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Média salarial da indústria salta 33,4% no Ceará
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Média salarial da indústria salta 33,4% no Ceará

| Entre 2020 e 2024| Em termos gerais, média salarial paga no Estado ficou estagnada no período. O segmento que paga os melhores salários é o de fabricação de produtos derivados de petróleo e biocombustíveis, R$ 20,6 mil
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INDÚSTRIA de transformação pagou melhores salários em 2024 em relação a 2020, no Ceará (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE INDÚSTRIA de transformação pagou melhores salários em 2024 em relação a 2020, no Ceará

O valor médio da remuneração nominal dos trabalhadores da indústria de transformação cearense deu salto de 33,4% entre 2020 e 2024. Em igual período, a inflação acumulada foi de 29,76%, permitindo um aumento real médio dos pagamentos. O levantamento foi feito pelo Observatório da Indústria, da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

O segmento que pagou os melhores salários foi o de fabricação de produtos derivados de petróleo e biocombustíveis. O pagamento médio das empresas deste segmento a seus colaboradores foi de R$ 20,6 mil.

De maneira geral, o salário médio dos trabalhadores cearenses em 2024 foi de R$ 2.349,60. Em 2020, esse montante era de R$ 2.342,28, uma variação de 0,5%, o que demonstra uma estagnação na evolução da massa salarial dos trabalhadores cearenses.

Destrinchando entre os setores econômicos, o que paga - na média - os melhores rendimentos são o de administração pública (R$ 6.917). Ele é seguido dos serviços industriais de utilidade pública (R$ 4.362), da indústria extrativa mineral (R$ 2.849) e da indústria da construção (R$ 2.229).

O nível remuneratório dos cearenses continuam em descompasso com as médias salariais da média do restante do País, pois são aproximadamente 25% menor do que a média nacional, destaca o gerente do Observatório da Indústria e economista-chefe da Fiec, Guilherme Muchale.

Para ele, esse cenário se dá principalmente pela influência das regiões Sul e Sudeste na média nacional, já que jogam para cima o número em relação às demais regiões, o que é uma das faces da desigualdade regional existente.

Muchale enfatiza que, dentre os fatores que mais pesam para que a média salarial dos estados nordestinos permaneça baixa em relação ao Brasil, é a concentração setorial da estrutura produtiva.

Outro ponto importante é o nível de qualificação da mão de obra, destaca. "No Ceará, assim como no Nordeste de modo geral, a estrutura produtiva industrial ainda é muito concentrada nos setores tradicionais e intensivos em trabalho, tais como têxtil, confecções e calçados".

Esses setores devem continuar sendo estimulados, mas considera importante também atrair investimentos e empresas de setores mais intensivos em tecnologia, "visto que eles apresentam um padrão de inovação, produtividade e inserção internacional maiores, o que contribuiria para a elevação da remuneração média local", aponta o gerente do Observatório.

Ainda assim, diz Muchale, a evolução da massa salarial cearense merece destaque, especialmente por conta do impulso proporcionado pela indústria. "Analisando a evolução dos salários médios em termos  reais (isto é, descontada a inflação) nas duas últimas décadas, vemos o setor industrial como protagonista, com uma trajetória de crescimento."

O papel da formação profissional na obtenção de salários melhores se mostra fundamental, conforme os dados. O salário médio pago no mercado de trabalho cearense alcança diferença de até R$ 15,8 mil entre trabalhadores que possuam alta escolaridade, como pós-graduação, e baixa escolaridade, como os analfabetos, mesmo pertencendo ao mesmo setor econômico.

Essa diferenciação de média salarial ocorre no segmento de Eletricidade, gás, água, saneamento e reciclagem, em que um colaborador pós-graduado recebe em média R$ 17.430, enquanto o que se declara analfabeto R$ 1.580.

Os dados mostram que há diferenças claras no patamar remuneratório a depender do nível de formação do trabalhador, ficando explícito principalmente entre os que possuem pós-graduação, Ensino Superior e Ensino Médio. De maneira geral, os trabalhadores analfabetos ou com Ensino Fundamental (completo ou incompleto) recebem remunerações bem mais baixas.

