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Futuro agora: Mais de 10 mil cearenses formados em IA, dados e cloud entre 2023 e 2025
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Futuro agora: Mais de 10 mil cearenses formados em IA, dados e cloud entre 2023 e 2025

| TECNOLOGIA | Brasil corre para formar a indústria do futuro e principal desafio é a formação de mão de obra qualificada. Neste contexto, Ceará é destaque com parcerias que permitem jovens explorarem soluções
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NO CEARÁ, temas como big data e inteligência artificial estão entre as formações (Foto: Helio Montferre/ABDI)
Foto: Helio Montferre/ABDI NO CEARÁ, temas como big data e inteligência artificial estão entre as formações

Investimento crescente em formação continuada desde a escola até a obtenção de profissionais de alto nível. Essa é a aposta do setor de tecnologia, que enxerga no Nordeste - em especial o Ceará - o potencial de transformação econômica e social a partir da inovação.

O entendimento é que o fortalecimento dos centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em universidades é fundamental para avanço do ecossistema rumo à concretização da neoindustrialização brasileira. Quem afirma é Ricardo Cappelli, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

Ele destaca que o Ceará tem ganhado destaque neste sentido. "O Ceará não deu apenas um salto, ele subiu que nem foguete. Não por acaso terá uma sede do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O povo brasileiro é muito criativo, empreendedor e inovador, o que faltava era oportunidade, mas se abrir uma brechinha e o estado der um empurrãozinho, o povo vai".

Cappelli enfatiza que a indústria do futuro não será mais reconhecida por "chaminé e fumaça", mas por ser inovadora, sustentável e tecnológica. Neste contexto, diz ainda que a ABDI trabalha para fomentar a indústria 4.0 e tem contado com priorização do tema no governo federal.

Uma das ações foi o descontingenciamento dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), liberando R$ 13 bilhões em recursos para projetos. Apoio aos pequenos empreendedores da indústria, especialmente os inovadores, também um dos focos, a partir de acordo de cooperação com o Ministério do Empreendedorismo (MEN).

Com a ampliação do acesso à formação técnica especializada, o País se colocará melhor na "disputa por cérebros", mantendo talentos na indústria nacional, como também de exportar profissionais de alta capacidade, comenta o presidente da ABDI.

No Brasil, além de aportes governamentais, ações envolvendo parcerias com entes privados, como entre a multinacional de origem chinesa Huawei e universidades públicas, como o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), oferta plataforma de formação em áreas como computação em nuvem (cloud), Big Data, 5G e inteligência artificial (IA).

No caso cearense, a partir da plataforma da Huawei, a ICT Academy, o IFCE se tornou um multiplicador de conhecimentos e já possui parceria com o Governo do Estado para apresentar os cursos em escolas estaduais. Então, desde o Ensino Médio os alunos têm acesso a conteúdos de padrão internacional.

Em três anos, o IFCE calcula que são aproximadamente 10 mil formações concluídas. E não para como um curso técnico: Casos de sucesso no Ceará se multiplicam e alunos oriundos dessa plataforma de ensino são destaques em torneios internacionais de inovação.

Entre as competições está a Huawei Developer Competition (HDC), que em 2025 teve a final da região da América Latina realizada pela primeira vez no Brasil.

Das mais de 100 equipes inscritas, total de 12 foram selecionadas para a final. Desse montante, cinco países estavam representados. Dentre os brasileiros, quatro equipes, sendo três delas nordestinas - uma cearense, do IFCE.

O evento reuniu desenvolvedores, startups e universidades para criar soluções inovadoras em duas trilhas: IA e Transformação Digital. A equipe Aurora, do Ceará, ficou em 3º lugar na trilha de inteligência artificial.

Os vencedores foram dois projetos brasileiros: uma equipe formada por estudantes de ensino médio do Instituto Federal da Bahia (IFBA) - os únicos da competição que ainda não eram universitários - e uma equipe formada por alunos da Universidade de Brasília (UnB) e Universidade de São Paulo (USP).

As equipes vencedoras dividirão mais de R$ 180 mil em prêmios. Os melhores projetos representarão a América Latina e terão a chance de ser acelerados no Huawei Cloud Startup Program, na China, com oportunidades de escalabilidade global.

(Enviado a Brasília*)
*O jornalista viajou a convite da Huawei

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Lucas Gonzaga (ao centro) é o líder da equipe cearense Aurora em final de torneio de inovação de nível continental
Lucas Gonzaga (ao centro) é o líder da equipe cearense Aurora em final de torneio de inovação de nível continental

Aurora: Projeto cearense de agrotech entre os mais inovadores da América Latina

Aluno do curso técnico integrado em Informática do IFCE, Lucas Gonzaga já rodou o Brasil e o mundo participando de hackathons e competições de inovação. Aos 18 anos, ele é uma das promessas cearenses no desenvolvimento de soluções. Mas, atualmente, está preocupado com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em que o objetivo é cursar Engenharia de Computação no IFCE. Quando não está estudando para o vestibular, ele disputa finais de competições nacionais e internacionais, como a Huawei Developer Competition (HDC).

