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Nas redes, nas ruas e até em casa: não há limites para os perseguidores
Reportagem

Nas redes, nas ruas e até em casa: não há limites para os perseguidores

|denúncia|Vítima conta como começou a ser atormentada, quando foi à delegacia e como se sentiu. Há três situações que podem configurar o crime de perseguição constante
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Muitas vezes, o que separa um gesto normal (como um elogio ou um convite) do stalking é o fato de a vítima deixar claro que não quer aquele tipo de comportamento, e o perseguidor, mesmo assim, continua.

Em outros países, como o Reino Unido, a lei já considera crime se a perseguição acontecer duas vezes, desde que a vítima já tenha deixado claro que não gostou.

Além disso, a perseguição constante só vira crime quando vem acompanhada de uma destas três situações: ameaça à segurança física ou psicológica (quando a integridade da vítima não pode ser garantida), dificuldade de locomoção (quando a vítima não consegue mais ir e vir como gostaria) e invasão da liberdade ou privacidade (quando a vítima tem seus dados, rotina, e outras informações pessoas expostos).

A professora de inglês Luana (nome fictício), de 26 anos, sabe bem o dano emocional que uma perseguição pode causar.

Tudo começou há cerca de oito meses, com mensagens de um ex-aluno, com quem Luana teve um breve contato nas redes sociais após o término do curso.

As mensagens, inicialmente elogiosas e inofensivas, foram se tornando cada vez mais frequentes e com um tom obsessivo.

"No começo, eu não me preocupei muito. Pensei que era apenas um aluno mais efusivo", conta Luana, destacando que a situação foi escalonando rapidamente.

"Ele começou a ligar várias vezes ao dia, mandava mensagens a qualquer hora, e sabia detalhes da minha rotina que eu nunca havia compartilhado com ele"

A perseguição logo saiu do mundo virtual. Luana começou a notar a presença do ex-aluno em locais que frequentava, como a academia e um café perto de sua casa.

"A sensação era horrível. Eu me sentia vigiada o tempo todo, como se não tivesse mais privacidade", desabafa.

O medo se intensificou quando o stalker começou a deixar pequenos presentes na porta de sua casa e a fazer comentários sobre suas postagens nas redes sociais em tempo real, mostrando que estava acompanhando seus passos de perto.

Diante do crescente pavor e da sensação de impotência, Luana buscou apoio em amigos e familiares.

"No início, senti muita vergonha de contar o que estava acontecendo. Tinha medo de não ser levada a sério", revela. No entanto, o incentivo de pessoas próximas a motivou a procurar ajuda profissional e legal.

Luana procurou a Delegacia de Defesa da Mulher de Fortaleza, onde registrou um Boletim de Ocorrência detalhando os episódios de perseguição.

"Fui muito bem acolhida na delegacia. As policiais me orientaram sobre meus direitos e os próximos passos", relata. Com o apoio jurídico, Luana conseguiu uma medida protetiva de urgência, que proibiu o stalker de se aproximar dela ou de manter qualquer tipo de contato.

"Denunciar é o primeiro passo para interromper o ciclo de violência e para que o agressor seja responsabilizado por seus atos", finaliza Luana.

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