Renato Pequeno, professor do Instituto de Arquitetura, Urbanismo e Design da UFC e coordenador do Laboratório de Estudos da Habitação (Lehab/UFC), contextualiza que os grandes conjuntos como o José Euclides surgiram após uma mudança na lei do programa "Minha Casa, Minha Vida".
"Quando foi lançado, em 2009, o programa previa conjuntos de até 500 unidades, justamente para que fossem implantados em áreas com infraestrutura urbana. Mas a legislação foi alterada em 2011, permitindo até 5.000 unidades por conjunto. E terrenos com essa escala só existem na periferia da cidade, onde não há equipamentos sociais nem serviços públicos", explica.
Com isso, Fortaleza passou a deslocar moradores de baixa renda, muitos vindos de áreas de risco, para regiões classificadas pelo próprio Plano Diretor como "zonas de ocupação restrita", onde esse tipo de moradia originalmente não poderia ser construído.
Entre 2011 e 2021, Fortaleza recebeu 32 conjuntos habitacionais, principalmente na região sul. Os maiores são: Cidade Jardim 2 (5.968 unidades), Alameda das Palmeiras (4.992), José Euclides (2.992), Cidade Jardim 1 (2.944), Escritores (1.920), Luiz Gonzaga (1.760) e Aldemir (612).
"Para viabilizar os empreendimentos, a Câmara Municipal alterou o Plano Diretor. O resultado é que hoje temos quase 100 mil pessoas vivendo sem o amparo efetivo do poder público, em bairros onde o Estado chega muito lentamente", avalia Renato.