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De corrida de rua a academia 24 horas, Ceará vive boom de crescimento do mercado esportivo
Reportagem

De corrida de rua a academia 24 horas, Ceará vive boom de crescimento do mercado esportivo

Estado teve 2.317 novas empresas abertas no setor desde 2023. Assessorias esportivas, academias e personal trainers representam o segmento
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FORTALEZA, CEARÁ,  BRASIL-07-07-2025: Aumento de atividade física em Fotaleza. Corridas na Beira Mar e Box de Crossfit são atividades crescentes na cidade. (Foto: JÚLIO CAESAR / O POVO) (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL-07-07-2025: Aumento de atividade física em Fotaleza. Corridas na Beira Mar e Box de Crossfit são atividades crescentes na cidade. (Foto: JÚLIO CAESAR / O POVO)

O crescimento do mercado esportivo no Ceará está diretamente ligado à ascensão de um novo perfil de consumidor: mais preocupado com saúde, bem-estar e qualidade de vida. O boom de crescimento se fortalece nas frequentadas corridas matinais de rua, na prática de uma nova modalidade como o beach tênis ou até mesmo na nova tendência de academias 24 horas.

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Segundo a Pesquisa Datafolha publicada em janeiro deste ano, 53% dos brasileiros com 16 anos ou mais costumam praticar atividades físicas no seu dia a dia. O estudo apontou também que a caminhada é a atividade física mais comum entre os adultos, com 25% das menções espontâneas. Musculação (13%), futebol (7%), bicicleta (6%) e a corrida (6%) entraram na sequência.

No Ceará, o setor esportivo tem atraído cada vez mais praticantes, e com o aquecimento do mercado movido pelo aumento do público de atletas, o setor, que já movimenta milhões por ano no Estado, mantém uma curva de expansão constante desde 2023.

Conforme dados da Junta Comercial do Estado do Ceará (Jucec), só no começo de 2025 foram abertas 557 novas empresas voltadas para serviços no ramo esportivo. Em todo o ano anterior, 954 negócios do mesmo setor foram abertos. Já em 2023 foram 806 nesse segmento, mostrando um ligeiro crescimento do mercado.

Os empreendimentos representados no dado da Jucec incluem academias, assessorias esportivas e profissionais autônomos que estão atendendo a demanda do mercado de forma independente, os que mais crescem nesse cenário.

Crescimento do setor esportivo e mudança de hábitos

As tais assessorias esportivas ganharam bastante procura em meio ao calçadão da Beira-Mar, no auxílio aos novos corredores que ali habitam. Mas não foi agora que começou a se pensar em oportunidade na corrida.

Rossman Cavalcante é fundador da assessoria “Clube de Corrida”, uma das mais antigas da cidade, completando 20 anos de existência. O educador físico contou ao O POVO que iniciou o trabalho com o clube quando viu uma oportunidade.

“Eu era proprietário de uma academia, e a minha academia ficava na Beira-Mar. Dia de quarta-feira a gente juntou algumas pessoas para em vez de correr na esteira, descer para correr na Beira-Mar. E aí esse grupo foi aumentando, as pessoas foram gostando, e fui percebendo ali uma oportunidade de negócio”, contou.

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Rossman disse que o segmento das corridas vai além de uma “modinha”, mas que representa um mercado crescente, que cresce de forma lenta, mas que agora vive outro patamar.

“Ele só cresce desde a década de 1970, diferentemente de outros mercados que crescem de forma exponencial e depois perdem mercado, não foi isso que aconteceu com a corrida. O que acontece especialmente no Brasil, é o mercado que cresce, cresceu mais lentamente, atingiu alguns patamares durante alguns anos […] Hoje, eu diria de uns 5 anos para cá, ela experimenta realmente uma onda de crescimento, mas é uma onda sustentável”, completou.