Junto de equipe formada com Letícia Ramos, também estudante do IFCE - instituição pela qual fez todo ensino médio, tendo participado de laboratórios técnicos avançados - formaram o projeto Aurora, uma agrotech em que o piloto propõe solução para projetores da cajucultura.

A iniciativa é chamada "Cash Care", um aplicativo voltado a produtores de caju que funciona como uma rede social com objetivo de diagnosticar de forma precoce doenças no cajueiro, com auxílio de inteligência artificial. Lucas explica que a iniciativa surgiu a partir da vivência na propriedade do pai, em Pindoretama (a 46 km de Fortaleza), onde existem 300 cajueiros plantados.

Ele conta que a cooperativa de produtores locais, da qual o pai é um dos parceiros, enfrenta muitos problemas com doenças nos cajueiros e não tem acesso rápido a profissionais especializados. Por isso a ideia de criar algo remoto, utilizando IA treinada para diagnosticar, a partir de imagens e vídeos, e formar uma comunidade para troca de experiências, explica. "O nosso diferencial é a regionalidade. Estamos trazendo a solução de um problema que observamos no nosso estado, que ocasiona prejuízos, perdas de safras, impactando uma parte importante da economia cearense", afirma.

Lucas enfatiza que a ideia foi desenvolvida em uma semana para inscrição na competição. Mas projeta melhorias na iniciativa, até mesmo permitindo que mais culturas produtivas possam ser integradas à Aurora.

"Para o futuro, penso que podemos conectar o usuário com profissionais da área, beneficiando o acesso a tratamentos. Por enquanto, iniciamos com a conexão para obtenção de diagnósticos", comenta.

A iniciativa é vista com grande potencial. A ideia do IFCE é apostar no amadurecimento do projeto e ver se ele pode se tornar uma startup que futuramente possa ser acelerada no parque tecnológico da instituição.

 

FORTALEZA, CEARÁ,  BRASIL- 01.08.2025:  Campus IFCE Ceará. Reportagem sobre resultados do Enem 2024. A rede federal, formada pelos IFCEs, tem melhores médias do que a rede estadual. (Foto: Fabio Lima/O POVO)
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL- 01.08.2025: Campus IFCE Ceará. Reportagem sobre resultados do Enem 2024. A rede federal, formada pelos IFCEs, tem melhores médias do que a rede estadual. (Foto: Fabio Lima/O POVO)

Soluções do Estado são destaque em competições internacionais

O Polo de Inovação do IFCE foi inaugurado em 2015. Uma década depois, ele pode ser considerado um caso de sucesso nacional, com mais de 250 propriedades intelectuais registradas ou solicitadas e mais de R$ 230 milhões em projetos desenvolvidos em parceria com empresas. O desenvolvimento de polos de inovação em parceria com empresas como Huawei e Apple, o que torna a instituição uma das mais concorridas entre os estudantes que fazem vestibular no Brasil.

Atualmente, o Polo de Inovação do IFCE é a instituição pública que mais registra softwares no Brasil, segundo ranking do INPI. Além disso, uma série de alunos tem desenvolvido soluções premiadas internacionalmente em concursos de inovação.

Cerca de 3 mil alunos da instituição participam de projetos desenvolvidos em parceria com empresas. Moacyr Regys, professor do IFCE e especialista nas áreas de telecomunicações e redes, ressalta que o destaque obtido é fruto de um trabalho de capacitação que vem sendo desenvolvido ao longo de cinco ou seis anos.

O foco em tecnologias de ponta, incluindo inteligência artificial, cloud e big data, é diferencial, que prepara os alunos tanto para o mercado de trabalho quanto para o empreendedorismo.

Existem soluções em realidade virtual, realidade aumentada e realidade mista que já está em incubação dentro do IFCE. A iniciativa participou do Festival Curicaca, em Brasília, e foi apresentada ao ministro da Educação, Camilo Santana, que se interessou com a possibilidade de utilizar a solução para criar laboratórios de química virtuais em escolas.

A medida poderia diminuir o custo ou complexidade de introduzir laboratórios de química para instituições de ensino em todo País.

Moacyr destaca que parcerias com empresas abrem um leque de oportunidades aos alunos, que devem ser incentivados à inventividade. "Recentemente, estive na China participando de uma das maiores feiras de tecnologia e pude trazer aquelas experiências para os nossos alunos. Isso é motivador".

