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Novas tecnologias revolucionam a Construção Civil
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Novas tecnologias revolucionam a Construção Civil

|Inovação| Especialistas dizem que empresas que adotam novas tecnologias podem se destacar no mercado e atrair clientes e parceiros
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A ORLA da capital do Ceará vem se caracterizando como uma das Dubais do Brasil (Foto: FOTOS FCO FONTENELE)
Foto: FOTOS FCO FONTENELE A ORLA da capital do Ceará vem se caracterizando como uma das Dubais do Brasil

A inovação tecnológica está revolucionando a indústria da construção civil em diversos países, como o Japão, e começa a ser aplicada no Brasil, trazendo soluções que melhoram a eficiência, reduzem custos e aumentam a segurança. Além disso, de acordo com especialistas, empresas que adotam novas tecnologias podem se destacar no mercado e atrair novos clientes e parceiros.

Basta uma voltinha pela Avenida Beira-Mar de Fortaleza para constatar que, em se tratando da indústria da construção civil, o céu é o limite. Com prédios cada vez mais altos, belíssimos e de alto valor agregado, a orla da capital do Ceará vem se caracterizando como a Dubai do Brasil.

Mudança de paradigma

Na avaliação de Gilberto de Freitas, diretor do Instituto de Tecnologias de Industrialização das Edificações (Itie), a modernização da construção civil é uma necessidade para quem deseja se manter competitivo, e investir em inteligência e tecnologia é fundamental para o sucesso nesse setor. De acordo com ele, de uma forma geral, a indústria da construção civil, no Brasil, enfrenta um ciclo degenerativo, impulsionado por um modelo de negócios obsoleto que ainda se baseia em mão de obra barata.

Este modelo, herdado de práticas passadas, pontua Freitas, resulta em baixa produtividade, falta de confiabilidade, altos riscos e pequena lucratividade, levando muitos empreiteiros à falência.

A solução proposta por ele é uma mudança de paradigma para a "construção off-site". Este conceito envolve a fabricação industrializada de componentes fora do canteiro de obras, focando na montagem eficiente.

“Tanto a construtora como a fabricante de materiais tem seus modelos de negócio baseados em mão de obra barata. A construtora depende de mão de obra barata e o fabricante de materiais depende de mão de obra barata, porque tudo isso vai ser processado lá no canteiro. Só que esse povo (da mão de obra barata) acabou. Virou o marido de aluguel, o motorista do aplicativo", comenta o especialista.

Outra questão levantada por ele é o desperdício. Em um país pobre não faz sentido você comprar R$ 100,00 de material e só usar 85, e 15 você pagar para jogar na caçamba ―, completa.

O termo off-site, no caso da construção, poderia ser traduzido como “fora do canteiro de obras”, e explica bem o conceito por trás da tecnologia em questão. A construção off-site se baseia na fabricação das partes do imóvel de forma modular. Assim como acontece com a fabricação de móveis.

Dessa forma, os profissionais do canteiro só têm a função de montar o imóvel de acordo com as instruções do projeto. Esse tipo de construção ainda é pouco usado aqui no Brasil, em comparação com outros modelos construtivos, mas não é algo novo no mercado.

“Agora, a mudança de mentalidade é além de construir, fabricar e montar. Nós vamos tirar a tarefa do canteiro, entregar para a indústria, fabricar e montar componentes. Assim, a pressão do canteiro para ter mão de obra barata diminui. Eles têm menos gente para trabalhar, vão poder remunerar mais, vão poder colocar tecnologia, comenta Gilberto de Freitas.

Segundo o especialista, isso permitiria maior previsibilidade, velocidade, segurança e sustentabilidade, reduzindo o desperdício e a dependência de mão de obra não qualificada.

Então aquilo que a gente pensava em construir tudo, pensado para o canteiro, agora é menos canteiro, mais fábrica, mais montagem. É um rearranjo de cadeia produtiva ―, explica.