Em um mercado que virou muito competitivo de 5 anos para cá, Cavalcante destacou a continuidade do acompanhamento com os atletas nos diferentes objetivos. Ele contou que divide o trabalho em grupos, nos mais de 200 alunos que mantém. “Eu tenho atletas que estão comigo há 20 anos. Vinte anos correndo maratona ultra prova de montanha e alcançando alguma até alguns resultados expressivos nas categorias de idade”.

O profissional ressaltou ainda os benefícios que a prática “bem orientada” trazem para a saúde do praticante: “As pessoas passaram a descobrir benefícios da corrida que extrapolam o desempenho esportivo, os benefícios para saúde mental, para estética, para autoestima, para produtividade”.

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Eventos esportivos impulsionam o turimo

A pesquisa Year in Sport 2024 do Strava, publicada em 2024, apontou que Fortaleza é a cidade brasileira com o maior número de corredores de rua. Em comparação a nível mundial, a cidade entra como impressionante segundo lugar, perdendo apenas para Jacarta do Sul, na Indonésia. Fortaleza supera cidades como Nova York e Lyon, na França, no requisito.

Só em 2025, a cidade terá mais de 70 corridas de rua, segundo dados da Federação Cearense de Atletismo. Com o crescimento dos corredores, e o conhecimento da "capital da corrida", essa questão alavancou outro setor importante, o do turismo.

Pessoas de outros estados têm vindo para a capital cearense para participar das inúmeras provas de ruas realizadas na localidade, além de muitos outros eventos esportivos presentes na cidade, Fortaleza entra no calendário das corridas no Brasil.

O secretário do Turismo do Estado, Eduardo Bismarck, falou ao O POVO sobre o impacto no setor do turismo em relação à tendência que atinge o Ceará, ele vê um aumento geral na quantidade de passageiros a visitarem o Estado.

"O esporte de corrida, ele tem crescido em todo o Brasil e no mundo, pessoas viajam para esse roteiro. Para gente é muito significativo […] A gente tem praticamente toda semana alguma corrida dessas que fazem na beira-mar, isso aí já é uma movimentação do próprio público aqui do Ceará e pessoas de curta distância que vem para cá para esse tipo de evento esportivo".

Bismarck destaca ainda esportes que envolvem vento, como: kitesurfe, windsurfe e voo livre como importantes impulsionadores da economia, conectando o Ceará com outros locais.

"Isso se mostra mais significativo nos voos internacionais, mas o doméstico também é muito importante, o que tem garantido para gente uma alto-estação que inicia em julho e vai até o carnaval do ano seguinte. Normalmente a gente vivia do período de férias escolares, e agora com o acréscimo dos esportes, isso tem garantido essa nova descoberta assim ou o aumento da demanda".

O secretário contou que a pasta atua ativamente na negociação de novos eventos esportivos para o Estado, como corridas e campeonatos internacionais de outras modalidades, como o Campeonato Mundial de Basquete Master, que virá a Fortaleza em 2027. Além de dar auxílio aos eventos realizados.

O Esporte deve ser acessível a todos

Que o mercado de esporte cresce já é um fato, mas como esse crescimento atinge todas as camadas da população é que é a questão.Apesar de ser um dos maiores celeiros de talentos esportivos do mundo, o Brasil ainda enfrenta um desafio estrutural: garantir acesso ao esporte para crianças e jovens de baixa renda.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto Sou do Esporte, apenas 28% dos jovens entre 6 e 17 anos que vivem em comunidades periféricas têm acesso regular a atividades esportivas organizadas.

A falta de infraestrutura, de programas públicos continuados e de apoio familiar e escolar impede que milhões de brasileiros encontrem no esporte uma ferramenta de inclusão social, saúde e, em alguns casos, transformação de vida.

No Ceará, o esporte deixa de ser apenas lazer ou competição para se tornar uma ferramenta estratégica de inclusão social, geração de renda e desenvolvimento humano. A Secretaria do Esporte do Ceará (Sesporte) e a Secretaria Municipal do Esporte e Lazer (Secel) ampliam políticas públicas que democratizam o acesso ao esporte, especialmente para a população de baixa renda.