Sônia Parente, gerente de Educação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Ceará (Senai-CE), destaca que o Ceará tem um histórico recente de sucesso na política educacional, com indicadores positivos na educação básica - o que é destaque nacional, segundo o Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC) - mas também na formação técnica e graduação.

O potencial de crescimento na empregabilidade de boa qualidade a partir de vagas que exigem maior qualificação segue em destaque. Sônia diz que, somente a indústria, deve abrir cerca de 260 mil vagas no Ceará em três anos. Áreas como vestuário, construção, tecnologia da informação e telecomunicações devem ser os principais focos.

Ela pontua ainda a efetividade da inserção de egressos dos cursos técnicos. O Senai mantém a marca de 98% de empregabilidade de ex-alunos dos cursos.

Outro atrativo é o salário. "A indústria é um dos setores que melhor remunera. Os salários, para a média brasileira, são muito bons — especialmente para quem chega com curso técnico ou para quem já está dentro da indústria e busca se qualificar e crescer. É isso que as pessoas precisam buscar através da educação: capacitação para crescer e obter melhores salários".

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Fortaleza, CE, BR 16.06.25 Salário médio pago no CE é o 3º melhor do Nordeste; formação é fundamental para bons rendimentos Na foto:  Marcos Venicios, aluno de curso profissional no Senai Parangaba  (Fco Fontenele/O POVO)
Fortaleza, CE, BR 16.06.25 Salário médio pago no CE é o 3º melhor do Nordeste; formação é fundamental para bons rendimentos Na foto: Marcos Venicios, aluno de curso profissional no Senai Parangaba (Fco Fontenele/O POVO)

Educação continuada fez a diferença, diz Marcos Venicios

Trabalhador da indústria de confecção, Marcos Venicios, de 46 anos, sequencia cursos de formação desde 2011. Ele aponta que a educação continuada é o principal fator de crescimento profissional.

Filho de uma supervisora industrial e um mecânico de máquina industrial, sempre foi próximo ao setor. Marcos conta que trabalha na indústria desde que completou 18 anos. Primeiro foi no acabamento de bolsas, quando trabalhou na Couro Fino, onde ficou por 10 anos. Há 11 anos trabalha na direção de Estilo da Kafka Baby, especialista em moda para bebês. Na trajetória, Marcos iniciou em função operacional e agora desempenha cargo de criação.

Para ele, isso foi possível a partir das formações - seis delas somente pelo Senai - como modelista de roupas; modelagem no sistema audaces, modelagem avançada no audaces, desenho técnico de moda, cronometragem e cronoanálise, planejamento e controle de produção e a de técnico em vestuário, que está concluindo este ano.

"A indústria de hoje é completamente diferente do que era há dez anos. Por isso, é preciso continuar fazendo cursos, se especializando, adquirindo conhecimentos porque todo dia aparece uma técnica nova", diz.

Marcos revela que sempre que pode incentiva os colegas que estão no início de sua caminhada profissional a sempre continuarem se aperfeiçoando. Questionado se pretende continuar estudando, talvez iniciar uma graduação, Marcos confirma que já planeja o próximo passo. "Nunca é tarde para estudar. E conhecimento é uma coisa que levamos para o resto da vida".

Reportagem parceria O POVO e Fiec

Esta reportagem faz parte de um projeto de conteúdo editorial jornalístico e de dados, resultado de parceria do Grupo de Comunicação O POVO (GCOP) e a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

O protocolo de parceria foi assinado em novembro de 2024 e prevê cooperação técnica que visa à produção de reportagens jornalísticas, a partir de levantamento de dados e análises exclusivas produzidas pelo Observatório da Indústria, referentes a diversos segmentos econômicos, nas esferas estadual, nacional e mundial.

Dados

Levantamento do Observatório da Indústria é feito a partir de dados oficiais do MTE e do IBGE

Reportagem é uma parceria O POVO e Fiec

Esta reportagem faz parte de um projeto de conteúdo editorial jornalístico e de dados, resultado de parceria do Grupo de Comunicação O POVO (GCOP) e a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

O protocolo de parceria foi assinado em novembro de 2024 e prevê cooperação técnica que visa à produção de reportagens jornalísticas, a partir de levantamento de dados e análises exclusivas produzidas pelo Observatório da Indústria, referentes a diversos segmentos econômicos, nas esferas estadual, nacional e mundial.

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