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Colégio Imaculada Conceição: história da educação no Ceará passa pela instituição
Reportagem

Colégio Imaculada Conceição: história da educação no Ceará passa pela instituição

No coração de Fortaleza, no auge do seu centésimo sexagésimo aniversário, o Colégio Imaculada Conceição é símbolo de fé, tradição na educação
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Fachada do Colégio Imaculada Conceição, localizado no Centro de Fortaleza (Foto: fotos FCO FONTENELE)
Foto: fotos FCO FONTENELE Fachada do Colégio Imaculada Conceição, localizado no Centro de Fortaleza

Muitos anos de glória já vence, sempre firme a montar tua guarda, à família cristã cearense”, assim diz um trecho do hino Colégio Imaculada Conceição, que recentemente comemorou seu centésimo sexagésimo aniversário. A instituição, considerada como a primeira escola católica privada do Ceará, foi fundada em agosto de 1865 pelas Filhas da Caridade.

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Além das paredes de cal, há paredes de memórias

O Colégio Imaculada Conceição foi fundado enquanto Fortaleza passava por transformações urbanas, culturais e sociais. Era a conhecida Belle Époque. Na lateral da edificação, localizada no Centro, fica a Igreja do Pequeno Grande, onde são realizadas missas diárias à população.

Grandes nomes como a escritora Rachel de Queiroz e a jornalista Adísia Sá passaram pela instituição, que ocupa um quarteirão O Colégio Imaculada Conceição se inicia na avenida Santos Dumont, percorre as ruas 25 de Março e Costa Barros, e finaliza seu território na Rua Coronel Ferraz. , e nos anos de 1970 chegou a ser escola para quase duas mil alunas, qundo era restrito só para meninas.

“Via-se um boom econômico em função de que a Cidade era um centro coletor e exportador de algodão. Isso acabou redefinindo a paisagem urbana. O objetivo [do colégio] era o acesso à educação para meninas, sobretudo as órfãs”, afirma o historiador Evaldo Lima.

O prédio do Colégio é do século XIX e tem estilo neogótico. “Tem uma estrutura metálica que foi importada da Bélgica e está localizado numa região num sítio com profundo valor histórico e arquitetônico”, afirma Evaldo.

Parte interna do colégio(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Parte interna do colégio

O valor do espaço se atribui também aos equipamentos ao redor: a Igreja do Pequeno Grande, a Escola Jesus, Maria e José, e o Colégio Estadual Justiniano de Serpa, todos na Praça Figueira de Melo.

Evaldo destaca o impacto da instituição em ter dedicação inteiramente às meninas. “É o símbolo de uma educação intergeracional, no tempo em que o acesso à educação era profundamente limitado. Inúmeras ex-alunas têm uma relação de afeto e pertencimento, que mantém viva a tradição e a memória da instituição”.

“Mais do que pedra e cal, o Colégio Imaculada Conceição é feito de memórias, histórias e afetos. É um patrimônio fundamental para a memória da Cidade”.

Entre os vários tipos de flores nos jardins da comunidade da irmãs — local reservado somente às freiras da instituição, há uma estatueta feita de concreto armado. A imagem representa a aparição de Nossa Senhora à Santa Catarina Labouré, feita pela irmã Margarida Aguiar no ano de 1933.

Nos anos 1970, a instituição de ensino chegou a ter mais de 30 irmãs trabalhando no recinto. Hoje em dia, apenas seis realizam funções, são elas as irmãs Aurileda, Evânia, Dulcinea, Irene, Rita de Cássia e Taynara.

O Colégio é uma das 13 instituições que fazem parte da rede de educação vicentina em todo o País. Confira a lista abaixo:

  • Casa da Criança Irmã Marcillac - Fortaleza | CE
  • Centro Educacional Juvenal de Carvalho - Cascavel | CE
  • Centro Educacional Virgem Poderosa - São Benedito | CE
  • Colégio da Imaculada Conceição - Fortaleza | CE
  • Colégio Maria Imaculada - Sobral | CE
  • Colégio N. Senhora Auxiliadora - Fortaleza | CE
  • Colégio São Vicente de Paulo - São Luís | MA
  • Colégio Tenente Ângelo de Siqueira Passos - Viçosa do Ceará | CE
  • Colégio Medalha Milagrosa - Fortaleza | CE
  • Externato São Vicente de Paulo - Fortaleza | CE
  • Instituto Maria Imaculada – Pacoti | CE
  • Instituto São José – Aracati | CE
  • Patronato São José de Ribamar - São José de Ribamar | MA

Fé, educação e tradição em um só lugar

Fundada por Luísa Marillac e Vicente de Paulo, as Filhas da Caridade criaram a rede de educação vicentina na França, em 1633. Em Fortaleza, tudo começou no ano de 1865, há 160 anos atrás, com uma instituição voltada para meninas.

