Outro conceito característico da época dos muros baixos é a menor sensação de insegurança entre os moradores. Anterior à intensificação das disputas entre facções criminosas pelo controle do tráfico de drogas e o crescimento de outros índices de violência, a segunda metade do século XX é apontada por especialistas como uma época mais propícia à existência desses modelos de construção em Fortaleza.
Para o arquiteto Romeu Duarte Júnior, a subida dos muros nas grandes cidades brasileiras está diretamente relacionada com a escalada da violência. Por medo de balas perdidas, invasões e até observação do movimento da casa por estranhos, os moradores passaram a crescer as estruturas na entrada da residência para proteger-se do perigo que vem de fora.
"Com o passar do tempo as casas transformaram seu programa por causa da insegurança. O muro alto vai ser uma realidade. Parecem muros de penitenciária. Uma situação que a gente costuma chamar de 'arquitetura do medo'. Onde as pessoas têm medo do que a rua pode trazer para dentro de casa", explica Romeu, que é doutor em Arquitetura e Urbanismo e docente da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Com a chegada dos casos de violência em diferentes pontos da Cidade, incluindo bairros da área nobre, como Aldeota e Meireles, os muros altos se tornaram comuns à maioria das casas, criando corredores de infinitos paredões que afastam o privado da vida pública.
Junto à segurança, um maior desejo de privacidade dos proprietários das casas foi outro fator que impulsionou a subida dos muros. Isabela Sousa, 35, mora com a avó em uma casa, anteriormente de muro baixo, no bairro Alto da Balança. Ela conta ter subido o muro para evitar que a rotina da casa, como quem está presente em qual horário e atividades rotineiras, pudesse ser acompanhada do lado de fora.
Hoje se diz feliz com a escolha que fez para garantir a privacidade e segurança da família. Entretanto, a empresária assume sentir-se mais distante dos vizinhos, que também subiram a frente de suas casas, já que muitos não se vêem mais enquanto andam na rua e não se encontram para um café da tarde.
"Antigamente você dizia 'oi, tudo bem?' no muro baixo, conversava… facilmente ficava conversando. Hoje em dia, com esse acesso fechado, as pessoas têm até receio de bater para saber se tem alguém em casa. Saber se não está incomodando, porque se eu passo e vejo que a pessoa está aqui 'de bobeira', facilmente tem esse diálogo. Se o portão está fechado você fica 'será que está ocupado?' 'será que vou incomodar?'. Nesses 'serás' aí você deixa de fazer", relata Isabela.
Quando uma casa tem sua fachada totalmente coberta por um muro, quem está dentro dela também não vê nada do que acontece lá fora.
Isso gera um novo tipo de insegurança, para quem está na rua, já que você está "sozinho" naquele local e sem ninguém à vista para pedir socorro em eventuais situações de perigo.
"Se você cria uma segurança para si com o muro alto, você cria uma insegurança para o cidadão da cidade. Você chega na sua casa pedindo a Deus que o porteiro abra logo o portão porque você pode ser assaltado. A contradição que existe é essa. A segurança existe apenas internamente. Externamente a cidade fica muito perigosa", pontua o doutor em Arquitetura do Medo, Caetano Aragão.