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Vidas alheias, riquezas salvar
Reportagem

Vidas alheias, riquezas salvar

Salvamentos históricos. Lembre
Edição Impressa
Tipo Notícia
PÁGINA publicada no impresso do O POVO em 9 de setembro de 1987 (Foto: Arquivo Pessoal/Luciano Viana)
Foto: Arquivo Pessoal/Luciano Viana PÁGINA publicada no impresso do O POVO em 9 de setembro de 1987

Se esses 100 anos marcaram quem vive o CBMCE, há também inúmeras histórias de quem está vivo graças ao trabalho da corporação. Com resgates em situações adversas, os bombeiros carregam o lema de salvar a família e o patrimônio dos cearenses. Um dos atos de bravura desses agentes foi noticiado pelo O POVO em 1987. Na ocasião, uma dupla de bombeiros salvou dois primos de um incêndio no bairro Carlito Pamplona, em Fortaleza.

Luís Carlos Veras, à época soldado do CBMCE, lembra que estava no sofá de casa, após 24 horas de serviço, quando foi avisado que uma casa da rua estava pegando fogo. A fadiga não impediu que ele e o soldado Romão, outro bombeiro que passava pela região, salvassem Thiago e Roniele, dois primos de 10 meses e 4 anos de idade, respectivamente, que brincavam em meio às labaredas.

"A gente mesmo tendo cansaço mental, cansaço físico… Se você for solicitado para qualquer tipo de ocorrência, você tem que ir. Aquilo está no sangue da gente, salvar vidas. Tanto que o slogan dos bombeiros é 'vidas alheias, riquezas salvar'. Foi isso que aprendemos no recrutamento", afirma Veras, hoje major da reserva.

Passados 38 anos, a história de Roniele e Thiago ainda é contada entre as gerações da família, com tom de gratidão pela atuação dos soldados. "Se eles não tivessem chegado nos segundos iniciais que começou o incêndio, eu não estaria aqui para contar a história. Nem eu, nem meu primo Thiago", conta Roniele Rocha, 42.

Para muitos, o resgate mais emblemático é o dos sobreviventes do desabamento do edifício Andréa, em 2019. O episódio é até hoje lembrado por bombeiros e civis que viveram a ação, devido à alta complexidade. As buscas por sobreviventes e pelos corpos dos falecidos se arrastaram entre a terça-feira e o sábado daquele mês de outubro, em um trabalho de 103 horas.

"Sem pensar muito, nos 34 anos de serviço, a ocorrência que mais me marcou, pela sua intensidade, pela sua dor, foi o desabamento do edifício Andréa. [...] De pronto avisei meu chefe que iria para essa ocorrência. Revezamos vários turnos e até o sábado estive lá. [...] Realmente foi uma ocorrência que marcou a todos nós bombeiros", remonta o coronel Wagner Maia.

Um dos resgatados foi Davi Sampaio, 28, que permaneceu consciente e em contato com os bombeiros durante o salvamento. O arquiteto remonta o cuidado dos militares, que lhe avisavam de cada passo da operação, e agradece a bravura de quem arrisca a própria vida para salvar pessoas.

"Já respeitava muito essa profissão e hoje em dia, após o acidente, admiro muito mais e respeito muito mais. Realmente, é uma coisa brilhante você botar sua vida em jogo praticamente todo dia em prol de salvar o máximo de vidas possível. É um ato incrível. É heróico", pontua.

Além de Davi, outras seis pessoas foram resgatadas pelos 500 voluntários em meio aos escombros. Apesar dos esforços, o acidente ainda deixou nove mortos e ficou conhecido como uma das maiores tragédias de Fortaleza.

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