O Colégio inicialmente foi dirigido pela irmã Marguerit Bazet, que tem um quadro em sua homenagem junto ao de outras diretoras que passaram pela instituição. Atualmente, é dirigido pela irmã e filha da caridade, Evânia Rocha de Oliveira, 46.

“Desde o início que nós temos a formação cristã, [ensinamos] os valores à humanidade, aos ser humano. Nós trabalhamos o acadêmico, mas também o ser integral do aluno”.

Além dos princípios na educação, o Imaculada Conceição também mantém a tradição da fé, através do momento de oração, realizado diariamente às 7h20min.

“Os alunos, desde o infantil II até o terceiro ano do ensino médio participam deste momento de oração, onde são tocadas músicas religiosas e todos os dias uma pessoa da pastoral escolar conduz um momento de oração para eles", explica.

Como um dos momentos históricos do Colégio, irmã Evânia lembra da criação da Associação de Ex-alunas (AECIC), protagonizada pela irmã Elizabeth Silveira.

“Ela fundou também um semi-internato, onde os [alunos] que estudam pela manhã podem optar por ficar à tarde, se assim for necessário. A irmã foi um destaque muito grande aqui na missão", comenta.

Dentre os trabalhos oferecidos pela instituição aos alunos e suas famílias, estão os atendimentos espiritual, psicológico e nutricional.

“O Colégio é todo equipado para realmente atender à sociedade cearense. Por isso faz a diferença, por esse cuidado com o próximo. O cuidado em toda a formação que ele dá aos nossos alunos", afirma o coordenador de disciplina e pastoral escolar da instituição, Francisco Oliveira.

Mesmo com o passar dos 160 anos, irmã Evânia acredita que o Colégio se mantém com a mesma proposta de quando foi criado. “Muito embora os tempos mudaram, com a realidade. Mas a essência é a mesma há 160 anos, [desde] quando começou", afirma.

 

Com título de secretária emérita, Rita de Cássia Ramos de Vasconcelos, 89, é a mais antiga entre as irmãs da instituição. Além dela, a avó, tia e primas estudaram no Imaculada Conceição.Terceira de cinco filhos, desde criança seu desejo era se tornar uma irmã da caridade. “Eu estudei no Colégio da Imaculada durante os anos de 1949 a 1955. Nasci e morei perto da casa das irmãs, via o movimento delas para lá e pra cá. Vim estudar aqui e então consolidou o chamado de Deus”, relembra.

Ainda dos tempos de estudos, irmã Rita rememora sobre as “mestras de classe muito eficientes” que ela teve e a época que sua avó estudou no Colégio.

“Ela foi aluna interna, aprendeu muitas artes, pintava muito bem, falava francês fluentemente e a mamãe sempre repetia essas coisas pra gente”, conta com um sorriso no rosto.

Ela continua: “Depois dela veio uma tia, que formou-se com a Raquel de Queiroz na primeira turma e depois as netas, umas cinco ou seis. Depois tornou-se praticamente o colégio da família", enumera.

Após o período como aluna, irmã Rita se tornou diretora da instituição durante os anos de 2001 e 2002. Para a idosa, um momento marcante em sua trajetória no Colégio foi quando venceu a maratona catequética nacional.

A olimpíada religiosa de conhecimentos foi criada por dom Hélder Câmara. “Ele criou essa maratona para justamente fazer com que a juventude se aproximasse da doutrina católica. Eu me empolguei muito e venci os outros colégios religiosos. O meu colégio primeiro, depois os outros e dei essa glória ao colégio", recorda feliz de sua conquista.

Sendo a freira mais jovem da instituição entre todas as seis ali presentes, Taynara dos Santos, 28, atua como apoio entre as coordenações do Colégio.

