Duas investigações correm em paralelo, hoje, para tentar esclarecer as medidas originais da fazenda Junco I e sua suposta sobreposição à vila de Jeri. E também apurar se a documentação apresentada pela empresária Iracema Correia São Tiago sobre o imóvel é legítima. Ambas ainda não deram luz às dúvidas, pelo menos oficialmente.
A que é mediada pela PGE é formada por um grupo de trabalho interinstitucional. Nele, o Incra tem sido o principal executor das buscas pelos documentos que levantem a cadeia dominial da propriedade. Também participam o Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), representantes da empresária, da comunidade e dos empresários e Ministério Público.
O POVO apurou que dois servidores do Incra foram ao Distrito Federal no início de 2025. Para garimpar matrículas cartorárias digitalizadas da região de Acaraú anteriores à década de 1940. A medida se deu após as checagens feitas no cartório local, em dezembro.
Fontes que acompanham o caso de perto informaram que os servidores teriam voltado com novos arquivos em mãos. O material é microfilmado e até com escritas a bico de pena. Os detalhes ainda não foram compartilhados entre as partes da empresária e da comunidade de Jeri.
A reportagem procurou o Incra, mas ninguém foi disponibilizado para se manifestar a respeito. O órgão federal informou que as declarações sobre o trabalho deverão ser dadas pelo Governo do Estado, que é responsável pela ação.
Procurada, a PGE reafirmou que o acordo com a empresária segue suspenso, sem prazo determinado, até o esclarecimento da cadeia dominial da fazenda e que aguarda a conclusão das buscas e o relatório final a ser apresentado pelo Incra. A superintendência do Incra ratificou que não há prazo estabelecido para concluir o levantamento.
A outra investigação é tocada pelo Ministério Público Estadual (MPCE), através da promotoria da comarca de Jijoca de Jericoacoara. O POVO tentou falar com a promotora responsável, Laura de Figueiredo Uchôa. A assessoria do órgão retornou que ela não estava disponível para atender à demanda.
Em 25/10/2024, a promotora expediu recomendação para que o acordo entre o Estado do Ceará e a empresária fosse suspenso "de imediato", naquele momento. A medida "foi motivada pela necessidade de investigar o histórico do imóvel, uma vez que a matrícula apresentou aumento significativo de área, passando de 441,04 hectares para 924,49 hectares".
"O que nós já sabemos das informações de uma cidade pequena é que já aconteceram depoimentos de pessoas que, por exemplo, eram residentes nesse vilarejo Junco, testemunhando que a firma Machado nunca passou pelo Junco", afirmou Fábio Nobre, do conselho empresarial de Jeri.
No Ministério Público Federal (MPF), uma notícia de fato foi protocolada em 7 de maio último, pelos advogados da empresária, sobre possíveis ocupações irregulares dentro da vila de Jeri. Inclusive em terrenos da possível transferência.
O caso estava em "análise de possível prevento" no órgão, para saber se será juntado a alguma investigação já em andamento. Fábio Nobre disse desconhecer a ocorrência de invasões na região.
Na análise dos livros cartorários, foi localizada uma planta da área da propriedade, datada de 1981, que até então era desconhecida inclusive pelos advogados da empresária. Estava anexada à matrícula do imóvel "mostrando onde era a localização do terreno, a extensão, os marcos físicos, os limites", segundo o advogado Marcellus Melo Silva.
O mapa teria servido de referência para a aquisição pelo ex-marido de Iracema. "Qualquer dúvida em relação à extensão, ao limite, ela deixa de haver nesse momento, porque o mar e o travessão não mudam de lugar", afirma.