Por meio de uma série de programas e investimentos, o governo estadual busca garantir que crianças, adolescentes, adultos e idosos em situação de vulnerabilidade tenham acesso gratuito a práticas esportivas, com estrutura adequada, materiais e orientação técnica qualificada.

A Secel desenvolve iniciativas voltadas para públicos específicos, como os programas Atleta Cidadão, Esportes sem Limites, Lutas, Escola Náutica, Viver e o Bolsa Esporte, que oferece suporte financeiro direto a atletas e treinadores em formação. Esses programas visam não apenas o alto rendimento, mas também a inserção social e o desenvolvimento de competências para a vida.

Já a Sesporte atua com frentes mais amplas, com destaque para os Núcleos de Esporte e Lazer, distribuídos em todas as regiões do estado, que oferecem atividades gratuitas em comunidades vulneráveis. Esses núcleos atendem diversas faixas etárias e funcionam como espaços de convivência e prevenção à violência.

Além disso, o programa Esporte em 3 Tempos, a Rede Estadual de Esporte Comunitário, o FutPaz e o Felizidade têm sido ferramentas de fortalecimento social por meio da prática esportiva.

Desde o início da gestão do atual governo, o programa Areninhas se destaca como marco de infraestrutura esportiva inclusiva. Foram implantadas 204 unidades em comunidades urbanas e rurais, com outras 37 em construção e 112 já aprovadas para início das obras. Ao todo, o investimento ultrapassa R$ 127 milhões.

Também estão sendo pensadas ações para pessoas com deficiência (PcD), focando em investimentos em materiais específicos e capacitação de profissionais na área.

A Sesporte enxerga o esporte como uma política pública capaz de transformar realidades e abrir caminhos. Com a contribuição da infraestrutura e apoio aos atletas e pensado em criar um espaço comunitário de lazer e formação, a pasta frisa que o Ceará dá sinais de que o esporte pode, de fato, ser um dos pilares da redução das desigualdades sociais — desde que o investimento público continue sendo estratégico, contínuo e inclusivo.

Diante dos dados, os atores que trabalham no segmento veem o Estado se tornar referência nacional na economia do esporte. Essa análise vem da forma regional de combinar crescimento empresarial, valorização do esporte como vetor turístico e investimento público em inclusão social.

Boom do mercado abre espaço para novos negócios

O mercado de esporte oferta oportunidade para muitos novos micro segmentos, como a área de academias, um espaço muito competitivo, mas que ainda tem margem para inovação.

O grupo de academias Top Up, que possui dez unidades e mais de 50 mil alunos, investiu R$ 35 milhões na expansão da marca em 2025. A empresa foi reformulada para atender uma demanda reprimida de áreas específicas de Fortaleza. Os novos donos da marca mudaram o modelo de negócio, e começaram a mudar a forma de atuar no mercado.

Com os novos investimentos, a empresa deve inaugurar mais 12 unidades pelo Ceará, até o meio do ano de 2026, gerando centenas de empregos diretos e indiretos.

O CEO do grupo Top Up, Apollo Barros, contou ao O POVO que a marca cresce com investimento próprio e com o surgimento dos novos investidores do negócio.

Com a expansão da empresa e a mudança do modelo de negócio, a Top Up passou a oferecer oportunidade para quem deseja entrar no segmento que só cresce. O grupo lançou cotas de investimentos para quem deseja participar do crescimento da marca. Eles ofertam projeções de rentabilidade entre 2% e 5% ao mês.

Em um ecossistema bem concorrido, que é o mundo das academias, o proprietário aposta em atendimento de qualidade e de maneira humanizada para conseguir atrair os clientes nesse "mercado aquecido".

Apollo comentou ainda sobre a nova tendência, as academias 24 horas. O CEO disse que a ideia é atender cada vez mais a demanda do público, incluindo aqueles que querem treinar em horários não convencionais. A Top Up possui quatro academias em funcionamento o dia inteiro e esse modelo deve ampliar, segundo o dono.

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