“Vivi uma vida normal até os 18 anos, jamais havia pensado em ser uma filha da caridade. Mas sempre fui muito engajada em coisas da igreja e conheci uma irmã em agosto de 2015. Ela não era filha da caridade, era de outro carisma, mas foi pelo jeito e a felicidade dela, que me encantaram. Eu fiquei curiosa para saber como ela vivia e o que faria dela tão feliz", relembra.

Taynara conta que o primeiro passo foi conhecer a “casa das irmãs”, e após isso, ela passou a participar de encontros formativos todos os meses com as freiras.

“Depois de passar um mês nesses encontros, a irmã perguntou se eu nunca tinha imaginado isso pra mim. Eu coloquei sinceramente para ela que nunca tinha imaginado não, mas por ela ter aberto esse horizonte, fiquei me questionando", declara. Já são quse três anos no Imaculada.

Questionada sobre a sensação de trabalhar em uma instituição tão antiga, Taynara afirma que é algo gratificante.

“Porque a área da educação é algo muito significativo na vida do ser humano. Ensinar a dar passos, a escrever, é uma arte muito bonita. Então, a educação me chama muita atenção por isso, [para] formar seres melhores", finaliza.

Um pedaço da história guardado entre os muros do colégio

Andando pela Capela do Pequeno Grande, onde antes era a Gruta de Lourdes, a irmã Rita conta como o local foi concebido.

“Era muito pequena e naturalmente foi aumentando o número de alunas internas e [o local] já não comportava mais. Tinha que construir uma igreja maior, e a família dessa irmã deu esse grande presente”, comenta.

As peças para construção vieram enumeradas, da Bélgica, para serem arrumadas no local. Um construtor local recebeu as orientações de um engenheiro francês e fez a obra como planejado, segundo a irmã Rita de Cássia. A capela foi entregue em 1902, tendo 123 anos de existência.

Já na entrada, perto da recepção, há uma escadaria que leva à parte superior do edifício, onde fica o museu. Na sala, objetos que conservam a história do Colégio podem ser observados.

“Aqui a gente encontra várias peças antigas como, por exemplo, a foto do primeiro arcebispo da Arquidiocese de Fortaleza. [Há] também algumas fotos de ex-alunos", afirma Francisco, coordenador de disciplina do colégio.

Gruta de Lourdes, que fica localizada dentro da capela da instituição(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Gruta de Lourdes, que fica localizada dentro da capela da instituição

Na parte direita do recinto, há uma vitrine com peças dos antigos uniformes utilizados pelos alunos, castiçais e lustres antigos. No museu também se fazem presentes máquinas fotográficas, de costura e de datilografar.

Também é possível observar duas réplicas feitas de madeira, representando a Praça São Pedro, no Vaticano, e a Capela Pequeno Grande, em Fortaleza.

"Com o decorrer do tempo, elas vão se tornando peças históricas e por isso foram todas trazidas para o museu. Como hoje ainda algumas pessoas também trazem alguma peça que faz parte da história do colégio", relata Francisco.

Ex-alunas relembram época que estudaram no colégio

A documentarista da TV Assembléia, da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Angela Gurgel, passou pelas salas de ensino do Colégio Imaculada Conceição durante um ano.

“Esse período foi tão significativo (...) [Tenho] muita felicidade pelo reconhecimento da gente. Fui professora daqui por um ano e sou muito grande. Nesse colégio fiz a minha grande riqueza, que são minhas amigas até hoje”, afirma.

Sobre a importância do colégio à educação cearense, Angela responde: “É um colégio de tradição. A maior prova são os anos que ele já percorreu e é de grande importância na educação do Ceará, haja vista as pessoas respeitosas que o colégio formou", finaliza.

A aposentada Célida Andrade, conta que estudou no colégio durante 7 anos. “A escola oferecia o internato, a gente basicamente morava na escola”, conta.

“Depois fui pra universidade, onde fiz o curso de letras, mas nunca atuei nessa área. Eu fui comerciante durante 34 anos. Eu sou muito ligada a essa instituição que me ensinou tudo o que sou hoje", complementa.

Ela continua: “Estudar no colégio da Imaculada Conceição era como se fosse uma marca. Então foi aqui onde a gente aprendeu civilidade e educação. Basicamente a minha vida de juventude foi construída aqui", finaliza.

 

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