Construção a seco

Daniel Ramos, gerente regional da empresa Espaço Smart, reforça essa visão, questionando: "Estamos empilhando tijolos há mais de 200 anos. Onde está a inovação? Por que ainda empilhamos tijolos?". Ele compara a ineficiência da construção convencional (até 30% de desperdício em alvenaria) com a superioridade da construção a seco, como o steel frame, que apresenta apenas 1% a 4% de desperdício.

O método, segundo ele, promete eficiência e escalabilidade, diferenciando-se da construção tradicional com tijolos. De acordo com Daniel Ramos, a tecnologia se mostra apropriada para regiões litorâneas, como é o caso do Ceará, devido a um processo de galvanização especial do aço, e oferece conforto térmico superior ao da alvenaria, evitando a potencialização de temperaturas externas.

“Nós temos diferentes tipos de banho de zinco, ou seja, de galvanização do aço para determinadas regiões. Na região litorânea a gente dá um banho de zinco, ou seja, a galvanização é maior para esta resistência de acordo com a norma. Então em áreas não litorâneas são 275g de zinco por m², enquanto na região litorânea são 350g de zinco por m² ―, diz Daniel Ramos.

De acordo com o especialista, a obra de frame é mais econômica, embora o metro quadrado custe um pouco mais que a tradicional. Enquanto a alvenaria custa R$ 4.200 o m², o Steel Frame hoje está em R$ 4.029 o m² A obra de frame, ela é mais econômica. Ela não é mais barata, ela é mais econômica que a de alvenaria, afirma Daniel Ramos, apontando vantagens tais como: velocidade de execução de 18 meses para 7 meses.

O empresário Beto Studart descreve como “fantástico e magnífico” e “ grande símbolo da arquitetura da inovação aqui no Ceará" seu mais novo empreendimento: o BS Steel. Todo em vidro e aço, segundo ele, o projeto vai integrar novas tecnologias na indústria da construção civil que contribuem para a evolução da parte ambiental, com "preservação do homem" e redução de resíduos, como a diminuição do lixo e a economia de madeira.

“Há uma iniciativa para levar a universidade para dentro da nossa obra, criando uma disciplina chamada construindo o BS Steel. Isso permitirá que os alunos tenham um dia em campo (dentro da obra) e um dia na universidade, desenvolvendo a parte curricular”, diz o empresário. De acordo com ele, o empreendimento terá destinação comercial e será erguido na esquina das avenidas Virgílio Távora com Santos Dumont. As escavações devem começar em 3 de novembro. 

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Fachada da CasaCor Ceará 2024 assinada pelo arquiteto Luiz Deusdará
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Cobogós voltam repaginados

O novo vem, mas sem precisar eliminar o velho. Basta uma roupagem e o que parecia antigo ganha uma outra função. Sérvulo Moreira, presidente do Sindicato das Indústrias de Cerâmica do Ceará (Sindcerâmica-CE), destaca o ressurgimento dos cobogós.

Esses elementos, antes restritos a áreas externas, agora ganham destaque como peças decorativas em ambientes internos, impulsionados por sua estética, ventilação e iluminação.

Criados em Recife na década de 1920 por Amadeu Oliveira Coimbra, Ernesto August Boeckmann e Antônio de Góis, os cobogós foram inspirados nos muxarabis árabes e originalmente feitos de concreto, mas agora são produzidos em diversos materiais como cerâmica, vidro e mármore. Aliás, o nome "cobogó" vem das primeiras sílabas dos sobrenomes desses criadores.

Sérvulo Moreira enfatiza a resiliência e versatilidade da indústria cerâmica ao criar novos produtos, incluindo linhas de painéis assinados por arquitetos, com espessuras variadas.

Um exemplo de como o setor investe em novas tecnologias para práticas sustentáveis é a Cerbras, um dos principais investidores do setor de revestimentos cerâmicos. O Relatório de Resultados 2024 da empresa detalha avanços significativos na utilização de energia renovável.