"O recado é "busquem esses conhecimentos". O IFCE é, hoje, uma academia que dá suporte, não só em nível superior, mas técnico e também no ensino médio. Desde 2023 desenvolvemos uma parceria forte com o Governo do Ceará, capacitando alunos em cloud, 5G e inteligência artificial", comenta.

Vice-presidente de Relações Públicas da Huawei América Latina e Caribe, Atilio Rulli
Vice-presidente de Relações Públicas da Huawei América Latina e Caribe, Atilio Rulli

Parcerias: Chineses querem trazer mais soluções para o mercado brasileiro

O desenvolvimento de parcerias estratégicas para soluções em inteligência artificial fazem parte do projeto da multinacional chinesa Huawei. O vice-presidente de Relações Públicas da empresa para América Latina e Caribe, Atilio Rulli, destaca que há um movimento positivo neste sentido, envolvendo os governos, academia e parceiros privados.

Também membro do conselho da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), Rulli enfatiza que o Brasil tem caminhado na direção da construção de legislação e políticas públicas que permitirão o setor avançar, por isso o desafio de formar mais profissionais neste processo de alavancagem. "O Brasil é hoje um expoente para América Latina, principalmente em políticas públicas e capacitação", elenca.

Nova parceria assinada, Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre ABDI e a Huawei é voltado à promoção da inovação e da transformação digital no Brasil. O foco é impulsionar o uso de tecnologias da Indústria 4.0 no setor produtivo, com ações como projetos-piloto, capacitações em 5G, inteligência artificial e internet das coisas, além do apoio a startups e pequenas empresas.

O acordo foi firmado na ocasião do Festival Curicaca, de inovação e tecnologia, realizado em Brasília, entre 7 e 11 de outubro. Segundo Atilio, o fortalecimento do ecossistema de inovação brasileiro é bom não somente para a empresa, que vê a demanda por produtos e serviços aumentar, mas principalmente para a indústria de tecnologia da informação e comunicação (TIC).

Dados da Brasscom revelam que existem cerca de 700 mil postos trabalho nas áreas TICs não cobertos. Ou seja, há oferta de vagas, mas faltam capacitados. Nos últimos dez anos, o Brasil só formou o equivalente a 50% dos engenheiros da década anterior, movimento contrário a países como a China.

Neste contexto, a Huawei lançou no Brasil o AI College, que se junta aos minicursos disponibilizados na Huawei ICT Academy, para formação técnica especializada em tecnologia a partir de parcerias com universidade e institutos federais, permitindo que professores e alunos recebam treinamentos patrocinados pela empresa.

A Huawei trabalha com código aberto (open source) para o desenvolvimento de projetos estudantis, de pequenas empresas, startups e parceiros para desenvolvimento de pequenos apps até grandes sistemas. Isso permite com que os desenvolvedores locais desenvolvam soluções locais com o mais atual em inteligência artificial e nuvem.

"Colaborar com a empregabilidade é incentivar cada vez mais pessoas a seguirem esses treinamentos. É muito importante para toda indústria, para nossos clientes também, que demandam esses engenheiros, técnicos especializados". E completa: "As empresas que fazem parte do ecossistema também reinvestem. Então, um ecossistema virtuoso começa com educação e capacitação".

OS FINALISTAS DE PRÊMIO INTERNACIONAL DE TECNOLOGIA

  • Trilha Soluções em IA
    Peru – Fitopthia
    Peru – Terrapixel
    Peru – Sancato
    Argentina – Neolit
    Brasil – Plantsofthepresent (UNB e USP) - Vencedor
    Brasil – Aurora (IFCE)
  • Trilha Soluções Digitais
    Peru – Rocket
    Peru – Noodle
    México – Ecoventus
    Colômbia – Novacore
    Brasil – Geca (IFBA) - Vencedor
    Brasil – ParAIba (UFPB)

Os projetos vencedores

A equipe Geca, do Instituto Federal da Bahia, desenvolveu um sistema de monitoramento de saúde animal via Internet das Coisas (IoT), que utiliza coleiras inteligentes e módulos de ordenha conectados para acompanhar a fisiologia do gado e a qualidade do leite em tempo real, ajudando na detecção precoce da mastite bovina, uma das doenças mais custosas da pecuária leiteira, reduzindo perdas e aumentando a eficiência produtiva.

A equipe Plants of the Present, de alunos da Universidade de Brasília e Universidade de São Paulo, que planejaram uma plataforma de MRV (Monitoring, Reporting, and Verification) baseada em inteligência artificial e blockchain, voltada para projetos de crédito de carbono em reflorestamento. A solução aumenta a transparência e a credibilidade do mercado voluntário de carbono, combatendo os chamados “créditos fantasmas”.

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