínio, o que afetaria o Brasil.

Questionado pela imprensa sobre quais ações o Executivo brasileiro adotaria em resposta, Haddad respondeu que o governo tomou a decisão de só se manifestar "oportunamente", com base em decisões concretas, e não em anúncios que, na avaliação do ministro, podem ser mal interpretados ou revistos.

"Então o governo vai aguardar decisão oficialmente antes de qualquer manifestação", disse o ministro da Fazenda a jornalistas.

Perguntado então se não haveria nada previsto sobre a taxação de big techs norte-americanas, Haddad voltou a dizer que vai aguardar a orientação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, depois de as medidas dos EUA serem efetivamente implementadas.

*Com informações da Dow Jones Newswires

 

Tarifas sobre importações de aço são prioridade para Trump, diz representante da Casa Branca

O diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, afirmou que, para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, "as tarifas sobre importações de aço são uma prioridade" do governo. Segundo ele, Trump pretende "tomar medidas para encerrar as isenções sobre o aço no momento em que ele considerar adequado", como declarou em entrevista à CNBC.Hassett também comentou a estratégia do governo para conter a inflação, afirmando que Trump busca aumentar a oferta de mão de obra e "reduzir a demanda agregada", sem, no entanto, detalhar como essas medidas seriam implementadas. Em relação ao comércio internacional, o assessor destacou que a Índia mantém "tarifas extremamente altas" que dificultam a entrada de importações e afirmou que Trump deve se reunir "em breve" com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. Ele também defendeu a imposição de tarifas recíprocas pelos EUA."Se eles reduzirem, nós reduziremos", disse Hassett. "Quase todos os parceiros comerciais têm tarifas muito mais altas que as nossas", afirmou, citando México, Canadá e Reino Unido como países cujas tarifas estão "na mesma faixa" que as dos Estados Unidos.

Macron afirma que UE tem que estar pronta para reagir a tarifas de Trump

O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que a União Europeia (UE) "precisa estar pronta para agir em função de seus próprios interesses" caso o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, imponha tarifas ao bloco. Questionado sobre a possibilidade de retaliação, caso as tarifas sejam implementadas, Macron foi enfático: "Já enfrentamos isso antes e estamos preparados para reagir novamente", disse em entrevista à CNN.Em relação às atuais tensões comerciais, o líder francês destacou que mantém "uma boa relação e um diálogo franco" com os EUA, mas questionou a estratégia norte-americana. "A UE é o principal problema dos EUA? Eu não acho. Seu primeiro desafio é a China, e é nisso que deveriam focar. Se os EUA querem aumentar investimentos em segurança e defesa, não deveriam prejudicar as economias europeias ameaçando a integração entre os dois blocos. Isso só aumentaria custos e criaria inflação nos EUA. É isso que o povo americano quer? Não tenho certeza", afirmou o presidente francês.Macron também defendeu que a Europa assuma uma postura mais ativa, em vez de apenas reagir às políticas de outras nações. Segundo ele, as prioridades das economias europeias devem ser a competitividade, a defesa, a segurança e o avanço da inteligência artificial (IA). "Precisamos avançar rapidamente nesses temas e, se houver questões a serem resolvidas no meio do caminho, discutiremos e encontraremos soluções", concluiu Macron.

Donald Trump em comício nos EUA
Donald Trump em comício nos EUA

Thyssenkrupp vê impacto limitado com tarifas dos EUA sobre aço, mas diz que monitora situação

Um porta-voz do Thyssenkrupp, grupo alemão que é um dos maiores produtores de aço do mundo, afirmou que eventuais tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre importações do metal teriam apenas "um impacto muito limitado" para a companhia.

De acordo com o representante, o que a empresa exporta para os EUA é "insignificante e relacionado principalmente a produtos de alta qualidade", sendo a Europa o principal mercado.

Para o Thyssenkrupp, grande parte da produção para clientes americanos ocorre dentro do próprio país, o que minimiza os riscos associados às tarifas.

No entanto, a companhia afirma que está monitorando os desdobramentos da disputa tarifária.

*Com informações da Dow Jones Newswires

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Trump mira também tarifas sobre carros, itens farmacêuticos e chips

Ao anunciar as tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assegurou que não haverá exceções.

"Hoje simplifico nossas tarifas sobre o aço e o alumínio", disse o presidente no Salão Oval, enquanto firmava as ordens executivas. "É 25%, sem exceções, nem isenções", frisou.

O magnata republicano acrescentou que consideraria a imposição de tarifas adicionais sobre automóveis, produtos farmacêuticos e chips de computador.

As tarifas vão afetar bastante o Canadá, principal fornecedor de aço e alumínio dos Estados Unidos. Brasil, México e Coreia do Sul também são importantes exportadores de aço para os americanos.

A federação do aço no Reino Unido, a UK Steel, acredita que a medida vai desferir um "golpe devastador" para um setor que já está em declínio. A decisão também pode prejudicar diversos setores nos Estados Unidos.

"O aço, o alumínio são matérias-primas cruciais para a indústria americana", advertiu Maurice Obstfeld, especialista do Peterson Institute for International Economics.

Durante o seu primeiro mandato (2017-2021), Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio. As taxas adicionais foram suspensas posteriormente pelo próprio Trump, ou por seu sucessor democrata Joe Biden.

No domingo, o magnata adiantou que "tarifas aduaneiras recíprocas" são uma tentativa de alinhar a tributação dos produtos que entram nos Estados Unidos com a forma na qual os bens americanos são taxados no exterior.

Trump utiliza as tarifas como principal ferramenta de sua política econômica. Seu objetivo: reduzir o déficit comercial americano.

Os países reagiram de maneira distinta a suas ameaças: alguns anunciaram represálias, outros tentam apaziguar os ânimos.

O ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Noël Barrot, garantiu que a União Europeia (UE) "vai responder" como fez durante o primeiro mandato do presidente americano. À época, a UE retaliou com taxas sobre produtos como o uísque bourbon e as motocicletas Harley-Davidson.

Na Alemanha, a locomotiva econômica europeia, o ministro de Economia e Clima Robert Habeck fez um chamado para "continuar o caminho da cooperação com os Estados Unidos".

Até agora, Trump exerceu pressão sobre os parceiros dos Estados Unidos, mas também sobre seu grande rival, a China, que desde a terça-feira está sujeita a tarifas adicionais de 10%, além das que já existiam.

As medidas de represália chinesas de taxas seletivas sobre determinados produtos americanos entraram em vigor na segunda-feira, 10 (data local, domingo, dia 9, no Brasil). Elas afetam 14 bilhões de dólares (R$ 80 bilhões) em produtos americanos, enquanto as tarifas anunciadas pelo presidente americano abrangem bens chineses avaliados em US$ 525 bilhões de dólares (R$ 3 trilhões).

Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, ressaltou ontem que, para Pequim, "não há [...] vencedor em uma guerra comercial e aduaneira".

Há uma semana, Trump ameaçou México e Canadá com tarifas generalizadas de 25%, mas suspendeu a medida por um mês para negociar um acordo.

Quanto à China, desistiu de taxar como havia anunciado os pacotes de valor inferior a 800 dólares (R$ 4,6 mil), o que teria afetado plataformas como Shein e Temu.

O governo brasileiro ainda não se manifestou sobre quais medidas adotará diante da taxação do aço e do alumínio, embora na semana passada o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha declarado, em entrevista, que o Brasil tem direito de usar a lei da reciprocidade. (Com AFP)

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