Um dos pilares dessa performance é o investimento em energia solar. Painéis fotovoltaicos instalados no parque fabril capturam a luz do sol para alimentar as operações, reduzindo a dependência de fontes não renováveis e contribuindo para a diminuição da pegada de carbono da empresa.

"O excedente de energia solar, que representa cerca de 80% da produção na nossa filial, é injetado na rede, gerando um saldo de 118 MW. Essa iniciativa não só beneficia a indústria com economia e sustentabilidade, mas também impacta positivamente a comunidade e o meio ambiente ao fornecer energia limpa", afirma Ticiana Mota, vice-presidente ambiental e administrativa da marca.

Além da energia solar, a Cerbras implementou um projeto inovador de queimadores dos fornos com o objetivo de minimizar o consumo de gás. A adoção de tecnologias mais avançadas resultou em uma economia de 5% em kcal/kg, segundo a empresa.

FORTALEZA-CE, BRASIL, 25-11-2022: Andre Montenegro, Vive Presidente da FIEC. Premio ACOMAC Ceará, no Rio Mar Fortaleza. (Foto: Aurélio Alves/O Povo)
FORTALEZA-CE, BRASIL, 25-11-2022: Andre Montenegro, Vive Presidente da FIEC. Premio ACOMAC Ceará, no Rio Mar Fortaleza. (Foto: Aurélio Alves/O Povo)

Casas pré-fabricadas no e-commerce

A Espaço Smart, originada em Ponta Grossa, Paraná, atua em 16 estados brasileiros e 44 cidades.

Com forte presença no Nordeste, a empresa tem planos de expansão para outros estados, e um e-commerce onde os clientes podem comprar kits de casas prontas online, escolhendo entre mais de 50 modelos.

A plataforma, vencedora de um prêmio da VTex por maior ticket médio na América Latina, permite a compra da casa montada no terreno, com pagamento via cartão de crédito.

“Se ele quiser comprar dentro do site a casa montada no terreno dele, nós podemos vender pelo site. Ele passa o cartão no site, como qualquer venda”, explica Daniel Ramos, gerente regional da empresa.

A Espaço Smart enfatiza a importância de mão de obra inteligente, oferecendo um curso certificado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) para capacitar trabalhadores e profissionais da área em steel frame (estruturas em aço), com centros de treinamento em Fortaleza e Recife.

“A gente ensina a mão de obra a trabalhar e não apenas a mão de obra, mas a gente também capacita pessoas que têm interesse em acompanhar e administrar a obra. Alguma construtora que administra a obra, um arquiteto que queira entender um pouco mais”, afirma.

Construção a seco

Ramos compara a ineficiência da construção convencional (até 30% de desperdício em alvenaria) com a superioridade da construção a seco, como o steel frame, que apresenta apenas 1% a 4% de desperdício.

O método, segundo ele, promete eficiência e escalabilidade, diferenciando-se da construção tradicional com tijolos.

De acordo com Daniel Ramos, a tecnologia se mostra apropriada para regiões litorâneas, como é o caso do Ceará, devido a um processo de galvanização especial do aço, e oferece conforto térmico superior ao da alvenaria, evitando a potencialização de temperaturas externas.

“Nós temos diferentes tipos de banho de zinco, ou seja, de galvanização do aço para determinadas regiões. Na região litorânea a gente dá um banho de zinco, ou seja, a galvanização é maior para esta resistência de acordo com a norma. Então em áreas não litorâneas são 275g de zinco por m², enquanto na região litorânea são 350g de zinco por m², diz Daniel Ramos.

Conforme o especialista, a obra de frame é mais econômica, embora o metro quadrado custa um pouco mais que a tradicional. Enquanto a alvenaria custa R$ 4.200 o m², o Steel Frame hoje está em R$ 4.029 o m².

A obra de frame, ela é mais econômica. Ela não é mais barata, ela é mais econômica que a de alvenaria, afirma Daniel Ramos, apontando vantagens tais como: velocidade de execução de 18 meses para 7 meses.

Mas também há opção em casas modulares para quem prefere alvenaria. É do engenheiro civil André Montenegro, a invenção do sistema construtivo com peças pré-moldadas, composto por paredes de alvenaria pré-fabricadas, feitas com tijolos cerâmicos, com uma camada de concreto armado e outra com argamassa vibrada.

Essas paredes são montadas sobre blocos de fundação e unidas entre si através de soldas e grauteamentos (uma mistura de cimento, areia e água, para preencher vazios e fissuras em estruturas de concreto ou alvenaria), permitindo a montagem rápida de unidades habitacionais.

Segundo André Montenegro, o método permite um alto controle de qualidade e ganho de produtividade. “Nós conseguimos fazer uma casa a cada 5 dias. Já fizemos nesses últimos 10 anos 26.000 casas e, neste ano, nós já estamos construindo em torno de 6.000 casas no Brasil todo”, destaca o engenheiro.

Inteligência Artificial é a chave

A Inteligência Artificial (IA) é uma das inovações utilizadas para otimizar os canteiros das indústrias de construção. Ela analisa dados complexos em segundos, prevendo atrasos em obras, calculando orçamentos e ajudando na escolha de materiais.

Especialista em inovação tecnológica pela Universidade de Havard, Marcos Moreira enfatiza que a tecnologia deve ser vista como uma ferramenta para aumentar a produtividade e eficiência, e não para intensificar o trabalho.

Ele destaca a importância da IA na Indústria 4.0 para prever demandas e aumentar a produtividade.

O especialista destaca o caso de sucesso da Rejuntamix, onde a implementação de uma IA reduziu significativamente as paradas não programadas na produção e o uso de uma IA interativa, chamada Sophia, no WhatsApp simplificou o acesso a dados e insights, transformando a gestão da empresa.

A tecnologia vem para isso, não para você trabalhar muito, mas para você ser produtivo. E eu sempre falo uma brincadeira, tentando demonstrar essa diferença. Primeiro ponto, eu falo brincando assim: Se eu tenho um saco de cimento e eu quero levar para o décimo andar de um prédio, eu só tenho duas maneiras. Ou eu vou pela escada ou eu vou pelo elevador. Qual é que eu vou trabalhar mais? Pela escada. Qual é que eu vou ser mais produtivo? Pelo elevador", explica Moreira.

De acordo com ele, a tecnologia vem com essa perspectiva de tornar as pessoas e as empresas mais produtivas, executar com eficiência, gerando o resultado da maneira mais ágil possível.

Moreira indica um modelo de quatro pilares para o sucesso operacional: pessoas qualificadas com capacidade de tomar decisões; processos bem definidos, com organização para evitar retrabalho; produtos adequados, ou seja, oferecer o produto/serviço certo, no momento certo, para o público certo; e, por fim, a tecnologia, que gera benefícios e eficiência.

De acordo com ele, a fragilidade de um desses pilares compromete todo o sistema: "Não adianta eu ter nota 10 em três dessas variáveis e uma outra não funcionar. No final das contas, o mais fraco vai gerar também a demonstração que o que a estrutura como um todo vai ficar tão fraco quanto o elo mais fraco dessa corrente", pontua.

Moreira destaca que a IA vai além de um "buscador de dados". De acordo com o especialista, ela "busca, analisa e faz algum tipo de sugestão caso você queira".

Outras tecnologias da Indústria 4.0 em estudo e implementação, aponta Moreira, são: a Internet das Coisas (IoT), que conecta máquinas à internet para monitorar produção, temperatura e prever falhas; e RFID, que são etiquetas que permitem o inventário rápido e sem contato, escaneando centenas de tags por segundo.

Essas tecnologias permitem ter "a empresa na palma da mão", fornecendo dados internos e externos, além de insights para tomar decisões mais efetivas e acompanhar o mercado.

 

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